Célia Froufe, da Agência Estado
SÃO PAULO – O público era formado por mais de 200 banqueiros e executivos do sistema financeiro, e o recado dado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, não poderia ser mais direto: é preciso desempoçar os recursos para o crédito. Durante o jantar de final de ano da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), na quinta-feira, os ministro aproveitaram para cobrar, durante seus discursos, uma atuação mais pró-ativa do sistema financeiro no intuito de mitigar os impactos da crise financeira internacional no Brasil.
Dicionário da crise
“De nada adianta se demandar um nível de capitalização elevado quando, em momentos em que este capital precisa ser usado, precisamos, na realidade, conviver com níveis de capitais menores”, argumentou Meirelles. Para ele, o capital elevado tem que ser construído antes de períodos de crise por meio de um aumento da provisão.
O presidente do BC admitiu que essa ferramenta não é suficiente para evitar o ciclo de maior retração, mas é um canal importante para suavizá-lo. “Os bancos tendem a cometer excessos nos períodos expansionistas, quando prevalece um otimismo exagerado e todos parecem acreditar piamente que recessões e contrações econômicas são relíquia do passado”, afirmou.
Meirelles lembrou que no passado recente o mundo viveu esse período prolongado de estabilidade econômica e juros baixos, principalmente nos Estados Unidos. “Presos em sua teia otimista, (as instituições financeiras) relaxam o controle de crédito”, comentou. De forma contrária, em momentos de recessão, continuou o dirigente, premidos pelo aumento da inadimplência que afeta os resultados e corrói o bem de capital, os bancos reduzem drasticamente a oferta de crédito.
“(Os bancos) passam a fazer grandes empréstimos apenas para os clientes cuja solvência está acima de qualquer suspeita, como parece que está ocorrendo em alguns países hoje.” O resultado, segundo ele, não poderia ser outro: um ciclo de expansionismo exagerado e, em contraste, uma retração também exagerada.
Compulsório
Ao citar algumas medidas já dotadas pelo governo na tentativa de diminuir o represamento dos recursos para o crédito, Meirelles salientou que já foram liberados até o momento quase R$ 100 bilhões provenientes da redução do volume de compulsório. “Os depósitos compulsórios, sobre os quais os senhores tanto reclamavam com legitimidade durante tanto tempo, hoje são vistos por todos como algo que, neste momento, podemos dar graças a Deus por existirem porque é uma reserva de liquidez compulsória e que, neste momento, pode ser usada pelo sistema à medida que é liberada pelo Banco Central. Não é isso?”
Em seguida, Mantega ressaltou que o sistema financeiro foi posto à prova em setembro e outubro deste ano e que os bancos brasileiros continuam trabalhando próximos da normalidade. “Há dois meses me perguntaram se os bancos brasileiros estavam em perigo. Respondi categoricamente que não e garanti que estavam sólidos e bem preparados para as intempéries. Agora ficou comprovado que tínhamos razão”, comentou.
Para ele, isso é possível porque o Brasil possui instituições capitalizadas e que trabalham com um nível adequado de alavancagem, além de estarem submetidos à regulação mais rigorosa. “2008 está sendo difícil, mas está revelando a capacidade da economia brasileira de enfrentar dificuldades.”
Ministro critica bancos
O ministro, porém, também não poupou esforços em mostrar que está descontente com a atuação dos bancos. Ele voltou a afirmar que o governo brasileiro está atento e monitorando a crise atual e que, desde o agravamento da crise, foi tomada uma série de medidas para atenuar seus impactos sobre os mercados brasileiros. “Mas ainda há alguns problemas de oferta de crédito em dólares e reais e o custo financeiro está muito elevado, dificultando o funcionamento da economia real”, alfinetou.
O maior desafio do Brasil, segundo Mantega, é o de restaurar a liquidez e o de reduzir o custo financeiro para patamares compatíveis com o crescimento equilibrado da economia. “O governo já tomou e está disposto a tomar todas as medidas fiscais e monetárias para impedir que a crise aborte o ciclo de desenvolvimento em curto no País.”
Para isso, segundo ele, é preciso garantir a continuidade dos investimentos e de todas as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), bem como o dinamismo do mercado interno e a confiança do mercado interno de que emprego e renda continuarão a ser gerados para a população. “Se cada um fizer a sua parte, seremos capazes de vencer as dificuldades e alcançar um crescimento de 4% em 2009. É um objetivo ambicioso, mas exeqüível”, afirmou.
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