O Estado de São Paulo
Fernando Nakagawa e Marina Guimarães, BRASÍLIA e BUENOS AIRES
O Banco do Brasil prepara sua primeira grande incursão internacional e negocia a compra de parte do argentino Banco Patagônia. Duas fontes próximas às negociações afirmaram à Agência Estado que executivos e advogados das duas instituições conversam há vários meses. Classificado como “aliança estratégica”, o negócio pode ser o primeiro passo do ambicioso plano do governo brasileiro de transformar o BB em banco internacional.
Representantes do BB começaram a avaliar a saúde financeira do Banco Patagônia em julho, em um processo conhecido como “due dilligence”. Desde então, executivos e advogados brasileiros são vistos com frequência na sede do banco argentino, no centro de Buenos Aires. A visita dos brasileiros foi notada pelos funcionários e noticiada na imprensa local.
Em Buenos Aires, as negociações foram confirmadas por um executivo que esteve reunido na semana passada com o presidente do Patagônia, Jorge Stuart Milne. “O que está assegurada é a assinatura de uma aliança estratégica entre os bancos”, afirmou. Em Brasília, o BB não confirma oficialmente as conversas, mas uma fonte afirmou que as duas instituições tentam encontrar um modelo para o negócio. Atualmente, as conversas têm girado sobretudo em torno da legislação societária argentina.
As reuniões mostram que, se fechado, o negócio não precisa necessariamente usar o modelo adotado na compra do Votorantim, em que o banco estatal ficou com 49,99% do capital. Diferentemente das aquisições do BB no Brasil, o negócio no exterior não esbarra no problema de a compra transformar o banco alvo do negócio em estatal. Isso porque, por ser estrangeiro, o BB é tratado legalmente como empresa privada em outros países.
Em agosto, uma fonte do Banco Central argentino havia confirmado à Agência Estado conversas entre o presidente da autoridade monetária, Martín Redrado, e o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, sobre o interesse do BB em ampliar negócios no país.
Na mesa de negociação, estão, principalmente, as ações da família Stuart Milne. Nas mãos dos irmãos Jorge e Ricardo estão 49,94% dos papéis. A terceira maior parte das ações são, curiosamente, listadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) desde 2007.
Ao decidir fazer oferta inicial de ações (IPO na sigla em inglês), os sócios optaram pelo mercado paulista por ter maior liquidez que a bolsa portenha. Assim, o Patagônia se transformou na primeira companhia estrangeira sem operação no Brasil a ter suas ações listadas na Bovespa.
Não é a primeira vez que surgem rumores sobre a venda do Patagônia. Antes, o candidato era outro brasileiro: o Itaú, banco que já tem presença no mercado argentino desde a compra do Buen Ayre, em 1998.