Valor Econômico
Sergio Lamucci
O ritmo de crescimento da massa salarial ganhou força nos últimos meses, com a alta expressiva tanto do nível de emprego quanto da renda dos trabalhadores. Na média do segundo trimestre, a massa aumentou 6,7% na comparação com os mesmos meses do ano anterior, já descontada a inflação. É uma taxa bem superior aos níveis registrados no começo do ano, como a alta de 2,1% de janeiro.
Em junho, a contribuição da ocupação e da renda foi quase idêntica para o crescimento da massa salarial: a primeira avançou 3,5% sobre o mesmo mês de 2009, uma taxa expressiva, mas inferior aos 4,3% de abril e maio. No caso da renda real, houve aceleração, com alta de 2,5% em maio e 3,4% em junho, na mesma base de comparação.
Para a segunda metade do ano, as perspectivas continuam positivas, embora pareça provável alguma desaceleração da velocidade de alta da massa salarial, especialmente em decorrência de uma perda de fôlego da ocupação. Ainda assim, a massa continuará a ser uma das principais fontes de sustentação da demanda. As estimativas mais conservadoras apontam para uma expansão em 2010 entre 5% e 7% – mais que os 4% de 2009, mas inferiores aos 7,5% de 2008, sempre acima da inflação.
O mercado de trabalho teve um primeiro semestre extremamente aquecido. As empresas aceleraram o ritmo de contratações, dada a expectativa de que o país continuará a crescer a taxas razoáveis nos próximos trimestres, ainda que inferiores às dos três primeiros meses de 2010.
Nas seis principais regiões metropolitanas do país, a ocupação cresceu com mais força a partir de fevereiro, quando aumentou 3,5% em relação ao mesmo mês de 2009, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE). Em abril e maio, a alta foi de 4,3% nessa base de comparação.
Foi um período de forte crescimento do emprego com carteira assinada, com a indústria recompondo o estoque de mão de obra dispensado no pior momento da crise, diz o economista Fábio Romão, da LCA Consultores. Retrato do que se passa no mercado formal, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostra uma alta forte das contratações também na construção civil e nos serviços.
Em junho, porém, a ocupação nas seis regiões metropolitanas cresceu 3,5%, um ritmo mais fraco do que nos dois meses anteriores. Para Romão, o ímpeto de contratação na indústria e também em outros setores deverá ser menor daqui para frente, levando a uma alta mais modesta do nível de emprego. Um aumento da ocupação superior a 4% na comparação com os mesmos meses de 2009 não deve se repetir, acredita ele.
O economista Cristiano Souza, do Santander, também acredita que o aumento do nível de emprego poderá perder fôlego nos próximos meses. “Há limites para a alta da ocupação.” Os números do Caged mostram que, em junho, o saldo entre contratações e demissões foi de 213 mil postos de trabalho, abaixo dos 305,1 mil de abril e dos 298 mil de maio.
Se há um razoável consenso de que a ocupação tende a avançar a um ritmo menos exuberante, há mais controvérsia quanto ao que ocorrerá com o rendimento. Romão aposta que também aí haverá uma perda de fôlego.
Segundo ele, a atividade econômica está mais fraca do que no começo do ano, o que limita um pouco o poder de barganha dos trabalhadores, e os índices de preços deverão subir nos próximos meses na comparação com os níveis muito baixos observados em junho e julho – um movimento nada exagerado, mas que contribuirá para limitar uma parte dos ganhos de renda acima da inflação.
“Com isso, nos próximos meses, dificilmente a massa salarial real vai crescer acima de 7% em relação a igual período do ano passado”, diz Romão. Em alguns meses do primeiro semestre de 2008, a massa chegou a avançar mais de 10% acima da inflação.
Já Souza acredita que ainda há espaço para aumentos consideráveis da renda. “O salário dos novos contratatados está subindo, à medida que se esgota o estoque de trabalhadores”, afirma ele, observando que, num mercado aquecido, há trocas de emprego por conta de ofertas de trabalho por salário maior.
A economista-chefe da Rosenberg & Associados, Thaís Marzola Zara, diz que a renda tem reagido ao mercado de trabalho mais apertado, com demanda forte por mão de obra num momento de menor oferta. “Isso leva a maiores reajustes e, também, a contratações por salários mais altos. Além disso, em alguns setores, há escassez de mão-de-obra qualificada.”
Romão projeta uma alta de 5,3% da massa salarial em 2010, resultado da combinação de crescimento de 3,1% da ocupação e de 2,1% do rendimento. Nas contas de Romão, a ocupação cresce mais na média do ano do que a renda em grande parte por causa da taxa de expansão mais forte registrada no primeiro semestre. Enquanto o nível de emprego subiu 3,2% de janeiro a junho, a alta do rendimento foi de 1,7% no período.
Em 2009, o grande responsável pela alta de 4% da massa salarial foi a renda real, que subiu 3,2%, enquanto a ocupação avançou 0,7%. Em 2008, um ano de forte crescimento econômico, os dois tiveram uma expansão similar, de 3,4%.
Os economistas do Credit Suisse têm uma previsão de 3,5% para a expansão da renda em 2010, mais que o 1,7% do primeiro semestre deste ano, mas inferior ao aumento médio de 3,6% entre 2006 e 2008.
O banco aposta que a velocidade de expansão “continuará a ser mais significativa para os trabalhadores com menor escolaridade, cenário que não corrobora uma avaliação de escassez de mão de obra mais qualificada no país”. Para a massa salarial, o Credit Suisse projeta alta neste ano de 7,1%, já descontada a inflação, com alta de 3,6% para a ocupação.