Valor Econômico
Assis Moreira, de Genebra
Equipes com 150 funcionários alemães no total ocuparam ontem as 13 agências do Credit Suisse na Alemanha, numa investigação sem precedentes envolvendo suspeitas de que empregados deste que é um dos maiores bancos da Europa teriam ajudado clientes a sonegar impostos.
A operação, que começou às 10h de ontem e pode durar até hoje cedo, é comandada pelo procurador-geral de Düsseldorf, Dirk Negenborn, com base em informações recolhidas num CD roubado do banco suíço e comprado em março pelo Estado da Renânia do Norte-Vestfália, por ? 2,5 milhões.
As autoridades alemãs afirmaram inicialmente que os dados mostravam que ? 1,2 bilhão teriam sido sonegados do fisco alemão e encontrado refúgio nos cofres de bancos helvéticos, sob a cobertura do segredo bancário.
Além de informações sobre 1.100 clientes que teriam dissimulado suas fortunas, o CD roubado teria informações que alimentam a suspeita de cumplicidade de empregados do banco na prática de evasão fiscal dos alemães.
Uma apresentação “powerpoint” do setor de banco privado do Credit Suisse, datado de 4 de maio, é interpretada como indicação de que o banco teria preparado funcionários para deliberadamente buscar clientes para escapar do fisco.
Segundo informações vazadas na imprensa alemã, os funcionários deveriam argumentar com potenciais novos clientes sobre o segredo bancário, descrição do setor bancário suíço e formas de dissimular certas transações. Um dos conselhos era de abrir duas contas, mas comunicar apenas uma ao fisco.
Estudo da empresa financeira Helvea estima que 84% das fortunas de cidadãos europeus depositadas em bancos suíços não seriam declaradas às autoridades fiscais de seus países de origem. O montante da evasão fiscal alcança US$ 725 bilhões, do total de US$ 862 bilhões de depósitos europeus nos cofres helvéticos, cifra ainda mais importante considerando o estado calamitoso das finanças públicas atualmente.
Os maiores montantes da evasão fiscal são originários da Alemanha, Itália e França, os países que mais pressionam a Suíça a dar informações sobre contas de seus cidadãos em bancos helvéticos. Os alemães teriam US$ 193 bilhões de dinheiro não declarado nos bancos suíços e outros US$ 87 bilhões declarados.
O Credit Suisse disse ontem que estava trabalhando com as autoridades alemãs, mas não fez outros comentários sobre a operação sem precedentes, que tende a assustar mais clientes alemães. Nas últimas semanas, vários clientes tomaram a iniciativa de se confessar ao fisco, pagar pesadas multas e regularizar sua situação. Desde o fim de 2008, quem sonega mais de ? 1 milhão corre risco de pena de dois anos de prisão, a menos que se denuncie antes de ser pego.
Suíça e Alemanha assinaram em março uma convenção de dupla imposição, mas faltam detalhes a serem negociados. Os alemães deixam claro que querem recuperar dinheiro sonegado, ainda mais no meio da crise econômica atual.
A Alemanha já comprou dois fichários roubados de bancos estrangeiros, nos últimos tempos. O outro caso envolveu dados do LGT Trust, o maior banco do principado de Liechtenstein, vizinho da Suíça. Uma das vítimas foi o então presidente dos correios alemães, Klaus Zumwinkel, que tinha dinheiro sonegado.
Um diretor do Credit Suisse contou recentemente ao Valor que está cada vez mais difícil enviar funcionários em busca de clientes no exterior e eles têm que se submeter a uma série de preparações, incluindo sobre a legislação do país, para evitar problemas de acusações de cumplicidade de evasão fiscal.
Para analistas, a campanha dos governos contra os fraudadores na União Europeia deve desmontar cada vez mais o modelo de bancos habituados com dinheiro da evasão fiscal.