Agência Brasil
Roberto Maltchik
Copenhague (Dinamarca) – Na cerimônia de abertura da 15ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, o secretário-geral do encontro, Yvo de Boer, conclamou os líderes dos 192 países que participam dos debates a transformarem propostas em ações concretas para reduzir o impacto das mudanças climáticas sobre o planeta.
“O relógio está zerado. Chegou a hora. Temos que transformar propostas em ações”, afirmou de Boer, no rápido discurso, que encerrou a cerimônia de abertura.
O secretário-geral disse que o “bolo de Natal”, que ele espera de presente este ano, ao final das duas semanas de discussões, é dividido em três partes: a base é formada pelas ações de mitigação de emissões de gases que provocam o efeito estufa, numa clara referência aos compromissos dos países em desenvolvimento, especialmente China, Índia, Brasil e África do Sul.
A segunda parte do bolo, segundo de Boer, seria formada pelas metas dos países ricos para reduzir as emissões atuais e financiar ações dos países pobres para adaptar a economia às novas tecnologias limpas e renováveis. Já a “cereja no topo do bolo” seria um termo de cooperação entre todos os países para desenvolver ações mundial coordenadas visando a combater o aquecimento global.
A meta do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) é reduzir as emissões mundiais entre 25% e 40% até 2020, considerando o nível de emissões registrado em 1990.
O chefe do IPCC, Rajendra Pachauri, destacou o efeito imediato que o aquecimento global já exerce sobre as comunidades costeiras e sobre as populações em áreas de risco, como é o caso de milhões de habitantes de Bangladesh, um dos mais populosos países do planeta.
Ele ainda destacou a polêmica criada, há duas semanas, pela revelação de e-mails, interceptados por hackers na universidade inglesa de East Anglia, apontando para a tentativa de esconder estudos que indicariam o pequeno impacto da ação humana sobre o aquecimento da terra. “Milhares de pesquisadores independentes trabalharam duro nos últimos anos e deixaram claro o efeito dramático das mudanças climáticas”, alertou Pachauri.
Ele lembrou que todos têm responsabilidade sobre os efeitos do aumento da temperatura do planeta. “A comunidade Internacional tem responsabilidade moral e material para combater as mudanças climáticas.”
Já o primeiro-ministro da Dinamarca, Lars Rasmussen, lembrou que o mais difícil é garantir um entendimento entre os países, levando em conta o grande número de interesses econômicos em jogo ao longo das discussões.
“Ninguém aqui pode subestimar nossas diferenças, mas o esforço é para que as diferenças sejam superadas”, sugeriu na abertura da cerimônia.
Os discursos de abertura foram precedidos por uma rápida apresentação cultural e um videoclique, demostrando o impacto das mudanças climáticas sobre as próximas gerações. Mais de 20 reuniões estão marcadas neste primeiro dia de evento.
Entenda a negociação do clima
Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Entenda o que estará em jogo durante a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas que começa hoje (7) em Copenhague, na Dinamarca.
A COP-15 em Copenhague
De 7 a 18 de dezembro, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que abrange 192 países, vai se reunir em Copenhague, na Dinamarca, para a 15ª Conferência das Partes sobre o Clima, a COP-15. O objetivo é traçar um acordo global para definir o que será feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa após 2012, quando termina o primeiro período de compromisso do Protocolo de Quioto.
O Protocolo de Quioto
Assinado em 1997 e ratificado em 2005, o Protocolo de Quioto estabelece metas de redução de emissões de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos, que historicamente contribuíram mais para a concentração desses gases na atmosfera. O acordo determina a redução em 5% das emissões, em relação aos níveis de 1990. O primeiro período de compromisso do protocolo termina em 2012. A reunião de Copenhague terá que definir os próximos passos do acordo climático global.
O que está em jogo
O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), formado por 2,5 mil cientistas, afirma que a Terra já aqueceu cerca de 0,7 graus Celsius (ºC) desde a Revolução Industrial. O IPCC projetou cenários futuros que preveem o aquecimento do planeta em pelo menos 1,8°C até o fim deste século, dependendo das medidas tomadas pelos países para reduzir as emissões.
Metas x Compromissos voluntários
O Protocolo de Quioto prevê metas obrigatórias de redução de emissões de gases de efeito estufa para a União Europeia e mais 37 países industrializados. Os países em desenvolvimento, caso do Brasil, da China e Índia, não têm reduções obrigatórias. Metas obrigatórias para esses países não deverão entrar no texto que sairá da COP-15, mas essas nações serão cobradas a ter compromissos mensuráveis, reportáveis e verificáveis de redução de emissões em nível nacional.
Principais pontos da negociação
Além das novas metas e compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa para o período pós-Quioto, na COP-15 os países terão que negociar como será feita a transferência de tecnologia de países industrializados para que os países em desenvolvimento possam realizar ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. O financiamento dessas ações também não está definido. O Banco Mundial estima que sejam necessários pelo menos US$ 400 bilhões por ano para que os países em desenvolvimento enfrentem as mudanças do clima.
A preservação de florestas para evitar emissões de gases de efeito estufa deve ser incluída no acordo, no mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, o Redd. É preciso definir como os países que mantêm a floresta em pé serão recompensados: por meio de um fundo com contribuições internacionais voluntárias, com a geração de créditos de carbono negociáveis no mercado ou com um mecanismo híbrido entre fundos e mercado.