Valor Econômico
Vanessa Adachi, de São Paulo
O interesse de um grupo de investidores brasileiros mudou o destino de um pequeno banco regional americano, que poderia ter engrossado a gigantesca lista de instituições financeiras que fecharam as portas na severa crise bancária do país. Do início do ano passado até agora, 180 bancos comerciais já quebraram nos Estados Unidos e as previsões indicam o fechamento de centenas de outros nos próximos meses.
No fim do ano passado, o Community Bank of Manatee, com apenas cinco agências na região da baía de Tampa, no estado da Flórida, recebeu dos sócios da Artesia Gestão de Recursos uma injeção de capital de US$ 11,5 milhões. Com isso, o grupo assumiu o controle da instituição, com participação acionária de cerca de 60%.
Outros US$ 3,5 milhões foram aportados pelos antigos acionistas – cerca de 500 membros da comunidade local. Na última quinta, o banco anunciou nova injeção de capital pelos sócios, no valor de US$ 4,7 milhões, com intenção de atender a demanda por novos empréstimos de pequenas e médias empresas e de pessoas, para comprar imóveis ou refinanciar suas casas.
Segundo informações divulgadas nos Estados Unidos, com o primeiro aumento de capital, de US$ 15 milhões, a instituição, que estava em dificuldades financeiras depois de registrar perdas em empréstimos imobiliários e havia paralisado as operações de crédito, pode se adequar à categoria de bancos “bem capitalizados”, o mais elevado nível na escala de requerimento de capital da Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), agência governamental americana que garante os depósitos dos correntistas no país. Os sócios da Artesia não quiseram comentar o negócio.
A operação foi aprovada pelo Federal Reserve Board, o banco central americano, em novembro, e o investimento foi anunciado em dezembro, mas o negócio havia passado despercebido no Brasil. Nos EUA, foi amplamente noticiada pela imprensa local, já que representou um desfecho diferente para uma história que se repetiu dezenas de vezes no país nos últimos meses, quase sempre levando à quebra de instituições.
A Artesia, que só gere recursos dos próprios sócios, foi fundada em 2003 pelos brasileiros Marcelo Lima e Márcio Camargo, ex-executivos do antigo Banco Garantia. Mais tarde juntaram-se a eles o holandês Erwin Russel e o americano Trevor Burgess. Russel frequenta há mais de uma década o mundo das finanças e negócios no Brasil, onde já foi executivo da Monsanto e dirigiu o fundo de private equity Advent.
Burgess, um ex-banqueiro do Morgan Stanley nos EUA, está no país há poucos anos. Os sócios da Artesia são donos da Metalfrio Solutions, fabricante de freezes comerciais, da Le Lis Blanc, varejista de moda feminina, e da Produquímica, fabricante de micronutrientes para a agropecuária.
Em entrevista a um jornal local, Trevor Burgess revelou que o grupo analisou mais de 30 bancos em 18 meses antes de chegar ao Community Bank. Tentaram fechar um acordo com o Riverside Bank of the Gulf Coast, mas não tiveram sucesso e o banco foi fechado pelos reguladores americanos logo depois do fracasso das negociações.
O Community Bank concede crédito para pequenas empresas e pessoas físicas e tem ativos de US$ 260 milhões. Antes da crise, eram US$ 270 milhões em ativos. Os prejuízos com créditos ruins levaram a uma redução patrimonial de US$ 15 milhões, em relação aos US$ 21 milhões de patrimônio líquido anterior à crise.
Os novos controladores mantiveram o CEO Bill Sedgeman e contrataram um novo presidente (equivalente a vice-presidente) e um novo executivo para a área financeira.
A bem-sucedida capitalização do Community Bank foi recebida localmente como uma vitória em meio à crise. Só nos primeiros três meses de 2010, 41 bancos regionais faliram nos EUA. Em todo o ano passado, foram 140 bancos, segundo dados da agência FDIC. Em 2008, quando a crise eclodiu, foram 25 instituições fechadas. Antes disso, eram raros os casos de falência de bancos comerciais. Em 2005 e 2006, não houve registro de casos e, em 2007, apenas três aparecem nas estatísticas do governo americano.
Em julho do ano passado, o Instituto de Finanças Internacionais (IIF), entidade que reúne os principais bancos do mundo, estimou a falência de 500 bancos regionais nos Estados Unidos.