FOLHA DE SÃO PAULO
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem, em São Paulo, que a política monetária do governo Lula deve mudar em 2009 à luz da nova conjuntura mundial.
Dilma, hoje a provável candidata do PT à sucessão de Lula, deu indicações de que o governo espera forte redução dos juros básicos da economia e dos “spreads” bancários (a diferença entre a taxa de captação dos bancos e o repasse aos tomadores). Afirmou que isso será fundamental para reduzir os custos de capital e a manutenção dos níveis de investimentos.
Dilma deixou claro a insatisfação do governo em relação a uma política que, em sua avaliação, não é mais adequada ao atual cenário mundial de “estagdeflação” -estagnação econômica nos países ricos com queda generalizada nos preços, como a observada nas commodities e produtos industriais.
Em encontro com empresários ligados aos setores de infra-estrutura e indústrias de base, Dilma foi clara ao dizer que atual política gerida pelo Banco Central “foi” um instrumento para o país alcançar a estabilidade, mas que agora a política monetária será fundamental para promover a redução do custo de capital.
“Não é da minha alçada me posicionar sobre qual é a política do Banco Central, agora o que eu quero dizer é que o governo está muito preocupado, por exemplo, com a questão dos “spreads” [bancários]. Porque há uma situação adversa do crédito quando se cobram taxas de juros muito altas”, disse.
Dilma respondeu a um clamor do setor produtivo que avalia como equivocada a posição do BC em sustentar taxas de juros reais tão elevadas num ambiente de queda da atividade. Na semana passada, o BC manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano, enquanto outros BCs cortam juros agressivamente.
Numa breve coletiva de imprensa, Dilma chegou a citar o presidente do BC, Henrique Meirelles, uma vez para dizer que o colega é o especialista em política monetária e que não faria comentários diretos sobre a decisão de manter os juros.
Ainda assim, a ministra-chefe da Casa Civil disse mais de uma vez que o país pode manobrar a política monetária, diferentemente dos Estados Unidos, que adotaram juros próximos de zero na tentativa de reanimar o consumo -na prática, juros negativos quando computada a inflação. Para Dilma, o Brasil pode cortar ainda mais os juros básicos da economia diante de uma taxa real de 8%.
“Não temos nenhuma questão sobre a política monetária até agora. Achamos que ela foi um instrumento inclusive para que a gente chegasse ao ponto em que chegamos, o de enfrentar as condições que enfrentamos. Mas que essa será uma questão fundamental para o próximo ano. [A política] tem que reduzir o custo de capital para que possamos manter a taxa de investimento”, afirmou.