Financial Times
Victor Mallet, de Madrid
José Luis Rodríguez Zapatero, o primeiro-ministro socialista da Espanha, comprometeu seu governo com um vigoroso programa de reformas econômica e previu que um retorno ao crescimento, de em média 2% a 2,25% nos próximos cinco anos.
Com a expectativa de economistas e banqueiros europeus de que o vizinho Portugal sucumba em algumas semanas à crise da dívida da zona do euro e tenha de aceitar um pacote de socorro similar ao que já foi acertado para a Grécia e a Irlanda, a Espanha quer se contrapor à impressão de que o país é inevitavelmente o próximo a ser socorrido.
Ao apresentar um relatório oficial sobre a economia espanhola em 2010, Zapatero disse ontem que o governo cumpriria “com margem de manobra” a sua promessa de cortar o déficit orçamentário para 9,3% do PIB no ano passado, abaixo dos 11,1% de 2009. Ele também reiterou o “firme propósito” do governo de cortar ainda mais o déficit, para 6% do PIB este ano.
Assim como seu amigo e aliado José Sócrates, o primeiro-ministro socialista de Portugal, Zapatero tem vista a sua popularidade ser minada pela crise econômica e pela série de medidas de austeridade adotadas, cujo objetivo é convencer os mercados de que as finanças públicas estão sob controle.
Diferentemente de Sócrates, porém, Zapatero não está imediatamente vulnerável no Parlamento e parece ter assegurado os votos necessários, de pequenos partidos regionais, para continuar no governo até as próximas eleições, previstas para 2012.
Zapatero admitiu que a economia espanhola perdeu dois milhões de empregos em nos últimos três anos – 60% deles no setor de construção civil, que vivia um boom antes da crise. Mas disse que o governo vai insistir nas reformas para tornar a Espanha mais competitiva e para reestruturar as encrencadas “cajas”, caixas de poupança regionais.
“Com esta série de medidas, iniciativas e reformas que estamos pondo em marcha, queremos assegurar não só que superaremos a crise, como também fazer as mudanças necessárias para que nosso país esteja bem posicionado neste mundo cada vez mais exigente e competitivo em que vivemos”, disse Zapatero.
As reformas, afirmou, vão permitir à Espanha crescer perto de sua taxa potencial, com expansão média anual de 2% a 2,25% entre agora e 2015.
“Se Portugal cair, a Espanha será a próxima”, disse ontem um banqueiro de Madri. “Achamos que Portugal vai sucumbir em duas a três semanas. Então, a Espanha terá algum tempo para mostrar que essas coisas [as reformas] estão realmente funcionando. Terá uns três, quatro, cinco meses no máximo.”
Na quinta, a Espanha pretende levantar de 2 a 3 bilhões de euros com a venda de títulos soberanos com vencimento em cinco anos, que darão início a um período pesado de emissão de dívida.
Os prêmios que a Espanha paga por esses empréstimos têm subido fortemente nos últimos meses, assim como o spread pago pela Espanha em relação aos títulos de referência da Alemanha, que são considerados os mais seguros pelos investidores no mercado de títulos europeu.