Países emergentes se unem contra ministra francesa Christine Lagarde no FMI

Reuters

Países emergentes se alinharam ontem para marcar posição contra a possibilidade de que um europeu assuma automaticamente a posição de Dominique Strauss-Kahn no comando do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Depois de o Reino Unido ter endossado, no fim de semana, a ministra das Finanças francesa, Christine Lagarde, como uma “candidata excepcional” para a diretoria-geral, as economias emergentes rechaçaram a indicação, enquanto se mobilizavam para escolher um candidato próprio.

“Ventos podres do colonialismo sopram nas ruas 19 e H, na zona noroeste de Washington [local da sede do FMI]”, disse Moises Naim, ex-diretor do conselho diretor do Banco Mundial para a Venezuela e atualmente no Fundo Carnegie pela Paz Internacional.

O conselho do FMI de países-membros, que abriu o processo formal de indicação de candidatos na segunda-feira, fixou o prazo de 30 de junho para a escolha de um sucessor. O Brasil reclamou da rapidez pouco habitual da seleção, dizendo ser preciso mais tempo.

Previa-se que o candidato potencial dos países emergentes, o presidente do Banco Central do México, Agustín Carstens, seria indicado ontem pelo ministro mexicano da Fazenda, Ernesto Cordero.

Strauss-Kahn está em prisão domiciliar em Nova York por acusação, desmentidas por ele, de tentar estuprar uma camareira de hotel. Ele renunciou ao cargo na quarta-feira. O FMI está sendo comandado pelo seu segundo funcionário mais graduado, John Lipsky, que disse querer deixar o cargo em agosto.

A impressão de que Lagarde já era uma favorita pareceu ao mesmo tempo irritar os países dos mercados emergentes e estimulá-los à ação a fim de tentar encontrar seu próprio candidato para romper os 60 anos de domínio europeu sobre o cargo.

“Fomos contatados pelo México e pela África do Sul e estamos em contato com o Brasil e outros países do Brics”, disse à agência de notícias Reuters um alto funcionário do ministério da Fazenda da Índia que pediu para não ter seu nome citado. Os Brics reúnem Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

No entanto, estava claro ontem que os países emergentes ainda não tinham chegado a um consenso em torno do nome.

O Brasil, por exemplo, preferiu não apoiar o mexicano Carstens.

“O que importa é ter um bom candidato, e não sua nacionalidade”, desconversou o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Os países emergentes de crescimento acelerado têm sido insistentemente instados a assumir um papel maior nas instituições mundiais como o Banco Mundial e o FMI – e para aumentar suas contribuições em dinheiro.

Pegos de surpresa pela renúncia de Strauss-Kahn, eles agora resistem ao “acordo de cavalheiros” que garante a liderança do FMI a um europeu e a do Banco Mundial a um americano. “Os países europeus estão amplamente super-representados no conselho”, disse a porta-voz da Oxfam Sarah Wynn-Williams. “Não é mais defensável que os europeus unjam um diretor para o FMI a portas fechadas.”

Johannes Lin, professor-visitante especializado em economia e desenvolvimento mundial da Brookings Institution de Washington, disse que um acordo entre Europa e Estados Unidos em torno de um diretor “sinalizaria, mais uma vez, que as ‘velhas potências’ não estão preparadas para aceitar a nova realidade econômica”.

“Criaria o espetáculo de os europeus e os EUA se aferrando a prerrogativas já superadas pelo tempo e cujo exercício resulta em constrangimento nacional, tal como o que vimos na esteira das crises que abalaram a liderança do Banco Mundial e do FMI”, escreveu ele.

Um dos fatores citados pelos que apoiam Lagarde é que o FMI precisa de uma pessoa imediatamente familiarizada com a situação da Europa, onde a instituição financeira mundial está ajudando a formular pacotes de salvamento para países endividados como Portugal, Irlanda e Grécia.

Mas a corretora Newedge disse que esse fator dá margem a considerações diametralmente opostas, e que Lagarde poderia ser vista como “excessivamente vinculada à crise” e, portanto, menos confiável.

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