A zona do euro está a afundar-se na “armadilha da dívida” que combina cortes na despesa com fraco crescimento, acusa o governador do Banco de Inglaterra.
Na semana em que tomou posse o primeiro governo declaradamente anti-austeridade na zona euro, o governador do Banco de Inglaterra juntou-se aos críticos das políticas prescritas por Berlim e Bruxelas.
Numa conferência em Dublin, Mark Carney desafiou o dogma dos cortes orçamentais seguido pela maior parte dos governos da zona euro. “Desde a crise financeira todas as grandes economias têm estado numa armadilha da dívida em que o baixo crescimento aprofunda o peso da dívida, levando o setor privado a cortar ainda mais nas despesas. A persistência da fraqueza econômica prejudica a capacidade de recuperação das economias”, avisa o governador do Banco de Inglaterra, citado pelo diário Guardian.
Carney foi favorável ao anúncio do Banco Central Europeu da compra de dívida nos próximos meses, mas diz não acreditar que essa medida por si só produza algum efeito para contrariar a perspectiva de uma estagnação econômica prolongada na zona euro. A desvalorização interna, com a baixa dos custos de produção para aumentar a competitividade, também não é solução, adverte o governador do Banco de Inglaterra, uma vez que “não serve para aumentar a procura na zona euro como um todo. Ou seja, dado que a competitividade é relativa, uma solução para uns não é uma solução para todos”.
“Por mais difícil que tenha sido, alguns países, incluindo os EUA e o Reino Unido, estão agora a sair dessa armadilha. Outros na zona euro estão a afundar-se cada vez mais”, acrescentou Mark Carney, criticando a “timidez” dos líderes europeus em avançar para uma união fiscal integrada na união monetária.
Comparando a taxa de desemprego na zona euro – 11,5%, o dobro da britânica – com o déficit fiscal – que na zona euro é metade do Reino Unido – Carney propõe que a Europa adote uma política fiscal “construtiva” com vista a aumentar a procura e travar a estagnação.