Folha de São Paulo
Natuza Nery
Com o objetivo de melhorar a interlocução do governo junto ao mercado financeiro e setor privado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, decidiu nomear um executivo do Banco do Brasil como seu braço direito na pasta.
Segundo a Folha apurou junto a interlocutores presidenciais, Paulo Rogério Caffarelli, um dos vice-presidentes do BB, assumirá a secretaria-executiva do ministério.
O segundo posto na hierarquia da Fazenda estava interinamente ocupado por Dyogo Oliveira desde a saída do economista Nelson Barbosa do cargo, em junho do ano passado.
Com a escolha de Caffarelli, Mantega tenta reverter o pior momento do governo na relação com o mundo financeiro, um dos mais céticos setores à política fiscal de Dilma Rousseff. A nomeação também tenta aproximar o governo do meio empresarial, em parte pessimista com a política econômica.
Além da incumbência de ampliar o diálogo, Paulo Cafarelli deverá ajudar a afinar projetos de concessão, um de seus focos de atuação no BB.
Funcionário de carreira do banco, onde ingressou como “menor aprendiz”, o executivo comanda atualmente a vice-presidência de Atacado, Negócios Internacionais e Private Bank da instituição, tendo passado pela área de varejo, onde ajudou a implementar a política de crédito no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O governo está fazendo um esforço para além dos números de olho em recuperar sua credibilidade na área fiscal, deteriorada depois das manobras com receitas extraordinários para fechar as contas de 2012.
Naquele ano, a área econômica foi acusada de fazer maquiagens contábeis para fingir entregar um superávit primário (economia para pagar juros da dívida) sem, de fato, cortar despesas. A redução dos gastos públicos é uma das formas de se controlar a inflação.
No mercado, apesar de todas as sinalizações recentes de que o governo fará este ano um corte efetivo, a avaliação de analistas é que, desta vez, já não basta o governo prometer uma meta. Terá de fazer mais: mostrar detalhadamente de onde vem o dinheiro e provas do quão realista o bloqueio de despesas será.
PONTES
Mantega pediu para que Dyogo Oliveira continue na cúpula do ministério como secretário-executivo adjunto e o auxilie na interlocução com o Congresso Nacional. Assim como o mercado financeiro, o Legislativo é outra área sensível do Executivo em que a presidente da República convive com ameaças constantes de aprovação de leis que ampliam fortemente os gastos públicos.
Para Mantega, Oliveira é seu o auxiliar com maior trânsito na Câmara e no Senado.
A própria Dilma também tem feito movimentações para melhorar a interlocução. Ela busca um empresário para o Ministério do Desenvolvimento, além de ter aberto mais espaço em sua agenda para dialogar com representantes do setor produtivo.