Dilma e empresários vão à China levar uma coleção de reclamações

Folha de São Paulo
Clóvis Rossi

A presidente Dilma Rousseff chega à China no dia 11, no que Maria Edileuza Fontenele Reis, subsecretária-geral de Política no Itamaraty, classifica de “primeira visita de peso ao exterior”. É verdade, mas está longe de significar apenas a pompa e os salamaleques associados a ocasiões do gênero.

Ao contrário. Dilma leva uma ampla comitiva de cerca de 300 empresários, que aproveitarão a ocasião para despejar as muitas queixas acumuladas contra a China.

Queixas que levaram Cynthia Arnson e Jeffrey Davidow, do Woodrow Wilson Center, a dizer, sobre as relações China/América Latina, que “os padrões de comércio se assemelham aos dos séculos 16 e 17” -isto é, ao período colonial.

Ou seja, a China importa matérias-primas, discrimina produtos de maior valor agregado e exporta bens industriais como peças para turbinas e eletroeletrônicos.

O grande exemplo de discriminação é o da Embraer, que se instalou na China em 2003, para fabricar o seu 145, avião para 50 passageiros. Queria produzir 50 unidades, mas só fez 16 porque o governo chinês disse que não era economicamente viável.

A Embraer pediu autorização, então, para fabricar um aparelho maior, mas ainda não houve resposta chinesa, passados quase quatro anos.

Esse exemplo é esgrimido frequentemente pela indústria brasileira para rechaçar a qualificação de “economia de mercado” que o governo prometeu outorgar à China, em 2004, o que inibiria ações de defesa comercial.

“É muito difícil distinguir em uma empresa o que é privado e o que é público na China. E não há preços definidos pelo mercado”, reclama Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

Os chineses, de seu lado, queixam-se sempre de que o Brasil não cumpriu a promessa de tratar a China como “economia de mercado”.
O Itamaraty alega que, para fazê-lo, é preciso uma regulamentação do Ministério de Desenvolvimento.

Como parece pouco razoável imaginar que uma mera regulamentação leve sete anos para ser adotada, o lógico é supor que o governo está respaldando discretamente a reclamação empresarial -sensação reforçada pela nutrida comitiva que acompanhará a presidente.
Comitiva que levará números sobre os danos à indústria brasileira causados pela concorrência chinesa.

Estudo da Fiesp mostra que, entre 2000 e 2009, o Brasil teve pesadas perdas nos dois maiores mercados do mundo: US$ 9,3 bilhões nos EUA e US$ 7,3 bilhões na União Europeia, além de US$ 1,6 bilhão no parceiro político prioritário, a Argentina.

O estudo diz também que a competição chinesa resultou em perda de US$ 15,2 bilhões aos produtores brasileiros.

Mesmo assim, a visita de Dilma não terá necessariamente um caráter conflitivo, até porque “não dá para deixar a China de lado”, como reconhece pragmaticamente a diplomata Maria Edileuza.

De fato, não dá. Basta citar o exponencial aumento da corrente de comércio: de US$ 2 bilhões em 2000 para os US$ 56 bilhões de 2010.
E o Brasil, com todas as queixas, leva vantagem: teve um saldo de US$ 5,2 bilhões.

Os números, os bons e os ruins, dão razão à embaixadora quando diz que “a relação Brasil/China será marcada pelo binômio competição/cooperação”.

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