(São Paulo) O feriado paulista comemorado nesta semana, de 9 de julho, para quem não sabe, comemora o Movimento Constitucionalista de 1932, quando a elite cafeeira paulista, afastada do centro do poder nacional pela Revolução de 1930, se levanta contra o governo de Getúlio Vargas. Essa é a celebração dos paulistas. Para os trabalhadores do ramo financeiro, no entanto, o ano de 1932 tem outro significado: foi quando ocorreu a primeira greve de bancários no Brasil, iniciando uma tradição de luta da categoria, que se tornaria a mais organizada do país.
A greve ocorreu na filial de Santos do Banco do Estado de São Paulo. Os 130 funcionários da unidade enviaram um memorando com suas reivindicações e a solicitação de uma audiência com a direção do banco, em São Paulo. Os bancários queriam soluções para quatro problemas: supressão das gratificações semestrais no valor de três salários; fim do abono de 5% depois de cinco anos de serviço; demissão de funcionários que, encerrada a licença por motivos de saúde, não estivessem recuperados; e o valor das horas extras noturnas para a realização dos trabalhos de liquidação dos estoques de café.
No dia 18 de abril, os funcionários vão até a matriz, mas não são recebidos. Em vez disso, são informados de que o superintendente do banco está indo para Santos e pretende demitir o comando do movimento. A ação da diretoria do banco encerra as negociações: pela primeira vez no país, uma categoria do setor de serviços declara greve. Os funcionários da Matriz, em São Paulo, também param, em solidariedade. A Tribuna de Santos do dia 19 de abril comenta o caso com surpresa: “Efetivamente, ao menos em nosso país, movimentos de tal natureza [greves] circunscreveram-se sempre aos meios operários propriamente ditos, que, não raro, têm obtido consideráveis conquistas (…) Mas nas esferas do comércio [os bancários continuavam sendo vistos como integrados à categoria dos comerciários], o recurso extremo da greve jamais fora testado”.
A coragem e o pioneirismo dos bancários foram recompensados: todas as reivindicações foram aceitas pelo banco já no dia seguinte, com a visita do secretário da Fazenda do Estado de São Paulo a Santos. A vitória fortalece os bancários e abre as portas para uma mudança nas estratégias de luta do sindicalismo brasileiro.
Além disso, já no ano seguinte, em 1933, a categoria alcança as seis horas de trabalho, por meio de pressão junto ao Ministério do Trabalho. Em 1934, nos dias 5, 6 e 7 de julho, os bancários fazem a primeira paralisação nacional da categoria. E a história de combatividade da categoria bancária, a única do país a ter uma convenção coletiva nacional, continua até os dias de hoje.
Informações do livro A História dos Bancários – Lutas e Conquistas 1923-1993, publicado pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.
Fonte: Contraf-CUT