Para as mulheres, insegurança é outra face nefasta da terceirização

Ato das Mulheres CUT-SP na estação do metrô República

Mulheres da CUT São Paulo, dos seus sindicatos filiados e dos movimentos sociais ocuparam a estação República na tarde da sexta (10) com apitaço e ato de repúdio contra a insegurança, a violência e estupros no metrô paulista. No local, uma jovem de 18 anos, trabalhadora terceirizada da empresa Prodata, foi estuprada numa cabine de recarga do Bilhete Único, na noite de 2 de abril. Porém, a Companhia do Metropolitano de São Paulo tentou esconder o caso e o crime só foi divulgado no último dia 6.

Com bandeiras, cartazes, apitos e panfletagem, as manifestantes pediram união contra a violência às mulheres e luta contra o Projeto de Lei (PL) 4330/04 que libera as terceirizações, aprovado pela Câmara dos Deputados na quinta (8) por 327 votos a favor, 137 contrários e duas abstenções (veja aqui como votaram os deputados/as).

Com a terceirização ilimitada, a segurança é mais uma questão que vai tirar a paz dos trabalhadores (as), diz a bancária Maria de Lourdes Alves da Silva, a Malu, dirigente da Fetec-SP. “A violência contra a mulher não pode acontecer em lugar nenhum, muito menos no local de trabalho. A terceirização é uma praga, é um câncer dentro da classe trabalhadora e a população precisa saber sobre as consequências desse projeto”, alerta.

Um cubículo mal ventilado com apenas 1,15 m de profundidade, com 2,20 m de altura e 2,30 m de largura é o ambiente de trabalho onde a jovem foi estuprada. O boletim de ocorrência aponta que a vítima estava sozinha no momento do crime, por volta das 23h30, e que o olho mágico da cabine estava quebrado, o que impediu a trabalhadora de evitar a entrada dos criminosos.

Além de apontar a precariedade das condições de trabalho, as manifestantes cobraram responsabilidade e medidas concretas do Metrô e do governo estadual paulista (PSDB) para enfrentar a violência, e não transferência da culpa aos seguranças do metrô, que trabalham com quadro de funcionários reduzido em todas as estações.

Os assaltos também são frequentes nos acessos do Metrô República, e, segundo denúncia de trabalhadoras metroviárias, há apenas uma dupla de seguranças no período noturno, apesar da ampla área da estação, que liga a Linha 3-Vermelha à Linha 4-Amarela.

“Fico ainda mais amedrontada porque vivemos num país machista, onde a maioria dos homens não respeitam as mulheres. Um trabalhadora é estuprada dentro de uma cabine e o Metrô diz que nada foi visto nada? Se uma funcionária não tem segurança, imagine alguém entre as milhares de pessoas que passam pelas estações todos os dias”, desabafa a usuária do metrô Cilene Andrade, estudante de 22 anos.

Descaso com o medo e a violência

Ao microfone e dialogando seriamente com a população, a estudante Sofia, de apenas 11 anos, emocionou e recebeu longos aplausos de quem estava na estação.

“Do mesmo jeito que acontece com as mulheres, também acontece o estupro de meninas. Se fala que não quer, não precisa ser obrigada. Os homens precisam ter mais respeito pelas mulheres porque nós não somos bonecas, somos humanas como todo mundo é. Salve as mulheres!”. A menina, que é também é rapper, participou da atividade acompanhada pela mãe, Camila Pimentel, e da avó, Lucia Makena, feministas e militantes do movimento negro.

Para Sandra Mariano, da Coordenação Nacional das Entidades Negras (Conen), o que se vê é um retrocesso das políticas públicas, resultado dos 20 anos do governo estadual do PSDB em São Paulo, “que não propiciou nada para diminuir a violência, principalmente contra a mulher e contra o jovem na periferia. O estupro no metrô é o estopim, é o limite desse governo que não tem responsabilidade nenhuma com a população”, critica.

Fruto de ação civil do Ministério Público de São Paulo com apoio da luta do movimento de mulheres, foi aprovada a realização de uma campanha educativa mas, após várias reuniões com o Metrô, nada ainda foi colocado em prática, explica Sonia Coelho, da Marcha Mundial de Mulheres.

“Já reivindicamos mais segurança, mais câmeras, formação aos profissionais para que atendam adequadamente às mulheres nas estações e na delegacia do metrô. Várias propostas foram apresentadas, mas a política do Metrô é a mesma do governo estadual – descaso com as políticas as mulheres”.

Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP), foram registrados 76 estupros consumados no estado de São Paulo em janeiro e fevereiro de 2015 e, de 2012 a 2014, totalizam 1.479. Os dados também alertam para altos índices de estupro de vulnerável, que vitima menores de 14 anos – foram 77 casos nos dois primeiros meses desse ano e outros 1.133 entre 2012 e 2014.

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