Entidades da Frente Brasil Popular e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, se reuniram nesta quinta-feira (10) em Brasília para discutir pontos de uma agenda que será colocada na mesa possivelmente na semana que vem, quando os movimentos sociais devem ter um encontro com a presidenta Dilma Rousseff. A reunião de hoje foi “preparatória”, segundo expressão de Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares.
O diálogo direto com Dilma ainda não foi marcado por dificuldades de agenda. Fora as intensas e cotidianas reuniões para avaliar a crise política, hoje, por exemplo, a presidenta viajou à Argentina, para a posse do presidente Mauricio Macri. O dia 17 pode ser a data da reunião, mas ainda não foi confirmada. Segundo a CUT, Dilma manifestou interesse em receber pessoalmente o documento dos movimentos sugerindo medidas de estímulo à geração de empregos, maior oferta de crédito para consumo e capital de giro para as empresas recuperarem a produção.
Tanto Raimundo Bonfim quanto a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral, ressaltaram à RBA que, ao contrário do que alguns veículos da imprensa tradicional divulgaram nos últimos dias, o movimento social não está condicionando a luta contra o golpe (via impeachment) e as manifestações de rua a atos do governo que atendam suas reivindicações.
“Afirmamos que não condicionamos nossa posição contra o impeachment ao atendimento da pauta dos movimentos”, diz Bonfim. “A reunião de hoje é para seguir pautando os avanços, mas não, como divulgou a imprensa, que os movimentos estariam condicionando o apoio à luta (contra o impeachment) ao atendimento de nossas bandeiras”, acrescenta Carina. “O que os movimentos sociais têm consciência é de que hoje o inimigo são os que querem o impeachment. Se acontecer o impeachment, as coisas vão ficar muito piores, seja na luta contra a ajuste fiscal, seja contra o conservadorismo”, afirma a líder estudantil.
O coordenador da CMP explica que as entidades continuarão indo às ruas para defender o mandato de Dilma sem condicionamentos, mas afirma que uma “sinalização, pelo governo, de atender as demandas dos trabalhadores e da sociedade fortaleceria muito os movimentos sociais em sua militância contra o impeachment e pela democracia”. “Eliminado o fantasma do impeachment, o governo terá melhores condições de dialogar no sentido de atender as reivindicações.”
Na reunião com Berzoini, foram discutidos “pontos gerais” e “específicos”, nas palavras de Bonfim. A necessidade de mudar a politica econômica, a manutenção do emprego e renda, uma política de desenvolvimento e redução das taxas de juros estão entre os primeiros. Ele lembra o velho círculo vicioso pelo qual a inibição do crédito e a atual política econômica e juros altos reduzem o emprego, o que por sua vez diminui a arrecadação do governo, o que produz mais retração econômica.
Segundo Bonfim, “de um ponto de vista mais específico, algumas pautas são a priorização da reforma agrária, a continuidade do Minha Casa Minha Vida e a implantação do Plano Nacional da Educação, entre outras”.
As entidades também disseram a Berzoini considerarem fundamental que o governo se posicione contra o projeto de lei do antiterrorismo, que está trancando a pauta da Câmara, principalmente depois que o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) retirou do texto a exceção aos movimentos sociais, o que implicaria na possibilidade de as manifestações de rua serem enquadradas como terrorismo. A manifestação da presidenta contra o auto de resistência e o estabelecimento de um diálogo efetivo com os movimentos sociais também são pautas que devem constar da reunião com Dilma.
Estiveram hoje no Planalto a UNE, CMP, CUT, MST, CTB, Marcha Mundial das Mulheres,Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Unegro, MNDH e Levante Popular da Juventude.