Bancários recordam Antônio Carlos Vilela, ex-diretor do Sindicato do Rio

No ato de protesto realizado na última sexta-feira, dia 19, em frente à torre do Banespa, em São Paulo, que lembrou os 10 anos de privatização do banco paulista, também teve espaço para homenagear um dos personagens inesquecíveis da luta contra a venda do banco.

“10 anos sem Antônio Carlos Vilela, liderança na luta contra a privatização” foram os dizeres da faixa que homenageou o banespiano que liderou o movimento de resistência na tentativa de impedir que o Banespa fosse privatizado. Menos de um mês após a realização do leilão, o coração do combativo banespiano não resistiu.

Durante o evento, diversas pessoas recordaram a importância de Vilela não só nessa luta, mas na delimitação do papel do dirigente sindical.

Relembre a história de Antônio Carlos Vilela

Paulista de Taubaté, Antônio Carlos Vilela (na foto ele é o que está com o microfone na mão, durante passeata realizada na capital carioca no dia do leilão) adotou o Rio de Janeiro como cidade e o Fluminense como time, sendo um dos fundadores do PT e da Articulação Bancária.

Foi grande defensor da filiação do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro à CUT, ocorrida em 1986. Lutou também pela criação da Confederação Nacional dos Bancários (CNB), fundada em 1992, que atualmente é a Contraf. Foi eleito secretário-geral do sindicato na gestão 1991/94 e reeleito para as gestões 1994/97 e 1997/2000.

Conhecido por sua conduta irrepreensível como sindicalista, Vilela era o líder maior dos banespianos no Rio de Janeiro. “O que ele falava, as pessoas acatavam”, lembra Ana Elias, banespiana aposentada, amiga e companheira de luta de Vilela. Mas a sua liderança não estava exclusivamente ligada aos funcionários do Banespa. Ele fez escola no movimento sindical carioca.

“Vilela era uma unanimidade”, conta o diretor do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Renato Lima. “Ele era um cara especial, surpreendente, solidário com as pessoas”, lembra o dirigente, que completa: “Vilela foi um dos responsáveis por mudar a rota do sindicalismo bancário no Rio, por isto, e por seu perfil humano, ele era extremamente respeitado”.

Hoje, a sala da Secretaria-Geral do Sindicato do Rio leva seu nome. Na placa em sua homenagem lê-se: “Vilela era respeitado por todos por seu equilíbrio e capacidade de formulação política, sempre solidário e dedicado às lutas dos trabalhadores, firme e obstinado, mas sem perder a ternura, jamais”.

Último ato

No dia 7 de novembro de 2000, a Folha de S.Paulo informava que o Banespa seria vendido no dia de Zumbi dos Palmares. Na época, a data já era feriado no Rio de Janeiro, local o­nde seria realizado o leilão.

Procurado pelo jornal, Vilela nem quis comentar o fato: “Tenho certeza que o leilão será adiado”, afirmou confiante, garantindo que os sindicalistas não planejavam protestos para o dia porque, na sua avaliação, o banco não seria privatizado.

Infelizmente não foi o que aconteceu. 14 dias depois, funcionários da ativa e aposentados do banco, se reuniram diante da principal agência carioca do Banespa, localizada na Candelária (Centro). Liderados por Vilela, os banespianos seguiram em passeata até a Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, que fica próxima à Bolsa de Valores.

Durante todo o trajeto, em companhia da polícia, os manifestantes ouviam orientações: “Se houver violência, que seja do lado deles, não do nosso. Não vamos aceitar provocações”, pedia o dirigente sindical.

“Privatização matou o Vilela”

O sindicalista sucumbiu ao cansaço e à decepção de ver o banco ser entregue, menos de um mês depois, para o espanhol Santander. Nos dias que se seguiram, o comentário entre os colegas era que “a privatização havia matado Vilela”. O que não deixa de ser verdade.

De acordo com a banespiana aposentada Ana Elias, amiga e companheira de luta do sindicalista, todo o processo foi muito desgastante para ele, o que realmente pode ter causado o infarto.

Ela conta que Vilela não esmoreceu em momento algum desde que a ameaça da privatização começou a atormentar a vida dos funcionários do banco: estava sempre presente nas manifestações, participava das assembléias em São Paulo, fazia reuniões nos locais de trabalho, conversava com parlamentares. “Ele já estava aposentado, mas não usufruiu desta condição porque em nenhum instante deixou de lutar”, comenta Ana.

Por toda a garra e pelo perfil humanista demonstrado durante toda a sua vida, Vilela é, sem dúvida, um personagem inesquecível do movimento sindical e, em especial, na luta contra a privatização do Banespa.

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