A experiência de luta e criação de uma rede de 45 teatros e espaços cênicos na cidade de São Paulo, relatada pelo diretor teatral paulistano Augusto Marin, criador do Teatro Commune e participante da mesa de debates, marcou a abertura do painel “Cultura e sindicalismo: a participação dos sindicatos no campo cultural – ideias e atitudes”, desenvolvido na manhã desta quarta-feira, 20/01, na sede do SindBancários. O evento, incluído na programação do Fórum Social Mundial Temático, que acontece em Porto Alegre, levou ao público as reflexões de Vitor Ortiz (ex-secretário executivo do MinC), Mauro Salles (SindBancários), Marcos Fuhr (Sinpro e Fundação ECarta) e Margarete Moraes (representante da Regional Sul do Ministério da Cultura).
O presidente do Sindicato, Everton Gimenis, em uma breve apresentação, lembrou o papel da cultura, quando se discute a defesa dos bancários e de outros trabalhadores. “As manifestações culturais formam um dos elementos de transformação da sociedade”, disse, lembrando que a sede do SindBancários é uma casa de cultura, com cinema, oficina de literatura, convênio teatral, espaço de exposições, entre outras iniciativas.
Mais teatros
Conforme o diretor e ator de teatro Augusto Marin, a parceria com outros setores da sociedade paulistana, incluindo os sindicatos, facilitou a luta que resultou na aprovação de lei que isenta do IPTU os teatros com até 400 lugares na capital paulista. “Além disso”, contou ele, “conseguimos que 25 locais de cultura e arte – que estavam sendo fechados – fossem declarados de interesse público. Hoje, a rede de 45 espaços teatrais reúne mais de duas mil pessoas, entre diretores, atores, técnicos e dramaturgos”, revelou.
Linguagens que encantam
Mauro Salles, diretor e ex-presidente do Sindicato, ressaltou: “Hoje, através da mídia e da indústria cultural, as classes dominantes vêm ganhando também a batalha simbólica, dominando até as emoções da população. É fundamental a luta dos trabalhadores através da arte, indo contra o senso comum. Precisamos de causas aglutinadoras, com linguagens que encantem”, sintetizou. “A cultura é parte integrante da luta sindical. Precisamos ser mais movimento do que institucionalização”, afirmou.
Ética com estética
O escritor Alcy Cheuiche, que organiza as oficinas literárias do Sindicato, já em seu nono ano, abriu sua fala citando um poema seu, de juventude, contra a idiotização da sociedade. Cheuiche reforçou a importância da conscientização através da arte. Ele exemplificou a rede de criação e diálogo que, a partir do SindBancários, fez com que a oficina literária levasse os livros produzidos por ela a outros países. “Nas edições bilíngues, temos lançado nossos livros – sempre com temas abrangentes e sociais – no exterior, em parceria com sindicatos”. Mas ressaltou: “Não basta o tema ser relevante. A ética tem que andar junto com a estética. A obra tem que prender o leitor”, ensinou o professor.
Sindicalismo Cidadão
Diretor de Comunicação do Sindicato dos Professores de Escolas Particulares do Estado (Sinpro-RS) e coordenador da Fundação Ecarta, o professor Marcos Fuhr disse que sua entidade de classe trabalha desde os anos 90 com o conceito de “Sindicato Cidadão”. “Todo o trabalhador não é apenas trabalhador, ele é também um cidadão. E para nós o Sindicato é um cidadão coletivo”. Ele citou o jornal mensal Extraclasse, que completa duas décadas neste ano, e que trata de questões de interesse de toda a sociedade e não só da categoria dos professores.
Na Fundação Ecarta, mantida pelo Sinpro, há cinco eixos de atuação cultural, que vão de uma galeria de arte e exposições até um projeto musical, núcleo cultural do vinho como expressão regional, as oficinas do ciclo “Conversa de Professor” e as atividades da Cultura Doadora, de conscientização nas escolas e universidades sobre doação de órgãos. “Nós sindicalistas sempre estamos pedindo apoio da sociedade. Quando temos uma organização maior – como a dos bancários ou a do Sinpro – é a vez de contribuirmos com a sociedade, tanto na política quanto na cultura”, finalizou.
Mundo mais conservador
A também professora e representante do Ministério da Cultura na Região Sul, Margarete Moraes, ex-secretária de Cultura de Porto Alegre nas gestões petistas, fez uma reflexão. “A medida em que o mundo vem ficando mais conservador nos últimos anos, temos que lutar também com as armas da cultura para ampliar a conscientização, inclusive dentro dos sindicatos”. Margarete destacou o papel do SindBancários e Sinpro, entre outros órgãos ligados aos trabalhadores. “O importante é que esta atuação se dá em todas as fases, do planejamento, produção, divulgação até o debate e a reflexão destes produtos culturais”, assinalou.
“A arte sempre provoca, desnuda o invisível, trabalha com as opções e escolhas”, destacou Margarete Moraes. “As oficinas de criação são fundamentais não só para criar escritores e artistas, mas para que as pessoas sejam mais felizes”, arrematou. Ela também lembrou o protagonismo da Administração Popular de Porto Alegre nas primeiras edições do FSM. “A Agenda 21 da Cultura surgiu do primeiro encontro mundial de autoridades da cultura, que depois foi referendada pelo Fórum de Barcelona”, assinalou a representante do MinC.
Margarete citou o papel de incentivo direto aos trabalhadores para o conhecimento cultural, desempenhado pelo Ministério, a partir de 2003, exemplificando com o Vale Cultura. “Em 2015, foram 254 mil trabalhadores beneficiados por este projeto na Região Sul, através dos sindicatos e outras entidades”, disse.
Vitor Ortiz, que coordenou o debate no Sindicato, lembrou que a discussão é muito ampla e, na reunião desta quarta-feira, apenas começou-se a tocar em determinados temas; “Fica claro que precisamos aprofundar as questões culturais e sua interface com o sindicalismo”, afirmou. “Com isso, poderemos elaborar e qualificar ainda mais as políticas e práticas voltadas a este setor”, concluiu.
Na plateia do debate, no auditório do SindBancários, participação atenta de muitos associados, sindicalistas e participantes do Fórum Social Mundial Temático, que está acontecendo em Porto Alegre, e que também fizeram suas colocações.
Confira abaixo a programação do SindBancários no Fórum Social Mundial Temático
Quinta-feira, 21/1 – 9h – Auditório da Casa dos Bancários
Debate sobre saúde bancária
Promoção: SindBancários e Sindicato dos Bancários do Paraná
Sexta-feira, 22/1 – 9h – Auditório da Casa dos Bancários
Debate sobre saúde bancária
Endereço da Casa dos Bancários (sede do SindBancários)
Rua General Câmara, 424 – Centro Histórico – Porto Alegre