Contraf-CUT cobra queda dos juros e spread em bancos públicos e privados

A Contraf-CUT considera positiva a diminuição de juros anunciada nesta semana por Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal e cobra que os demais bancos públicos e privados sigam o mesmo caminho. “Não há justificativa para explicar a prática no Brasil das maiores taxas do mundo”, afirma Carlos Cordeiro, presidente reeleito da Contraf-CUT.

BB e Caixa

O BB revelou na quarta-feira (4) um programa de ampliação do crédito e redução de juros. Os limites de crédito foram ampliados em R$ 26,8 bilhões para micro e pequenas empresas e em R$ 16,3 bilhões para as pessoas físicas. Os juros para o financiamento dos veículos, por exemplo, terão redução de 19% sobre os valores cobrados hoje. Em geral, as linhas para a aquisição de bens e serviços de consumo caíram 45%. Houve queda também nas taxas para aposentados da Previdência Social.

Nesta quinta-feira (5), a Caixa anunciou que realizará na próxima segunda-feira (9) um evento para divulgar medidas semelhantes nas suas linhas de crédito. O programa se chamará Caixa Melhor Crédito e será similar ao do BB, com diminuição das taxas para consumidores e para as pequenas e micro empresas.

Incentivo à economia

As medidas vêm em linha com o pacote de incentivo à economia, com ênfase no setor industrial, lançado nesta semana pelo governo federal. A presidente Dilma Rousseff vem criticando os altos spreads cobrados pelos bancos no País.

“Os juros cobrados pelos bancos brasileiros são abusivos e prejudicam a economia, inibindo os investimentos produtivos e travando o crescimento econômico com desenvolvimento e geração de empregos”, ressalta Cordeiro. “Já passou da hora do governo atuar no mercado financeiro, utilizando os bancos federais como indutores para aumentar a concorrência e forçar a queda dos juros e do spread”, defende.

Empréstimos e cheque especial: juros extorsivos

Pesquisa da Fundação Procon de São Paulo mostra que as taxas de juros cobradas por sete bancos consultados se mantiveram inalteradas para empréstimos pessoais em março, ante fevereiro, enquanto que para o cheque especial houve um leve aumento de 0 01 ponto porcentual.

A taxa média para empréstimo pessoal seguiu em 5,87% ao mês. Já para os juros do cheque especial subiram e a taxa média foi para 9,54% mensais.

O levantamento comparou as taxas cobradas por BB, Bradesco, Caixa, Itaú, Safra, Santander e HSBC. O Itaú é a instituição pesquisada que cobra a maior taxa para empréstimo pessoal (6,76% ao mês) e o BB, a menor (5,23%). No caso do cheque especial, a maior taxa cobrada é do Safra (12,30% ao mês), enquanto a menor fica com a Caixa (8,25%).

De acordo com o Procon-SP, o resultado da pesquisa mostra que o mercado financeiro resiste em cortar seus juros mesmo com as sucessivas quedas na taxa Selic nos últimos meses. “Apesar da redução da Selic, as taxas de juros do Brasil continuam as mais altas do mundo”, afirma a entidade.

Cartão de crédito: juros nas alturas

“O absurdo dos juros cobrados no Brasil fica ainda mais claro quando comparamos as taxas praticadas aqui e em outros países”, aponta o presidente da ContrafCUT.

Uma pesquisa divulgada em janeiro pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) mostra que a taxa do cartão de crédito no Brasil é a mais alta na comparação com cinco países da América do Sul e o México. A soma das taxas dos seis países não chega ao valor médio dos juros cobrados pelas operadoras de cartão de crédito no Brasil.

Segundo a Proteste, o brasileiro pagava no início do ano uma taxa média de juros de 237,9% ao ano. Isto é quase cinco vezes superior à da Argentina, que aparece na segunda colocação com uma taxa média de 50% ao ano. Atrás da Argentina aparece o Chile, com taxa média de 40,7%, seguido pelo Peru, com taxa de 40%, o México, com taxa de 36,2%, e a Venezuela, com taxa de 29%.

A menor taxa entre os países analisados foi a da Colômbia, com taxa média de juros de 28,5% ao ano no cartão de crédito.

“Estes dados mostram que o patamar de juros praticado aqui é uma verdadeira jabuticaba: só existe no Brasil”, ironiza Cordeiro. “Isso prejudica especialmente os consumidores e as pequenas empresas, as principais geradoras de empregos no país, que não têm acesso a linhas de crédito internacionais”, completa.

Spread bancário: abusivo

Levantamento feito pela subseção do Dieese na Contraf-CUT com base em dados do Banco Central mostra a impressionante resistência do valor médio e abusivo do spread bancário, focando pessoas físicas e jurídicas. Desde dezembro de 2004, o valor pouco variou, subindo de 26,8% na ocasião para 28,4% em fevereiro deste ano. Quem arca com o maior spread são as pessoas físicas.

Clique aqui para ver o gráfico do spread no Brasil

“Nesse período, tivemos anos de crescimento elevado e muito baixo. Enfrentamos uma crise mundial. A taxa Selic já caiu, voltou a subir e agora cai novamente. A inflação já foi um risco e agora está sob controle. E, com tudo isso, o spread se manteve praticamente no mesmo nível e até subiu”, observa indignado o presidente reeleito da Contraf-CUT. “A constante nesse processo foi uma só: a ganância dos bancos”, critica.

Conferência Nacional do Sistema Financeiro

A política de crédito e os juros praticados pelos bancos brasileiros são alguns dos temas que certamente serão discutidos na 1ª Conferência Nacional do Sistema Financeiro, cuja convocação já foi solicitada ao governo federal pela Contraf-CUT com o apoio da CUT.

“Queremos que seja feito um grande debate em todo o país, a exemplo das conferências já realizadas sobre saúde, educação, segurança pública e comunicação, a fim de que a sociedade possa discutir o sistema financeiro que temos e o que queremos, para que deixe de encher os cofres de meia dúzia de banqueiros e passe a servir aos interesses do desenvolvimento econômico e social do povo brasileiro”, conclui Cordeiro.

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