ABN Real e PanAmericano podem estar negociando fusão

Diz o velho ditado que onde há fumaça, há fogo. O jornalista Ancelmo Góis publicou em sua coluna no jornal O Globo em 22 de março que o banco ABN Real estaria negociando a compra do PanAmericano, braço financeiro do Grupo Sílvio Santos. A operação não foi noticiada em nenhuma outra publicação. O UNIDADE entrou em contato com as assessorias de imprensa dos dois bancos, que negaram a negociação. O Banco Central também foi procurado e informou que não foi comunicado oficialmente sobre o negócio.

Mas o passado recente mostra que os envolvidos em transações deste tipo e até os órgãos reguladores custam muito a se pronunciar a respeito de grandes operações entre empresas, mesmo quando a informação já circula amplamente na mídia. Foi assim desde o final de 2006, quando os rumores sobre a venda do grupo ABN Amro começaram a ganhar espaço nas publicações de economia. Apenas no segundo trimestre de 2007 os boatos foram confirmados, quando já estavam avançadas as conversações entre a direção do grupo holandês e o banco britânico Barclays – que acabou sendo derrotado pelo consórcio formado por Royal Bank of Scotland, Fortis e Santander.

De concreto, há apenas a abertura do capital do PanAmericano, em novembro de 2007, que vendeu parte de sua participação acionária. O banco, através de sua assessoria, informou que a venda das ações não teve impacto no desempenho da empresa, que cresceu nada menos que 50% em relação a 2006. A empresa acredita que seu espantoso crescimento venha das operações que realiza. A carteira de crédito da instituição se valorizou muito no ano passado, apresentando aumento de 60% em crédito pessoal e crédito direto ao consumidor e um impressionante crescimento de 155% na concessão de crédito consignado.

Todos ganham

A fusão entre as duas empresas seria vantajosa para o ABN e para o Santander, que comprou as operações brasileiras do grupo. O PanAmericano é forte no segmento de crédito pessoal e crédito consignado, enquanto a Aymoré, braço financeiro do ABN Real, trabalha apenas com financiamentos, principalmente de veículos, e raramente aparece, não tendo lojas próprias ou qualquer sinalização para os locais onde são feitas as negociações. Já a Olé, financeira do Santander, tem atuação muito pequena, também sem lojas próprias, funcionando dentro das agências do banco.

Já o PanAmericano parece ser “bola da vez” do Grupo Silvio Santos, hipótese que é reforçada pela abertura de capital da empresa. O empresário e apresentador de TV vem se desfazendo de seus negócios e enxugando o “império do Baú” e já circulam rumores de que ele estaria negociando a venda de sua emissora de televisão, o SBT.

Os especialistas em economia e mercado financeiro ainda não estão comentando a possível fusão, mas o jornalista Ancelmo Góis é famoso por antecipar as notícias e dificilmente erra. A negociação deve estar correndo em sigilo, como é praxe neste tipo de situação, e é provável que, dentro de alguns meses, o boato se confirme.

Enquadramento

Para os funcionários, o grupo PanAmericano não é um baú de felicidade. Diretores das empresas informaram por e-mail, através de sua assessoria de imprensa, que fazem enquadramento sindical correto de seus empregados – divididos entre bancários, securitários e comerciários – e que não há processos na justiça trabalhista contra eles por este motivo. Mas isto não é verdade. Em Bauru, interior de São Paulo, o banco perdeu, em primeira instância, uma Ação Civil Pública com este tema ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho junto à 1ª Vara do Trabalho de Bauru em resposta a uma denúncia feita pelo sindicato dos bancários do município. O banco recorreu e o processo foi para o Tribunal, em Campinas.

No Rio de Janeiro, há uma ação semelhante, ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho, atendendo a uma denúncia do sindicato local. Já houve julgamento em primeira instância, com atendimento parcial dos pleitos colocados. A Justiça Trabalhista não obrigou o banco a enquadrar seus empregados como bancários, conforme demanda da Promotoria do Trabalho, mas concordou que o banco deve enquadrar como bancários todos os funcionários contratados futuramente para realizar serviços típicos da categoria. Diante desta sentença, tanto o banco quanto o sindicato recorreram da decisão.

Distorções

Carlos Augusto Aguiar, o Carlão, diretor do Sindicato do Rio que cuida dos problemas relacionados às financeiras, esclarece que o juiz não condenou o banco a enquadrar os funcionários por conta de uma manobra da empresa. No Rio de Janeiro, não há agências bancárias propriamente ditas, mas lojas da financeira, que atua concedendo empréstimo pessoal e consignado e crédito direto ao consumidor, entre outras modalidades. Só que, no perfil informado no balanço do grupo, há um banco múltiplo, com autorização de funcionamento do Banco Central desde 1990, uma seguradora, uma empresa de leasing, uma corretora de investimentos – DTVM – e um consórcio, mas não uma financeira. Portanto, os empregados que trabalham com as operações de crédito não podem ser enquadrados sequer como financiários, e, em hipótese alguma, como comerciários, já que a empresa os chama de “promotores de vendas”. O que o PanAmericano considera – assim como diversas outras empresas do setor – é que os trabalhadores que atuam captando os clientes e fazendo as transações de empréstimo são comerciários.

Os empregados do PanAmericano estão sendo explorados. Têm jornadas mais longas e expediente aos sábados, ganham menos e não têm direito a benefícios conquistados pelos trabalhadores dos bancos. É como se os bancários e a legislação trabalhista brasileira tivessem voltado décadas no tempo.

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