Espanha quer sanear instáveis bancos de poupança

The Wall Street Journal
Jonathan House, de Madri

Enquanto o incêndio nos mercados financeiros batia às portas da Espanha, o primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero se reuniu ontem com o líder da oposição Mariano Rajoy numa tentativa de impedir que a turbulência atinja a economia do país.

Os dois políticos rivais já mostraram relutância em se reunir, mas foram forçados a isso por causa da contaminação da crise de dívida da Grécia no sul da Europa.

O resultado do encontro de ontem na capital espanhola foi um acordo para sanar os instáveis bancos de poupança, responsáveis por metade dos depósitos e do crédito no país. “O objetivo é fortalecer a confiança na economia”, disse o primeiro-ministro socialista, depois de uma reunião de três horas com o líder do Partido Popular, de direita. “Estamos numa situação crítica, como mostra a queda recente na produção e a falta de confiança dos mercados” na Espanha, disse Rajoy.

Zapatero e Rajoy concordaram ontem que é preciso forçar os combalidos bancos de poupança a fazer fusões com concorrentes mais sadios até um prazo estabelecido pelo governo em 30 de junho.

O acordo é importante porque muitos dos bancos de capital fechado da Espanha são controlados pelos governos regionais, que por sua vez são controlados por um dos dois principais partidos do país.

Mas nem esse pacto é garantia de que haverá alguma fusão de bancos. Os políticos também concordaram com as bases gerais de uma reforma na regulamentação que daria aos bancos de poupança um novo instrumento para levantar capital, entre outras coisas.

Antigamente, o governo minoritário de Zapatero parecia mais inclinado a buscar apoio dos partidos esquerdistas regionais no Parlamento espanhol. Mas, diante do aprofundamento da crise econômica, foi forçado cada vez mais a fechar acordos com o partido de Rajoy para aprovar medidas de austeridade que seus aliados tradicionais consideravam impalatáveis.

Os temores relacionados à economia espanhola foram alimentados esta semana pelo pacote de ? 110 bilhões (US$ 141,8 milhões) para socorrer a Grécia, anunciado pelo Fundo Monetário Internacional e outros governos da zona do euro, que as autoridades acreditam que servirá como barreira para impedir um contágio maior da crise grega.

O pacote terminou não convencendo os investidores internacionais de que a Grécia não vai entrar em moratória. As bolsas e os mercados de capitais da Espanha, de Portugal e de outros países da zona do euro caíram fortemente desde que o pacote foi anunciado, o que pode aumentar o custo do crédito para empresas, famílias e governos desses países.

“A pressão dos mercados pode parecer injusta, mas não pode ser ignorada”, disse Marco Annunziate, economista-chefe do UniCredit Group. “A Grécia nos ensinou que, a não ser que os políticos consigam progredir nos mercados, mesmo medidas corajosas podem chegar tarde demais para realmente ter algum efeito.”

A vantagem da Espanha é que a dívida do setor público continua a ser uma das menores da Europa, embora esteja aumentando rapidamente. A Comissão Europeia prevê que a dívida pública da Espanha chegará a 64,9% do PIB no fim do ano, ante média de 84,7% na zona do euro e os 124,9% da Grécia.

Annunziata disse que o nível de endividamento da Espanha “torna as preocupações com a sustentabilidade da dívida prematuras (…), mas está claro que isso não é nenhuma garantia de que a crise não vá sair do controle”.

O país tem outros problemas econômicos que a Grécia não tem. A Espanha enfrenta o colapso de um boom de construção que durou uma década e empurrou sua economia para uma recessão severa e as contas públicas para um déficit profundo.

No relatório periódico da Comissão Europeia sobre a economia divulgado ontem, a previsão é que o PIB espanhol vá cair 0,4% em 2010, o que tornaria o país a única economia de grande porte da Europa a encolher este ano.

O relatório também prevê que o déficit público apresentará uma queda modesta, de 11,2% em 2009 para 9,8%, indicando que o fardo do endividamento está aumentando rapidamente.

Zapatero e Rajoy estão cooperando, mas não concordam em tudo. Rajoy vem apoiando as medidas de cortes de custos do governo do país, que incluem um plano para cortar a folha de pagamento do setor público em 1,9% do PIB, mas é contra aumentar os impostos para cerca de 1,4% do PIB.

Analistas dizem que os planos do governo para reduzir o déficit precisam ser mais detalhados, e que as previsões de crescimento econômico que os sustentam são otimistas demais; o governo afirma que vai detalhar as novas medidas no orçamento de 2011, a ser apresentado em setembro.

Rajoy pediu a Zapatero que não espere e anuncie imediatamente novos cortes nos gastos públicos. “O exemplo da Grécia mostra que, se você não agir, outros agirão por você e forçarão decisões muito mais difíceis”, disse Rajoy a jornalistas.

Apesar de tudo, o sistema bancário espanhol resistiu relativamente bem à crise. Até agora só o pequeno banco de poupança Caja Castilla La Mancha fechou as portas. Entretanto, o desemprego de 20% e os ? 300 bilhões em empréstimos para incorporadoras imobiliárias com problemas estão pesando no setor e empurrando muitos desses bancos para cada vez mais perto da insolvência, dizem analistas e autoridades espanholas.

“No curto prazo, o maior risco é representado pela estabilidade do setor bancário”, disse o analista do BNP Paribas Luigi Sperenza.

Zapatero disse que o enfraquecimento de cerca de dois terços dos deficitários bancos de poupança do país é tamanho que eles terão de se fundir. Atualmente mais de 30 deles estão negociando fusões, mas em alguns dos casos as negociações se arrastam há mais de um ano por causa da interferência de líderes políticos regionais, que temem perder o controle de suas instituições locais de financiamento.

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