Por William Mendes*
Um livro simples e fundamental para aqueles que buscam na leitura muito mais que ler palavras, buscam ler sentidos.
“A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”.
O livro é constituído de três artigos do educador Paulo Freire. Artigos que elucidam questões como “o mito da neutralidade da educação”; explica sobre a idéia equivocada de acharem que o educando é uma folha em branco, sem conhecimento prévio; e um dos principais focos dos artigos é: estudar não é só um direito mas um ato revolucionário.
Além da importância do ato de ler, Freire descreve como devemos organizar as bibliotecas para a educação conscientizadora dos povos.
Também dedica uma boa parte do livro a nos mostrar como foi o processo revolucionário de educar o povo de São Tomé e Príncipe – alfabetização e pós-alfabetização, povo recém-liberto do jugo colonialista português e em busca da “criação de uma nova sociedade”.
Para nós que buscamos e pensamos um outro mundo possível, mais solidário, paritário e de respeito às diversidades, ficam da leitura ensinamentos básicos:
– a importância na forma correta de ler o texto em relação com o contexto;
– o povo tem o direito (e o dever) de ser sujeito e não objeto na construção da realidade;
– a aprendizagem da leitura e a alfabetização são atos de educação e educação é um ato fundamentalmente político;
– a insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada.
Paulo Freire nos ensina a importância fundamental de organizarmos a nossa palavra ao contexto de nossos educandos. É a idéia do universo vocabular dos grupos: “palavras do Povo, grávidas do mundo”.
A leitura crítica da realidade no processo de educação associada a práticas de mobilização e organização “pode constituir-se num instrumento para o que Gramsci chamaria de ação contra-hegemônica”.
O mito da neutralidade da educação leva à negação da natureza política do processo educativo.
Segundo Freire é impossível separar o inseparável: a educação da política.
Mas, se não é possível pensar a educação sem pensar o poder e sem pensá-la como prática autônoma ou neutra, isto não significa que a educação seja uma pura reprodutora da ideologia dominante.
Como cita o professor “o que temos de fazer então, enquanto educadores ou educadoras, é aclarar, assumindo a nossa opção, que é política, e sermos coerentes com ela, na prática”.
Nessa relação dialógica, que nos inclui a todo(a)s como pais e mães, sindicalistas, educadore(a)s, devemos escutar o(a)s outro(a)s pois “cada um de nós é um ser no mundo, com o mundo e com os outros”.
Toda a questão do conhecimento passa pelos princípios ensinados a nós de que há uma relação dinâmica entre a leitura da palavra e a “leitura” da realidade. Também é necessário que os povos sejam sujeitos.
Terminamos com o ensinamento sobre o ato de estudar:
“Estudar exige disciplina. Estudar não é fácil porque estudar é criar e recriar é não repetir o que os outros dizem.
Estudar é um dever revolucionário!”.
Leiam esse pequeno livro (87 páginas) com grandes ensinamentos.
*William Mendes é secretário de Imprensa da Contraf-CUT