Financial Times
David Oakley
O espectro do risco de contraparte, vislumbrado de forma dramática em sua mais recente aparição – na esteira do colapso do Lehman Brothers -, está voltando ao setor bancário europeu, num sinal de alerta para o fato de que alguns bancos poderão entrar em colapso no rastro da crise de dívida soberana na zona do euro.
Os bancos agora estão mais relutantes em emprestar uns aos outros que em qualquer outro momento desde que os problemas da Grécia originalmente explodiram, em outubro passado, segundo analistas do Tullett Prebon e Icap, corretores “interdealer” (responsáveis por operações entre grandes instituições financeiras).
A deterioração das condições nos mercados monetários interbancários estão levando alguns analistas a prever que a próxima crise se dará entre os bancos. Mesmo os maiores bancos europeus, como Deutsche Bank, Barclays, BNP Paribas e Société Générale estão sofrendo, à medida que sobem os custos de seguro contra um default desses bancos.
Uma das principais medidas de risco bancário, o spread entre os “overnight index swap” e contratos futuros na zona do euro, subiu nesta semana para um recorde em todos os tempos. Esse spread mede o ágio das taxas para três meses – que embutem maior risco de crédito – em relação às taxas “sem risco” do overnight.
Outro sinal de alerta é uma adesão significativa à concessão de empréstimos por bancos no esquema de overnight, especialmente em áreas problemáticas na zona euro. Dos ? 450 bilhões (US$ 589 bilhões) negociados diariamente no mercado financeiro de curto prazo europeu, 90% flui mediante empréstimos no overnight, segundo os corretores.
As mudanças no comportamento dos emprestadores se deve à crescente preocupação com que a Grécia, a Espanha ou Portugal possam ter de reestruturar o peso de seu endividamento, o que traria grandes implicações para as instituições financeiras da zona do euro.
Somente as instituições financeiras francesas e alemãs detêm pouco menos de ? 80 bilhões (US$ 103 bilhões) em papéis da dívida soberana grega, segundo a Barclays Capital.
Essas tendências são semelhantes às verificadas no auge da crise financeira após o colapso do Lehman Brothers em setembro de 2008, embora os dealers enfatizem que os mercados estão muito distantes de uma convulsão como a vivida naquele momento.
Os corretores dizem que ainda estão vendo empréstimos negociados por três meses e até mais tempo. Na prática, a Grécia também foi removida dos mercados internacionais, agora que ao país foram ofertados empréstimos em volume sem precedentes da comunidade internacional. Isso centrou a atenção em bancos menores em Portugal e na Espanha, instituições financeiras consideradas de maior risco.
Esses bancos já não conseguem captar dinheiro nos mercados de empréstimos de curto prazo porque são considerados demasiado arriscados. Mesmo se puderem encontrar outros bancos que lhes emprestem dinheiro, as taxas são muito altas para que valham a pena.
O fato de os mercados financeiros de curto prazo estarem na prática fechados para esses bancos não é uma preocupação imediata, pois a maioria deles obtém seus recursos de depósitos de varejo, ou estão financiados até o final do ano. Mas sem a “opção B” – de tomar empréstimos nos mercados internacionais -, esses bancos poderão ficar sob pressão caso seus depositantes saquem grandes quantias de dinheiro, o que é possível se a zona do euro aprofundar-se na crise.