O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta terça-feira, dia 27, do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, a exemplo das edições anteriores na capital gaúcha. Em discurso no Ginásio Gigantinho, ele pediu aos movimentos sociais que ajudem na reconstrução do país atingido por um terremoto no dia 12. Lula informou que visitará o Haiti no dia 25 de fevereiro.
Lula criticou as invasões de franceses e norte-americanos no Haiti desde a independência em 1804. Ele disse que o “mundo desenvolvido” era responsável pela miséria do país. Também criticou os países desenvolvidos que não repassaram os “bilhões de dólares” prometidos ao Haiti antes do terremoto.
“O dado concreto é que esse terremoto mexe com a vergonha dos seres humanos que governam o mundo”, disse. Ele ainda aproveitou para elogiar a atuação dos militares brasileiros na força de paz da ONU que está no Haiti.
O presidente também sugeriu que as organizações que participam do FSM tomassem a decisão de declarar um ano de solidariedade entre todos seus participantes, no período compreendido entre as edições do evento, pela reconstrução do Haiti. O presidente calculou que, dentro de possivelmente 30 dias, será instalada no Haiti uma unidade de pronto-atendimento.
Lula indicou que a sugestão ao fórum seria uma maneira de aproveitar a participação das organizações envolvidas no evento para extrair propostas concretas. “Não tem nada pior que terminar uma reunião com esta, fantasticamente representativa, com aquilo que tem de melhor nos movimentos sociais, com um catatau que a gente coloca na mesinha de cabeceira ou na gaveta da sala e termina não produzindo os efeitos das coisas boas que vocês cultivaram num fórum como esse”, disse.
Novos projetos
O presidente disse que vai enviar em março ao Congresso as proposta do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC 2) “para fazer as coisas que faltam neste país”. Lula disse que quer votar os recursos do PAC 2 ainda este ano para que o governo possa começar a gastar já em 2011.
“Em 2011 estarei aqui como ex-presidente, mas tenho certeza que lá no Planalto estará uma pessoa com o mesmo compromisso e talvez até mais capacidade do que eu”, disse. Lula também prometeu enviar ao Congresso ainda em 2010 a proposta de criação de uma “CLT das políticas sociais”. Segundo ele, a medida tem o objetivo de garantir as conquistas sociais promovidas pelo governo.
“A gente ganha duas orelhas e uma boca, mas o desgraçado do político acha que tem três bocas, eles não gostam de ouvir”, comparou Lula.
Em 50 minutos de discurso, o presidente citou Dilma duas vezes. Quando falou da recente Conferência do Clima de Copenhague, perguntou à ministra quanto o país gastaria para honrar seus compromissos ambientais. “Quanto mesmo, Dilminha? US$ 16 bilhões?”.
Ao longo do discurso, Lula foi interrompido várias vezes pelos presentes aos gritos de “Lula, guerreiro do povo brasileiro”.
O coordenador de organização do FSM, Cândido Grzybowsky, justificou a participação de Lula. “Convidamos o presidente para que tenhamos um diálogo com as organização e movimentos que constroem o Fórum. Hoje o nosso desafio é mostrar concretamente que um outro mundo é mesmo possível”.
Dilma também foi citada pelo presidente da CUT, Artur da Silva Santos, que fazia parte da mesa, como “responsável por aprofundar as mudanças necessárias a este país”. “O neoliberalismo não está morto e a direita também não morreu”, alertou.
Davos
Lula também criticou o encontro de países desenvolvidos que acontece todo ano em Davos, na Suíça, para onde ele segue na quinta-feira. “Davos já não tem o mesmo glamour, o sistema financeiro não pode mais desfilar como modelo porque acabou de provocar a maior crise das últimas décadas. Mas vou lá para dizer humildemente que a crise aqui foi mesmo uma marolinha”, ironizou.
“Vou com orgulho para dizer que é possível mudar a história. Vou dizer que temos a maior política de inclusão social neste país. É possível um outro Brasil, uma outra América Latina”, frisou.