Santander muda estrutura dirigente e dá mais unidade a gestão no Brasil

Valor Econômico
Vera Brandimarte, Cristiane Lucchesi e Fernando Travaglini

Foi dada a largada do processo de unificação do comando do Santander no Brasil. A direção do banco está passando por sua primeira grande mudança desde que foi montado o novo time, em 2008, após a compra do ABN AMRO Real.

Segundo o Valor apurou, a alteração na equipe e estrutura dirigente da instituição financeira, que está apenas começando, é resultado de uma avaliação, inclusive da matriz em Madri, de que o processo de acomodação entre as equipes de executivos dirigentes advindos dos dois bancos, que tinham culturas distintas, está se estendendo demais. Além disso, mais do que nunca o Santander precisa de bons resultados no Brasil, dada a crise profunda na Espanha e a expectativa de lenta recuperação na Europa.

Daqui para frente, trata-se não apenas de criar uma cultura única e uma marca só, com agências unificadas. Trata-se de criar um grupo dirigente coeso, nos quais os choques e disputas por espaço sejam reduzidos em prol da busca maior por resultado.

Ao que tudo indica, o time de executivos vindo do ABN AMRO Real pode estar ganhando mais poder, embora a primeira mudança, na área de global banking and markets, que compreende também a tesouraria, possa sugerir o contrário. A área agora será comandada por um espanhol, Ignacio Dominguez-Adame, que era responsável global pela área de crédito do banco no mundo todo. Ele virá ao Brasil para cuidar do banco de investimento – assessoria nas fusões e aquisições, emissões de ações, títulos – relacionamento com os maiores clientes e multinacionais, crédito ao comércio exterior e outros segmentos do atacado.

Dominguez é muito próximo de Adolfo Lagos, homem forte do banco na Espanha e responsável por toda a área de global banking and markets do Santander. Mas também é bem-vindo pelos executivos do ABN AMRO Real. Para todos os efeitos, ele deve responder pelo menos inicialmente para José de Menezes Berenguer Neto, hoje vice-presidente sênior, responsável pelo atacado no Brasil. Berenguer veio do ABN Real com o presidente do Santander, Fábio Barbosa, e é tido como seu segundo homem.

Mas a expectativa no banco é que Berenguer assuma logo mais a área do varejo. Já estão sob seus cuidados a área de gestão de recursos de terceiros, o private banking (gestão de fortunas das pessoas físicas ricas) e a financeira, que tem forte atuação no setor de veículos. Berenguer ocuparia funções de José de Paiva Ferreira, responsável pelos de canais de distribuição de marketing e produtos de varejo. Todo esse poder a mais para Berenguer o deixaria na linha de frente para no futuro suceder Fábio Barbosa, caso ele venha a assumir novas funções na estrutura do Santander ou, como tanto já se especulou, venha a ocupar cargo relevante em Brasília e em um futuro novo governo.

O comando do varejo do banco, antes dividido entre um diretor da rede Santander e outro da rede Real, já foi separado de outra forma: de São Paulo para baixo, as agências dos dois bancos estão agora sob uma única direção, e, no resto do país, há outro comando para todas as agências.

João Teixeira, que também veio com Fábio Barbosa do ABN AMRO Real e é hoje o diretor vice-presidente responsável pela área de corporate e de banco de investimento, ganha a área de middle market (empresas médias), que deverá ser unificada com o corporate.

João Guilherme de Andrade Consiglio, também ex-ABN AMRO e cria de Barbosa e Teixeira, responsável pelo crédito ao comércio exterior e transações de tesouraria para clientes (global transaction banking), será o responsável pelo middle market e vai reportar para Teixeira. João Eduardo de Assis Pacheco Dacache, que respondia pelo middle market, diretor estatutário de mais de dez anos de Santander e de muita confiança da matriz, está deixando o banco. Ele ficou sem respaldo na gestão de Fábio Barbosa, que trouxe os executivos do Real para os postos-chave.

Sérgio Fraiman Blatyta, responsável pela tesouraria proprietária e formação de mercado, também está deixando o banco. Blatyta era uma espécie de braço direito do ex-presidente do Santander, Gabriel Jaramillo, que voltou para a Espanha logo após a fusão. Especula-se que José Roberto Machado Filho, hoje responsável por crédito imobiliário, assumiria a tesouraria. Machado Filho foi tesoureiro no ABN AMRO Real e é do time de Barbosa.

Também vai responder para Teixeira o executivo Luiz Fontoura de Oliveira Reis Filho, hoje responsável pelos clientes dos setores de óleo e gás, eletricidade, instituições financeiras, produtos químicos e serviços de saúde pública. Ele deverá cuidar do corporate. Andre Berenguer vai para a área de produtos.

Como em todos os movimentos que o Santander faz de aquisição, primeiro o banco dá muita liberdade ao recém adquirido e incorpora sua equipe, um ativo muito importante em uma aquisição. Só depois, a depender do resultado, a matriz pode influir com mais força na gestão ou na estrutura. Algumas áreas, no entanto, desde o princípio eram diretamente subordinadas à Espanha e assim permaneceram mesmo depois da fusão com o ABN AMRO Real – como controladoria e riscos, por exemplo.

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