Alex Ribeiro e Eduardo Campos
Valor Econômico
A greve dos bancários fez o que a política monetária não tinha conseguido até agora: desacelerar, ainda que temporariamente, a expansão do crédito das instituições financeiras públicas. Dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram que a carteira de crédito dos bancos oficiais cresceu apenas 0,7% em setembro, menos da metade do ritmo de agosto e menor expansão desde janeiro de 2012.
Considerando também os bancos privados, o estoque de crédito cresceu 0,8% em setembro, somando R$ 2,598 trilhões, mantendo-se estável em 55,5% do Produto Interno Bruto (PIB). A expectativa do Banco Central é que, com o fim da greve, as instituições oficiais – e também as privadas – recuperem pelo menos parte do terreno perdido. A paralisação dos bancários durou 23 dias, entre fins de setembro e meados de outubro.
As carteiras de crédito dos bancos oficiais só passariam a crescer de forma menos intensa em 2014, prevê o Banco Central, quando se espera que eles implementem a determinação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de tirar o pé do acelerador. “Isso é algo que deve ter impacto mais adiante”, disse o chefe do departamento econômico do Banco Central, Túlio Maciel.
O forte crescimento da carteira de crédito dos bancos públicos, num ritmo que chega a 26,5% nos 12 meses encerrados em setembro, vem sendo alvo de críticas de analista privados, para quem esse avanço representa um risco fiscal e um estorvo ao trabalho do Banco Central de esfriar a economia para conter a inflação.
Nos dados do BC, um dos destaques é o crescimento de 0,7% em setembro no capital de giro, que grosso modo responde por metade do crédito a empresas e tem uma dinâmica muito vinculada ao crescimento da economia. “São as empresas se preparando para atender a demanda de fim de ano”, disse.
Os bancos públicos foram particularmente mais afetados pela greve porque eles trabalham mais com crédito direcionado, como o financiamento imobiliário, que geralmente depende de apoio das agências para fechar as operações. O crédito direcionado, que vinha liderando o atual ciclo de crédito, cresceu apenas 0,6% em setembro, abaixo dos 2,3% observados no mês imediatamente anterior. A taxa de expansão do crédito imobiliário desacelerou de 2,7% para 1,4% entre agosto e setembro.
Além da greve, explicou Maciel, o crescimento mais fraco do crédito direcionado também reflete as variações da taxa de câmbio sobre a carteira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A desvalorização do dólar no mês afeta o valor em reais de créditos referenciados em moeda estrangeira. Olhando apenas o BNDES, o estoque caiu 1% no mês.
O crédito rural, porém, ficou relativamente preservado, com um forte avanço de 3,7%. Maciel disse que as contratações de operações tiveram maior normalidade no interior do país, já que a greve afetou sobretudo os grandes centros metropolitanos.
Já o crédito livre cresceu mais forte que o direcionado, com avanço de 0,9% em setembro. Em parte, foi empurrado por linhas que são contratadas automaticamente, sem a necessidade do apoio de agências e terminais de auto-atendimento, como o cheque especial (alta de 4,3% em setembro) e o crédito rotativo de cartões de crédito (avanço de 2,8%). Segundo o BC, é possível que muitos clientes tenham entrado no cheque especial porque, com as agências fechadas durante a greve, não conseguiram fazer depósitos para cobrir eventuais saldos negativos.
O maior uso do cheque especial foi um dos fatores que levaram ao aumento das taxas médias de juros cobradas pelos bancos, de 19,3% ao ano para 19,5% ao ano entre agosto e setembro, ao lado dos efeitos do ciclo de aperto monetário patrocinado pelo BC. O custo médio de captação dos bancos aumentou, de 8,6% para 8,8% ao ano, enquanto o spread médio ficou estável em 11,3 pontos percentuais.
Maciel destacou a estabilidade da inadimplência, que oscilou levemente de 3,2% para 3,3% entre agosto e setembro. Nas operações com pessoas físicas, o índice permaneceu em 4,8% em setembro, na comparação com agosto. No crédito a pessoas jurídicas, a taxa também manteve estabilidade em 2%. O aumento da inadimplência se concentrou nos bancos públicos, com alta de 1,9% para 2%, e manteve-se estável em bancos privados nacionais, em 4,6%.
No crédito livre, a inadimplência total ficou em 5,1% pelo segundo mês seguido. Quando consideradas só as pessoas físicas com recursos livres, manteve-se estável em 7%. Já no crédito direcionado houve leve alta, de 1% para 1,1% no mês passado. “Associamos essa queda a aspectos macroeconômicos, como evolução da renda e emprego, e à educação financeira”, disse.