Valor Econômico
Maria Christina Carvalho, de São Paulo
A fusão do Itaú com o Unibanco sancionou a estratégia de crescimento por aquisições, que o Banco do Brasil (BB) já vinha desenvolvendo, afirmou, ontem, o presidente do banco, Antonio Francisco Lima Neto, ao divulgar os resultados do terceiro trimestre.
Lima Neto lembrou que, há dois anos, o BB defende o crescimento também por aquisições, como fazem os bancos privados. Segundo ele, era uma “desvantagem” competitiva não poder fazer aquisições. “Um banco do porte do BB tem que ter a alternativa de crescer com aquisições. Estávamos vivendo um paradoxo: éramos o maior banco da América Latina, bem gerido, e não podíamos fazer aquisições, e estávamos condenados a crescer apenas orgânicamente. O interesse em fazer aquisições é anterior à crise”, afirmou.
Para ele, um banco como o BB tem que ser grande, crescer, seja orgânicamente ou por aquisições, e “não pode ficar estagnado” se não corre o risco de virar um banco médio. A fusão do Itaú e do Unibanco estabeleceu “um novo padrão e o BB tem que estar no padrão”.
As primeiras investidas foram em direção aos bancos estaduais federalizados, o Besc, já incluído no balanço do terceiro trimestre; e o Banco do Estado do Piauí (BEP), cuja incorporação foi aprovada nesta semana pelos conselhos de administração das duas instituições.
O presidente do BB afirmou que o banco está buscando fazer aquisições não porque seja “uma questão de honra recuperar a liderança” ou porque o governo – o “acionista majoritário” – esteja fazendo pressão para isso”. Prova disso é que o banco não está disposto a fazer qualquer operação ou negócio que “destrua o valor” da instituição, mas sim buscar negócios que agreguem valor, como a entrada em “determinados nichos e regiões geográficas”.
Não por acaso as principais tacadas agora na mesa são a compra da Nossa Caixa e de uma fatia de 49% do Banco Votorantim, negócios cuja concretização é esperada para os próximos dias.
Lima Neto apenas afirmou que a negociação para a compra da Nossa Caixa “não está concluída” e “nem o preço está fechado”.
Já o presidente da Nossa Caixa, Milton Luiz de Mello Santos, disse ontem esperar a conclusão do negócio em um prazo “bem mais rápido” após a aprovação da MP 443 anteontem pela Câmara dos Deputados. Segundo ele, não há prazo definido para o fim das conversas, que estão evoluindo. “Esperamos que possa ocorrer no prazo mais rápido possível”.
O presidente do BB afirmou que a Nossa Caixa permite ao banco ganhar espaço em São Paulo, Estado que concentra 35% das operações de crédito do país. Ele disse que o banco “não podia continuar em quarto lugar” em rede de distribuição em São Paulo. O BB foi ficando para trás depois que o Santander comprou o Banespa e mais recentemente o Real; e agora foi ultrapassado também pela fusão da rede do Itaú com a do Unibanco. “A Nossa Caixa é um ativo importante na nossa estratégia de crescimento. Para ser líder no país tem que ser líder em São Paulo”, afirmou, praticamente repetindo o que o presidente do conselho do espanhol Santander, Emilio Botín, disse recentemente.
Por outro lado, o BB, disse Santos, dará a Nossa Caixa uma “capacidade extraordinária” de expandir o crédito com o clientes de pessoas física e jurídica. O banco paulista tem se focado em aumentar os empréstimos para empresas. Acaba de abrir sua primeira agência para o segmento corporate em São Paulo e vai abrir mais outra em Ribeirão Preto. Segundo Santos, os recursos emprestados às empresas (R$ 2,9 bilhões) ainda são muito pequenos comparados aos ativos do banco (R$ 53,4 bilhões).
O presidente da Nossa Caixa disse que, com o BB, o banco também tem condição de aumentar sua presença junto aos servidores, pelo próprio alcance do BB. O banco paulista tem 5,7 milhões de clientes, dos quais 1,1 milhão são servidores estaduais. Por mês, esses funcionários recebem R$ 2,4 bilhões.
Outro alvo do BB é ganhar espaço em determinados nichos e o principal deles é o financiamento de veículos, que já cresceu bastante orgânicamente e ganhará impulso com o Votorantim.
O BB também está crescendo bem orgânicamente. O banco divulgou ontem um lucro líquido contábil de R$ 1,867 bilhões no terceiro trimestre, acumulando R$ 5,859 bilhões em nove meses, resultado 52,5% superior ao de igual período de 2007. O lucro líquido recorrente foi de R$ 2,037 bilhões, acumulando R$ 5,059 bilhões em nove meses, desconsiderando efeitos extraordinários positivos de R$ 127 milhões referentes a planos econômicos e R$ 238 milhões de passivos contingentes do Besc e negativo de R$ 194 milhões de crédito tributário também do Besc.
A carteira de crédito cresceu 6,4% no terceiro trimestre e 34,6% em doze meses para atingir R$ 202,2 bilhões em setembro; incluindo avais e fianças, chegou a R$ 214,5 bilhões. Assim, o BB passou a ter uma fatia de 16,5% do mercado de crédito.
Cresceram bem tanto as operações com pessoas físicas quanto com pessoas jurídicas. O Financiamento ao consumo saltou 45,5% levando a carteira de pessoa física a R$ 42,9 bilhões, incluindo a carteira do Besc. Um destaque é o consignado, que cresceu 32% em doze meses para R$ 14,5 bilhões. O financiamento de veículos decolou, crescendo 151,7% em doze meses para R$ 5,6 bilhões em setembro. A carteira de pessoa jurídica não ficou atrás, aumentando 9,1% no terceiro trimestre e 43% em doze meses, para R$ 85 bilhões.
Apesar do forte aumento do crédito, a inadimplência vem recuando. O índice de operações vencidas há mais de 90 dias ficou em 2,2% da carteira total em comparação com 2,5% no trimestre anterior.