Acionistas do UBS responsabilizam ex-diretores pelas perdas sofridas em 2007

Valor Econômico
Assis Moreira, de Basileia

O vetusto ginásio de St. Jakobs explodiu em aplausos como se testemunhasse um gol, ontem à noite, quando os 4.700 acionistas do UBS presentes a assembleia geral viram na tela que a maioria de 53% votou contra dar absolvição a ex-dirigentes para o ano de 2007 pelas gigantescas perdas sofridas pelo banco.

Num gesto histórico e de enorme frustração e revolta, grupos de acionistas abriram o caminho para que antigos dirigentes, a começar pelo ex-presidente Marcel Ospel, sejam acusados na Justiça por prejuízos que chegaram a US$ 50 bilhões e quase provocaram a falência do banco que é o maior gestor de fortunas do planeta.

O resultado foi ainda mais significativo em meio a constantes advertências da atual diretoria, de que o banco corria o risco de enfrentar um longo e custo processo, causando mais dificuldades para recuperar a a combalida já reputação da instituição.

‘Discharging´ diretores é uma formalidade a cada ano e significa que, com sua aprovação, a companhia e os acionistas que a votam não têm mais a opção de abrir processos contra eles, a menos que novas informações sejam reveladas.

Diante dos aplausos entusiasmados, Kaspar Villiger, presidente do Conselho de Administração, nem esperou o secretário anunciar o resultado e informou que qualquer acionista dispõe de cinco anos para abrir um processo contra os antigos dirigentes.

Os atuais diretores do UBS receberam sinal verde pela atuação do ano passado, mas antes disso foram humilhados por dezenas de acionistas durante toda a assembleia que durou das 10h30 até as 19h, com apenas trinta minutos de pausa, nos arredores de Basileia.

A diretoria recebeu outra séria advertência quando quase 40% dos acionistas rejeitaram o plano de remuneração para seus executivos. A maioria usou termos como “roubo, indecente, imoral, nojento e vergonhoso” para os bônus milionários pagos por um banco que perdeu US 2,7 bilhões no ano passado e que só não quebrou graças ao socorro do governo. Um velhinho, já não tendo do que reclamar, disparou em direção dos diretores: “E o banheiro aqui do subsolo, porque não está funcionando?”

Em meio ao bombardeio de críticas, Kaspar Villiger disse saber a que “ponto decepcionou o povo suíço”. Mas defendeu o pagamento dos bônus milionários, alegando que a diminuição deles nos anos anteriores foi tão rigorosa que provocou o êxodo de equipes inteiras de conselheiros financeiros, com seus clientes e os lucros. No ano passado, o UBS teve que pagar um adicional para cerca de “mil talentos”.

O principal executivo do banco, Oswald Gruebel, declarou que o UBS é hoje outro banco, sob o olhar reprovador de acionistas, que apontavam “nova embalagem mas mesma substância”. Disse que os fundos próprios de base chegam a 15,4%. E que a saída líquida de capital, que alcançou US$ 370 bilhões em 2008-2009, começa a diminuir.

O UBS reduziu riscos e o o balanço declinou mais de 30%. Os ativos que gere alcançam US$ 2,2 trilhões, o mesmo nível de 2008, e mantém-se como o maior gestor de fortuna do mundo. Gruebel disse que a prioridade é expandir a atividade local na Europa e na Ásia, e não mencionou uma única vez a América Latina. O plano para o banco de investimentos é ter negócio com importantes volumes de produtos muito líquido, simples e não estruturados por conta dos clientes. Essa orientação permite gerar rendimentos sem aumentar o balanço, segundo ele.

Diretores e acionistas concordaram num ponto: a reputação do UBS demorará anos a se recuperar. Villger revelou que a diretoria chegou a cogitar a possibilidade de trocar o nome da instituição, mas uma mudança custaria dinheiro demais. Além disso, uma nova marca global levaria anos para ser estabelecida.

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