A desigualdade de renda entre o 1% mais rico e o restante dos americanos atingiu o seu maior ponto desde a década de 1920. Os americanos muito ricos ganharam mais de 19% da renda familiar no país no ano passado – sua maior participação desde 1928, um ano antes do colapso da bolsa. E os 10% mais ricos capturaram um recorde de 48,2% da renda total no ano passado.
A desigualdade de renda nos EUA vem crescendo há quase três décadas. E voltou a subir em 2012, segundo uma análise de dados da receita federal americana desde 1913 feita por economistas da Universidade da Califórnia (Berkeley), da Escola de Economia de Paris e da Universidade de Oxford.
Um deles, Emmanuel Saez, de Berkeley, disse que a renda dos americanos mais ricos cresceu no ano passado em parte porque eles venderam suas carteiras de ações para evitar os impostos mais elevados sobre ganhos de capital que entraram em vigor em janeiro.
Em 2012, a renda do 1% mais rico subiu quase 20%, ante uma alta de só 1% para os restantes 99%.
Os americanos mais ricos foram duramente atingidos pela crise financeira. Sua renda caiu mais de 36% na Grande Recessão de 2007-09, depois que os preços das ações despencaram. A renda dos 99% restantes encolheu apenas 11,6%, de acordo com a análise.
Mas, desde que a recessão terminou oficialmente, em junho de 2009, o 1% mais rico aproveitou os benefícios do aumento dos lucros empresariais e dos preços das ações: 95% do aumento na renda registrado desde 2009 foram para o 1% mais rico. Isso se compara com uma fatia de 45% para o 1% mais rico durante a expansão econômica na década de 1990 e uma participação de 65% da expansão ocorrida após a recessão de 2001.
O 1% dos domicílios americanos mais ricos teve uma renda bruta acima de US$ 394 mil no ano passado. Os 10% mais ricos tiveram uma renda superior a US$ 114 mil.
Os dados de renda incluem salários, aposentadorias, dividendos e ganhos de capital provenientes da venda de ações e de outros ativos. As estatísticas não incluem os chamados “pagamentos de transferência” oriundos de programas governamentais, como auxílio-desemprego e seguridade social.
O fosso entre ricos e pobres diminuiu após a Segunda Guerra Mundial, quando os sindicatos negociaram melhores salários e benefícios, e depois que o governo aprovou um salário mínimo e outras políticas para ajudar os pobres e a classe média.
A participação do 1% de mais ricos na renda parou de cair ao chegar a 7,7%, em 1973, e vem crescendo desde o início de 1980, de acordo com a análise.
Economistas apontam várias razões para o aumento da desigualdade de renda. Em alguns setores, os trabalhadores americanos agora competem com mão de obra barata chinesa e de outros países em desenvolvimento. Funções burocráticas e de call centers foram terceirizadas para países como Índia e Filipinas.
Cada vez mais, a tecnologia está substituindo trabalhadores na realização de tarefas rotineiras. E o poder dos sindicatos se dissipou. O percentual de trabalhadores americanos representados por sindicatos caiu de 23,3% em 1983 para 12,5% no ano passado, segundo o Departamento do Trabalho.
As mudanças reduziram os custos para muitos empregadores. Essa é uma razão pela qual os lucros das empresas atingiram um recorde neste ano como parte da produção econômica americana, apesar de o crescimento estar lento e a taxa de desemprego permanecer em elevados 7,2%.
As pessoas mais bem remuneradas nos EUA tendem a ser executivos ou empresários – os “trabalhadores ricos”, e não as elites que desfrutam uma vida de lazer dependente de riqueza herdada, escreveu Saez num relatório que acompanha a nova análise.
Mesmo assim, acrescentou ele, “precisamos decidir, como sociedade, se esse aumento na desigualdade de renda é eficiente e aceitável”.