Os bancos que operam no Brasil criaram 18.167 novos postos de trabalho entre janeiro e setembro de 2011, mas aumentaram as demissões e ampliaram a prática da rotatividade para diminuir o salário dos bancários e aumentar os lucros. A geração de empregos podia ter sido maior, se o Itaú Unibanco e o Santander não tivessem cortado 2.496 e 1.636 vagas no mesmo período, respectivamente.
Os números são da 11ª Pesquisa de Emprego Bancário, elaborada desde 2009 pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese), com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego.
O levantamento também considera os dados divulgados nos balanços dos cinco principais bancos (Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander), que revelam os funcionários da holding.
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“A geração de empregos é positiva, mas os bancos têm condições de aumentar as contratações e abrir mais vagas, na medida em que os bancos lucraram mais de R$ 37,2 bilhões nos primeiros nove meses deste ano”, avalia Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
O que preocupa é a queda no ritmo da criação de empregos no terceiro trimestre. Houve uma redução de 23,32% no terceiro trimestre em relação a igual período do ano passado. Houve abertura de 6.189 novas vagas contra 8.071 no mesmo trimestre de 2010.
Os empregos gerados nos primeiros nove meses do ano foram o resultado de 46.064 admissões e 27.897 desligamentos. Esse saldo positivo significa expansão de 6,45% no emprego bancário em relação ao mesmo período de 2010, quando foram criadas 17.067 novas vagas. Já o crescimento em relação ao número de empregados que havia no setor em dezembro de 2010 foi de 3,76%, totalizando agora 483.097 trabalhadores.
Na comparação com o saldo de 1.805.337 empregos gerados pela economia brasileira nos primeiros nove meses do ano, os bancos contribuíram com apenas 1,01% desse total. No mesmo período, a remuneração média dos admitidos foi de R$ 2.487,74, o que revela uma redução de 38,45% frente à remuneração dos desligados, que foi de R$ 4.041,62.
De janeiro a setembro, as demissões sem justa causa voltaram a ser o principal motivo dos desligamentos, atingindo 47,8% do total de despedidas. Com isso, o percentual dos desligamentos a pedido que, nas pesquisas anteriores eram responsáveis pela maior parte da saída de empregados nos bancos, caiu ficando em 45,9% no período.
“Esses dados comprovam a crueldade da política de rotatividade dos bancos, que demitem trabalhadores para baixar custos e turbinar ainda mais os seus lucros, demonstrando falta de compromisso com o desenvolvimento econômico e social do país”, destaca o presidente da Contraf-CUT.
20% dos desligados tem menos de um ano de banco
A pesquisa Contraf-CUT/Dieese revela que, do total de 27.897 desligados dos bancos brasileiros em 2011, apenas 24,63% (ou 6.782 pessoas) estavam no emprego há pelo menos dez anos. Os trabalhadores com até um ano de banco somam 20,67% dos desligamentos nos bancos em 2011, enquanto aqueles com mais de um e menos de cinco anos no emprego, representam 38,55% do total de desligados. Ou seja, 59,22% dos bancários são desligados antes de completarem cinco anos no emprego, o que evidencia a alta rotatividade no setor.
“É um absurdo que, de cada cinco trabalhadores, um deixe o banco antes de completar 12 meses casa. A altíssima rotatividade torna instável o emprego bancário e acaba com as perspectivas de carreira, especialmente no setor privado”, critica Carlos Cordeiro.
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Em setembro de 2010, o número de trabalhadores com até 5 anos representava 57,6% do total de desligados, sendo 15,7% os que saíram antes de completarem 1 ano, como descrito na tabela abaixo.
Total de desligados por tempo de emprego
Brasil – Janeiro a setembro de 2010 e 2011
Tempo empregado |
Desligados (01a 09/2010) |
Part. % |
Desligados (01a 09/2011) |
Part. % |
De 1,0 a 11,9 meses |
4.183 |
15,71% |
5.691 |
20,40% |
De 12,0 a 59,9 meses |
11.157 |
41,89% |
10.616 |
38,05% |
De 60,0 a 119,9 meses |
3.696 |
13,88% |
4.447 |
15,94% |
120 meses ou mais |
7.196 |
27,02% |
6.782 |
24,31% |
Ignorado |
402 |
1,51% |
361 |
1,29% |
Total |
26.634 |
100,00% |
27.897 |
100,00% |
Fonte: MTE/ Caged. Elaboração: Dieese/Subseção Contraf-CUT
Maioria dos desligamentos são demissões sem justa causa
A demissão sem justa causa avançou para 47,79% nos primeiros nove meses do ano e tornou-se o principal tipo de desligamento da categoria, ultrapassando os 45,90% dos casos de demissão a pedido, que havia sido responsável pela maior parte dos desligamentos no ano passado.
“Essa mudança no tipo de desligamentos é reflexo de milhares de demissões ocorridas no Itaú Unibanco e Santander, que fecharam 4.132 vagas no período, o que é totalmente injustificável diante dos lucros gigantescos dessas instituições”, aponta o presidente da Contraf-CUT.
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Desligados estão nas maiores faixas de remuneração
O saldo positivo do emprego nos bancos em 2011 está concentrado nas faixas salariais mais baixas, especialmente no segmento entre 2,01 a 3,0 salários mínimos, que registrou um saldo de 23.948 postos de trabalho.
A partir daí, todas as faixas apresentam saldo negativo de emprego, com destaque para o segmento de 3,01 a 7,0 salários mínimos, onde houve a diminuição de 4.535 postos de trabalho. Esse movimento deve-se ao fato de a grande maioria das admissões (68,3%) estar concentrada na faixa de até 3 salários mínimos, enquanto os desligamentos se distribuíram pelas faixas superiores de remuneração.
“Isso prova que os bancos continuam utilizando a alta rotatividade como instrumento para reduzir seus gastos com a folha de pagamento, demitindo os bancários com salários mais altos”, salienta Carlos Cordeiro.
Entre os desligados, 47,2% destes postos estavam nas faixas a partir de 3 salários mínimos. Com isso, a remuneração média de quem é admitido (R$ 2.487,74) é 38,45% inferior à média salarial dos desligados (R$ 4.041,62). As admissões na faixa de até 3 salários mínimos, em setembro de 2010, correspondiam a 59,65% do total de admissões.
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Norte e Nordeste: maior percentual de crescimento de empregos
A Região Sudeste apresentou o melhor desempenho nos primeiros nove meses de 2011, com a criação de 7.915 postos de trabalho, mas as regiões Norte e Nordeste apresentaram maior percentual de crescimento na geração de postos de trabalho do setor bancário.
Região do País |
Admitidos |
Desligados |
Saldo |
Diferença da Rem. Média |
||||
Nº de trabalhadores |
Part. |
Rem. Média |
Nº de trabalhadores |
Part. |
Rem. Média |
|||
Norte |
2.341 |
5,08% |
1.568,26 |
792 |
2,84% |
2.957,86 |
1.549 |
-46,98% |
Nordeste |
7.135 |
15,49% |
1.666,17 |
2.250 |
8,07% |
3.314,44 |
4.885 |
-49,73% |
Sul |
6.031 |
13,09% |
1.972,15 |
3.618 |
12,97% |
3.892,43 |
2.413 |
-49,33% |
Centro-Oeste |
3.090 |
6,71% |
1.880,42 |
1.685 |
6,04% |
3.910,40 |
1.405 |
-51,91% |
Sudeste |
27.467 |
59,63% |
2.961,05 |
19.552 |
70,09% |
4.208,12 |
7.915 |
-29,63% |
Total |
46.064 |
100,00% |
2.487,74 |
27.897 |
100,00% |
4.041,62 |
18.167 |
-38,45% |
Fonte: MTE/ Caged. Elaboração: Dieese/Subseção Contraf-CUT
Em relação ao período de janeiro a setembro de 2010, as Regiões Norte e Nordeste destacam-se pela significativa expansão dos postos de trabalho no setor, com crescimento de 125,47% e 478,11%, respectivamente, apesar de expressiva diferença de remuneração entre admitidos e desligados.
Em sentido contrário, a Região Sudeste, apesar do maior saldo de empregos, apresentou queda de 31,73% em relação ao mesmo período de 2010. Em redução também, porém, não tão significativa, aparecem as regiões Sul (-4,55%) e Centro-Oeste (-0,57%), como é possível observar na tabela abaixo.
Região |
Saldo (jan a set. 2010) |
Saldo (jan a set. 2011) |
Variação |
Norte |
687 |
1.549 |
125,47% |
Nordeste |
845 |
4.885 |
478,11% |
Centro-Oeste |
1.413 |
1.405 |
-0,57% |
Sudeste |
11.594 |
7.915 |
-31,73% |
Sul |
2.528 |
2.413 |
-4,55% |
Total |
17.067 |
18.167 |
6,45% |
Fonte: MTE/ Caged. Elaboração: Dieese/Subseção Contraf-CUT
Itaú e Santander fecharam 4.132 postos de trabalho
A pesquisa inclui também um olhar sobre os dados divulgados nos balanços dos cinco principais bancos (Itaú Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Santander). Apesar dos lucros bilionários, o Itaú e Santander fecharam 2.496 e 1.636 postos de trabalho, respectivamente, nos primeiros nove meses deste ano.
O número de funcionários do Itaú era de 102.316 trabalhadores em dezembro de 2010 e cresceu para 104.022 em março de 2011. No entanto, houve fechamento de 4.202 postos entre março e setembro, apresentando 99.820 empregados em setembro. Isso significa uma queda de 2,44% no saldo de empregos em relação ao final do ano passado e de 4,04% na comparação com março de 2011.
No Santander, o número total de funcionários, em dezembro de 2010, era de 54.406 trabalhadores. Ao final do terceiro trimestre de 2011, o número registrado foi 52.770, o que significa um corte de 1.636 empregos (queda de 3% em relação ao final do ano passado).
Enquanto isso, Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal apresentaram saldos positivos de 6.086, 4.568 e 1.990 empregos, respectivamente, o que foi decisivo para geração de 18.167 postos de trabalho em todo setor bancário nos primeiros nove meses do ano.
Bancos |
Número de empregados |
Saldo em 2011 |
Variação Dez/10-Set/11 |
|||
4tri/10 |
1tri/11 |
2tri/11 |
3tri/11 |
|||
Bradesco |
95.248 |
96.749 |
98.317 |
101.334 |
6.086 |
6,39% |
Banco do Brasil* |
109.026 |
111.224 |
112.913 |
113.594 |
4.568 |
4,19% |
Caixa Econômica Federal |
83.185 |
83.506 |
84.420 |
85.175 |
1.990 |
2,39% |
Santander |
54.406 |
54.375 |
53.361 |
52.770 |
-1.636 |
-3,01% |
Itaú* |
102.316 |
104.022 |
101.531 |
99.820 |
-2.496 |
-2,44% |
Total |
444.181 |
449.876 |
450.542 |
452.693 |
8.512 |
1,92% |
“A economia do Brasil está crescendo e, por isso, todos os grandes bancos deveriam aproveitar este momento para abrir novas agências e postos de atendimento, contribuindo para a inclusão bancária de milhões de cidadãos brasileiros e garantindo emprego decente para os bancários”, conclui Carlos Cordeiro.