Realidades distintas afetam jovens bancários da América Latina

A paraguaia Fabiola (esquerda) e Rossana, da Guatemala

O Seminário de Formação de Jovens – Gestão e Formação Sindical, organizado pela UNI Américas, foi uma oportunidade para conhecer a realidade da juventude bancária em diversos países da América Latina. As histórias de duas trabalhadoras do setor ilustra as diferenças e semelhanças entre as situações.

A primeira é a paraguaia Fabiola Farias, de Ciudad del Este, que, mesmo jovem, tem uma história complicada como funcionária do Banco do Brasil. Da primeira vez que entrou no banco, foi proibida pela diretoria de se sindicalizar. “Eles estavam em um processo de oito anos de negociação do contrato coletivo e não queriam mais gente na discussão”, conta. Acabou saindo por conta da pressão que sofria tanto do banco quanto dos colegas, após dois anos.

Um ano depois, com o acordo coletivo já fechado, a diretoria a procurou para que voltasse ao banco. Ela aceitou voltar e alguns meses depois, já sindicalizada, decidiu ter uma filha.

Pouco depois de engravidar, uma notícia da gerência cai como uma bomba: a matriz brasileira havia decidido fechar a agência de Ciudad del Este e, segundo o gerente que trouxe a novidade, a decisão era irreversível. “Eu estava no começo da gravidez”, conta.

Os trabalhadores ficaram desanimados e começaram a se preparar para procurar um novo emprego. “Mas o pessoal do sindicato se mobilizou, junto com alguns empregados. Eu também participei e procuramos autoridades para tentar modificar a situação”, diz Fabiola. Os bancários conseguiram uma conversa com o prefeito da cidade à época, Javier Zacarias Irun, que procurou o então presidente Nicanor Duarte. O mandatário procurou o presidente brasileiro Lula e a situação mudou: Lula interferiu e a direção do Banco do Brasil manteve a unidade de Ciudad del Este em funcionamento. “Eu estava no começo da gravidez e ia ficar sem emprego e seguro médico. Foi uma alegria muito grande voltar a trabalhar”, conta Fabiola.

O fato fez com que a bancária se aproximasse do sindicato. “Antes disso, eu não gostava do sindicato ou mesmo de sindicalistas. Com essa história percebi o erro que havia cometido”, afirma. “Nós éramos 20 ou 30 loucos, fazendo passeatas, reuniões, e tivemos muita força. Nos expusemos muito, mas valeu a pena ver o fruto dessa luta”, comemora.

A exposição de que fala Fabiola fez com que ela passasse a sofrer pressões da diretoria do banco. “Agora, estou no freezer. Se trabalho não importa mais, você se arrebenta de trabalhar e isso não vale nada”, lamenta. Segundo ela, a perseguição ao movimento sindical é algo comum no banco. “Existem os que apóiam a administração e os que apóiam o sindicato. Os trabalhadores novos são pressionados a não aderir ao sindicato. Acho que dedicam mais esforços a essa perseguição do que a fazer negócios”, ironiza.

Além da perseguição, a diretoria do BB comete outros desmandos no Paraguai, como a não renovação do contrato coletivo de trabalho. “O contrato já levou oito anos para ser fechado. Depois disso, deveria ser renovado a cada dois anos. No entanto, está vencido a dois anso e o banco não aceita começar negociações”, diz Fabiola.

Terceirização

Outra sindicalista que esteve no evento da UNI foi Rossana Pamela Revolorio, funcionária do Banco dos Trabalhadores da Guatemala. Ela conta que ela e os demais sindicalistas são muito perseguidos dentro da empresa. “Sindicalistas são vistos como rebeldes”, explica.

No entanto, a situação atual é um avanço perto do que a população da Guatemala enfrentou há não muito tempo. A Guatemala viveu uma guerra civil nos anos 80 e meados dos 90 e uma de suas conseqüências foi a perseguição e assassinato de sindicalistas do país. Acordos de paz foram assinados há cerca de dez anos, melhorando a situação. Mesmo assim, um sindicalista foi assassinado neste ano.

Dentro do banco, o maior problema vivido pelos trabalhadores atualmente é a terceirização, que atinge proporções muito superiores à situação no Brasil. O próprio Banco dos Trabalhadores criou uma empresa paralela para fazer a contratação de funcionários com menos direitos e menores salários. “Já faz alguns anos que nenhum trabalhador novo é contratado diretamente pelo banco. Os terceirizados já são 40% do total de trabalhadores, sendo que apenas os mais antigos são funcionários diretos do banco”, conta. Ela, com 25 anos, está entre esses “antigos”.

Compartilhe:

Compartilhar no facebook
Facebook
Compartilhar no twitter
Twitter
Compartilhar no whatsapp
WhatsApp
Compartilhar no telegram
Telegram