Michael Roberts
do blogue ‘The Next Recession’ (publicado em Carta Maior
O banco britânico Banco Real da Escócia – ‘Royal Bank of Scotland’ (RBS) – foi multado em 390 milhões de libras por seu papel no esquema ilegal de fixação da libor, a taxa de juro interbancária. É um valor que será somado à multa já emitida pelos reguladores dos Estados Unidos pela mesma infração.
Como eu expliquei em um artigo anterior, a Libor serve de piso para muitas outras taxas de juros que afetam você e eu, como taxas hipotecárias, de depósito bancário ou de empréstimo de curto prazo.
A Libor deveria ser definida no processo de livre-mercado, segundo a demanda e oferta de empréstimos. Mas agora nós sabemos que, durante anos, os maiores bancos internacionais – mais de 20 – manipularam o mercado fixando a taxa em negociações secretas entre eles e, especialmente, dentro de cada banco.
So the Libor each day was more a product of football match fixing than due to the ‘free flow of market agents’. As a result, the interest rates for borrowers across the world were distorted and lenders and borrowers alike were defrauded.
Assim, a Libor parece mais um produto parecido com os resultados manipulados do futebol do que do “livre fluxo dos agentes”. Como resultado, as taxas de juros para mutuários em todo o mundo foram distorcidas e credores e devedores acabaram enganados.
Como Costas Lapavitsas e Alexis Stenfors apontaram no ‘Financial Times’:
“Manipulação resulta em transferência de riqueza da sociedade para os bancos. Igualmente grave é o impacto sobre a política monetária. Com a Libor afetando equivocadamente o mercado, o banco central – que a usa como sinal – está conduzindo uma política a partir de bases erradas, com significantes custos. É razoável supor, por exemplo, que a resposta dos bancos centrais para a crise de liquidez de 2008 foi muito lenta porque as taxas com as quais os bancos transacionavam até 2007 tinham sido substancialmente mais altas do que a Libor”.
Originalmente, o escândalo apareceu a partir das operações de um outro banco britânico, o Barclays, o que na ocasião causou a demissão de seu executivo-chefe, Bob Diamond, além de uma multa de 450 milhões de dólares. Mas agora a trapaça do RBS parece ter sido ainda pior.
E este é o ponto que mais choca – a manipulação da Libor continuou sob o olhar “vigilante” do atual chefe do RBS, Stephen Heston, nomeado quando o banco foi nacionalizado pelo governo britânico depois que ele foi colocado de joelhos pela gestão anterior sob o notório comando de Fred Goodwin.
Agora, é revelado que por dois anos após Heston ter começado no posto, aqueles responsáveis por definir a Libor no banco – então público – manipularam a taxa sabendo que isso era ilegal. E o comando da instituição não fez nada durante dois anos para descobrir o que se passava.
Stephen Hester diz: “Nós condenamos o comportamento dos indivíduos que buscavam influenciar a Libor em nosso banco de 2006 a 2010”. Mas o regulador diz que houve um problema com o RBS em 2011: “O RBS não começou a ajustar tais sistemas e controles até março de 2011, e as suas medidas iniciais foram inadequadas porque elas não enfrentavam o risco de que os operadores de derivativos fariam pedidos aos ‘primary submitters’…”
O chefe do departamento de operações foi demitido, mas, é desnecessário dizer, Heston, sua diretoria e a maioria dos operadores saíram sem uma única multa e muito menos uma acusação criminal ou condenação.
Na verdade, o governo prefere continuar com o “business as usual”, na esperança de que, assim que possível, o preço das ações dos bancos volte ao valor pago pelo contribuinte, de modo a reprivatizar o banco. Com base nessa política, o governo vai permitir que esses criminosos para saiam ‘realmente’ impunes!
Claro, talvez a multa de 390 milhões de libras acaba voltando para os bolsos do contribuinte. Mas esse dinheiro vem dos lucros do RBS e dos dividendos devidos ao Estado. Então é ‘Pedro pagando para Paulo’. Isso repete a principal lição.
A nacionalização da RBS e Lloyds Bank foi realizada apenas para salvar os bancos. Não era para dar o controle ao eleitorado. O governo trabalhista anterior e este governo de coalizão continuaram com a política de controle ‘à distância’.
Isso significa que aos bancos foi permitida a manutenção de suas atividades criminosas e seus executivos foram dispensados responder a qualquer irregularidade. Ao invés de usar o controle de público para prestar um serviço bancário adequado para a economia, os bancos estão sendo preparados para seu retorno à propriedade privada com fins lucrativos.
Como Lapavitsas e Stenfors dizem: “A fixação da Libor é feita através de um encontro privado entre os bancos com o objetivo de que seus interesses sejam atendidos. A resposta é que é necessária uma intervenção pública no processo de fixação de taxas, quer através do banco central ou de outra forma. Essa é a solução política real”. Mas, infelizmente, nada vai mudar.
*Publicado originalmente em http://thenextrecession.wordpress.com/