Negociações conjuntas e nacionais são essenciais para barrar precarização

A partir dos anos 1980, o setor de comércio e serviços, que engloba uma ampla quantidade de categorias, desde trabalhadores do transporte até o financeiro, cresceu 2,3 vezes mais do que a indústria no país.

A diferença na expansão fica clara no valor adicionado ao Produto Interno Bruto (PIB): enquanto o comércio e os serviços foram responsáveis por 68,5%, a indústria foi responsável por 26,3% e o agrícola por 5,2%.

Porém, apesar de todo esse crescimento, a precariedade nas relações de trabalho ainda é muito presente. De 1995 a 2004, houve uma queda acentuada na remuneração em todos os ramos do macrossetor, conforme demonstra pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Clique aqui para ler o estudo.

Para pensar estratégias que revertam esse quadro, a CUT promove em São Paulo nesta terça (12) e quarta-feira (13) o Encontro do Macrossetor do Comércio, Serviços e Logística. O evento sucede os encontros dos macrossetores indústria e serviço público.

Para lideranças sindicais cutistas, não há outra maneira de enfrentar a precarização a não ser estabelecendo estratégias conjuntas.

“Queremos romper a barreira do corporativismo para estabelecer ações sobre pautas que tenham similaridade, em uma visão classista para além do sindicato”, define o secretário adjunto de Organização da CUT, Valeir Ertle.

Presidente da Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro, ressalta que as negociações devem ser articuladas porque muitas vezes o patrão é o mesmo.

“Todas as conquistas que temos no ramo financeiro é graças a uma grande unidade muito grande.”

Já o presidente da Confederação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs), Alci Araujo, cita a necessidade de aproveitar a experiência de outras categorias, como a do ramo financeiro, para estabelecer um acordo nacional.

“Os principais pontos devem ser a representatividade e a equiparação de direitos. Estamos tratando de um planejamento da nossa Central que tenta dar condição a todos os setores. Estamos em busca de um acordo e um piso nacional”, diz.

Um bom exemplo vem da própria Contraf-CUT. A convenção coletiva do ramo completou 20 anos em 2012 e é graças a ela que a data-base para todo o setor é a mesma, sejam trabalhadores de bancos públicos ou privados.

Gargalos e soluções

Como citaram os dirigentes da Contraf e Contracs, ambos os setores enfrentam problemas semelhantes, como a rotatividade para ampliar a precarização.

“Os bancos estão no processo de rotatividade. Só Itaú demitiu 20 mil trabalhadores e contratou 11 mil, deixando um déficit de 9 mil empregos. E os que entram ganham 38% a menos do ganhavam os que saíram. Estão usando a facilidade da demissão para diminuir custos. E o problema é semelhante ao setor do comércio, já que muitos estabelecimentos atuam como correspondentes bancários e os comerciários acabam desenvolvendo doenças de bancários como stress pela pressão por uma cobrança inadequada”, diz Cordeiro, para quem o uso de correspondentes bancários também é uma forma de diminuir a representação sindical.

No ramo do comércio, a pauta inclui a luta por diminuir a rotatividade, a falta de direitos aos terceirizados, o fim do trabalho aos domingos.

“A agenda é extensa porque dentro do setor de serviços temos classificadas 12 ou 14 categorias”, comenta Carmo.

A aprovação da convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da redução da jornada sem redução de salário, eixos presentes na marcha das centrais sindicais em Brasília no último dia 6, são dois pontos na agenda de ambos os ramos.

Melhorou, principalmente para empresário

O presidente da Contracs afirma ainda que a situação para os trabalhadores no comércio melhorou, porém, não acompanhou os benefícios oferecidos aos empregadores.

“O comércio pode ter potencializado economias, mas esse avanço não foi do mesmo tamanho para patrões e trabalhadores. Nossas negociações têm tido ganhos reais acima da inflação, mas as condições de trabalho não têm acompanhado o lucro dos empresários.”

Cordeiro comenta que o aumento do piso e ganhos reais provenientes das campanhas salariais são sintomas da força dos bancários, mas o avanço deve ser ainda maior diante dos ganhos dos bancos.

“Graças ao nosso poder de mobilização, conseguimos criar espaço para denunciar assédio moral, temos colocado cláusulas no sentido da igualdade da oportunidade. Mas, ainda não é uma melhora na velocidade que gostaríamos.”

Próximos passos

O resultado do encontro vai ser levado para o planejamento das regionais da CUT e a partir daí será definida uma coordenação para pensar políticas para o macrossetor.

Após o encontro do último segmento, o dos rurais, a Central entregará um documento com as resoluções ao governo federal para encampar essa luta e transformar em ações do Estado.

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