Apesar de estarem vislumbrando um cenário mais sombrio neste ano para a expansão do crédito no país, os bancos estão ganhando mais com empréstimos fechados.
Em alta desde janeiro, o spread bancário – diferença entre os custos de captação de recursos das instituições financeiras e os juros cobrados dos tomadores finais – subiu de 12,5 pontos percentuais para 12,9 pontos percentuais entre abril e maio, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) ontem. No acumulado do ano, a alta é de 1,8 ponto percentual.
Os números do BC mostraram novo aumento nos juros médios cobrados pelos bancos, de 21,1% ao ano para 21,4% ao ano, entre abril e maio. Em abril do ano passado, quando o BC iniciou um ciclo de aperto monetário que acumulou 3,75 pontos percentuais, os juros médios cobrados pelos bancos nas suas operações de crédito estavam em 18,5% ao ano.
“A alta dos juros bancários era uma repercussão esperada, já que o crédito é um dos canais de transmissão da política monetária”, disse Túlio Maciel, do departamento econômico do BC.
Não é só por meio da alta dos juros das operações de crédito que os bancos estão conseguindo obter spreads maiores. Mesmo em menor proporção, a queda do custo de captação trouxe impacto positivo para as instituições financeiras. No ano, a retração é de 0,1 ponto percentual, para 8,5% em maio.
Para o BTG Pactual, o aumento de 0,4 ponto percentual dos spreads foi a boa notícia para os bancos nos dados divulgados ontem. “Entretanto, apesar dos spreads melhores para a nova originação [de crédito], as principais linhas dos bancos ainda devem sentir pressão”. Isso porque as instituições têm dado preferência aos “melhores” clientes, intensificando a concorrência e erodindo as margens médias.
“Os bancos indicaram que a competição das instituições públicas se retraiu e que os preços dos empréstimos começaram a ser ajustados para cima”, escreveu Philip Finch, estrategista do UBS, em nota a clientes. “Na nossa visão, estamos próximos de ver uma restauração no poder de definição de preços dos bancos brasileiros, pela primeira vez em pelo menos quatro anos.”
Por conta do spread maior, o analista Carlos Daltozo, da BB Investimentos, não projeta que os resultados dos bancos venham a sofrer mesmo com mudanças nas projeções de crescimento do crédito, algo esperado por ele.
O analista da Brasil Plural Eduardo Nishio, no entanto, ressalta que essa compensação por meio do spread só se sustenta em um cenário de inadimplência baixa. “Enquanto não há uma piora relevante da inadimplência, esse aumento do spread consegue compensar. Neste ano os bancos ainda estão melhorando a rentabilidade, mas para o ano que vem eu acho que será mais difícil, porque haverá uma piora no cenário de inadimplência”, afirma Nishio.
(Colaborou Fabiana Lopes)