III Fórum Visibilidade Negra: Bancários debatem negros no mercado de trabalho

O período da tarde do primeiro dia do III Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro foi dedicado aos debates sobre a participação dos negros no mercado de trabalho, as políticas de combate ao racismo e a inclusão social como ferramenta transformadora da vida dos brasileiros. O evento teve início nesta segunda (11) e continua nesta terça-feira (12), em Curitiba.

O ex-ministro da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do Governo Lula, Eloi Ferreira Araújo, falou sobre os “Seis anos do Estatuto da Igualdade Racial, eficácia das políticas de ações afirmativas e seus impactos na vida da população negra”. Segundo ele, desde a abolição da escravidão, as populações negras brasileiras não tinham seus direitos reparados. “Já avançamos na legislação, mas ainda é preciso que o povo brasileiro se aproprie destas leis e as faça valer cada vez mais”, ressaltou.

Já a doutora em Sociologia pela Unesp e professora do Departamento de Sociologia do IFBA/Salvador Marcilene Garcia de Souza falou sobre “Ações afirmativas e cotas raciais nos concursos públicos”. A partir de suas experiências e contribuições na implementação da política de cotas na Universidade Federal do Paraná e na gestão da Prefeitura Municipal de São Paulo, Marcilene destacou a prática institucionalizada racista do Estado brasileiro, construída a partir do mito da democracia racial, da ideologia do branqueamento e da mestiçagem.

Mercado de trabalho

A economista da Subseção do Dieese na Contraf-CUT Regina Camargos acrescentou ao debate os dados da Rais e do Senso da Diversidade, sobre os negros no Sistema Financeiro Nacional. Segundo ela, 76,09% dos bancários são brancos; 18,07% são pardos; 2,77% são pretos; 2,58% são amarelos; e 0,17% são indígenas. “Os 400 anos de escravidão tiveram um impacto negativo que persiste até os dias de hoje, suas marcas tornaram-se distintivas do mercado de trabalho brasileiro. Foram precisos mais de cem anos de luta da classe trabalhadora para que se completasse a transição do trabalho escravo para o trabalho livre”, justificou Regina.

Por fim, a secretária Nacional de Combate ao Racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Júlia Nogueira, falou sobre “Racismo, discriminação e seus impactos no mercado de trabalho”. Segundo ela, é fundamental que os trabalhadores se organizem e se mobilizem para lutar contra o racismo estrutural e a discriminação histórica que os negros sofrem no mercado de trabalho no Brasil.

Fim da desigualdade depende de mudança nos privilégios

Secretária Nacional da Juventude da Presidência falou das barreiras enfrentadas por negros.


Ângela Guimarães (Foto: Joka Madruga/SEEB Curitiba).

A secretária Nacional da Juventude da Presidência da República, Ângela Guimarães, falou sobre “Juventude negra, violência e exclusão social” aos participantes do III Fórum Nacional pela Visibilidade Negra no Sistema Financeiro. 

Ângela iniciou comentando que há, atualmente, barreiras muito consistentes que impedem a população negra de avançar no mundo do trabalho. “Nossa simples presença nos espaços públicos ou de poder já é motivação para repressão. Para nós, negros, nunca houve paz!”, resumiu. Segundo ela, enfrentar as desigualdades no mercado de trabalho é garantir melhores oportunidades e condições para a população negra.

“Mais da metade de população brasileiras – os negros – é silenciada, invisibilizada. E isso afeta não só negros! Se há alguém que perde com o racismo, há alguém que ganha. Por isso, o debate precisa permear todos os espaços da sociedade. Só se quebra a desigualdade quando se mexe nos privilégios, ou seja, para superar o racismo é preciso promover medidas afirmativas”, acrescentou.

Juventude
Segundo a secretária Nacional da Juventude, os jovens entre 15 e 29 anos representam 27% da população brasileira (mais de 51 milhões de pessoas). Desses, 53,7% são pretos e pardos. Quando perguntados sobre suas preocupações, esses jovens dizem: 43% se preocupa com a violência; 34% com emprego e profissão; 26% com saúde; 23% com educação; e 18% com drogas.

“Mas a violência no Brasil tem idade, raça e território: os jovens negros são, historicamente, o público preferencial. Há, pelo menos, 40 anos o movimento negro denuncia a banalização da vida desses jovens. Ou seja, apesar dos avanços notórios no sentido da inclusão, o país ainda tem dívidas históricas a serem enfrentadas, sendo a mais grave delas a violência, especialmente, aquela que atinge os jovens negros da periferia”, concluiu Ângela.

 

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