O Estado de São Paulo
Andrei Netto, ENVIADO ESPECIAL, BASILEIA
Graças à retomada do crescimento, os maiores bancos centrais do mundo podem intensificar o processo de retirada das medidas “não convencionais”, que garantiam liquidez e estímulo à atividade econômica em meio à crise.
A confirmação foi dada ontem por Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE) e porta-voz das autoridades monetárias, ao término da reunião bimestral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), em Basileia, na Suíça. Já adotada por emergentes, como o Brasil, e pelos Estados Unidos, a iniciativa deve se multiplicar pelo mundo.
De acordo com os banqueiros, a estratégia de saída se baseia no “melhor funcionamento” dos mercados financeiros e na expectativa de crescimento “relativamente robusto” da economia mundial. Essa previsão se deve em grande parte ao desempenho dos países em desenvolvimento.
“Para a recuperação, o mundo emergente desempenha um papel extremamente importante para a conformação do crescimento relativamente robusto da economia mundial”, disse Trichet.
A injeção de liquidez na economia havia sido implementada com o aprofundamento da crise do sistema financeiro, marcada pela falência do banco de investimentos Lehman Brothers, há um ano e meio.
Agora, os presidentes de bancos centrais organizam a retirada progressiva dos estímulos. “Nós estamos reduzindo as medidas não convencionais adotadas”, confirmou Trichet. “O fato é que as coisas estão indo melhor quanto ao funcionamento do mercado em todo o mundo. E não é surpreendente que tenhamos essa redução.”
O presidente do BCE assegurou ainda que a retirada não significa alteração da política monetária, nem aumento dos juros. “É muito importante que não haja interpretação exagerada sobre essa redução, para que isso não influencie o sentimento do mercado e não seja interpretado como um sinal de modificação da política monetária”, reiterou.
Trichet disse ainda que a retirada parcial dos estímulos não é uniforme, e varia de acordo com o cada região. “Essas medidas não são as mesmas em todos os países, porque as economias são diferentes. A Europa não fez o mesmo que os Estados Unidos fizeram, por exemplo.”
MEIRELLES
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central (BC), lembrou que o Brasil já vem retirando a liquidez que injetara no auge da crise. “Já retiramos o estímulo do empréstimo das reservas – cujo saldo chegou a US$ 24,5 bilhões e está agora em menos de US$ 1 bilhão -, já equilibramos a posição nos mercados futuros, já mais do que revertemos a venda de dólares e já fizemos o movimento de recomposição de compulsórios, que era o mais importante”, lembrou o executivo. “Portanto, todos os nossos movimentos de liquidez já estão praticamente feitos de forma final.”
O tema acabou se tornando um dos mais relevantes da reunião. Até o início dos encontros do BIS, no domingo, a expectativa dos presidentes de bancos centrais era de que a Grécia seria um dos assuntos preponderantes do encontro bimestral, assim como a política cambial e a possibilidade de formação de bolhas na China, em razão do superaquecimento de sua atividade econômica.
Trichet fez apenas referências genéricas, sem citar países – nem criticar Atenas -, ao reiterar que os países precisam manter as contas públicas em equilíbrio como forma de garantir a manutenção do crescimento. “Algumas economias estão em boa situação, outras não. E para todas é importante criar um bom ambiente para a retomada.”