Maiores bancos do mundo precisam de US$ 566 bi para cumprir Basileia 3

Assis Moreira
Valor Econômico – de Genebra

Os 29 maiores bancos do mundo precisarão levantar US$ 566 bilhões de capital adicional, ou 23% a mais do que tinham ao final de 2011, para se adequarem às regras mais duras de capital mínimo do Acordo de Basiléia 3.

A estimativa é da agência de classificação de risco Fitch e significa que o capital adicional necessário representa três vezes os ganhos combinados desse grupo de bancos considerados grandes demais para quebrar.

Esse grupo de bancos tinha US$ 47 trilhões em ativos no total ao final de 2011. Embora o Acordo de Basiléia 3 deva ser implementado integralmente até dezembro de 2018, os bancos enfrentam pressões do mercado e de autoridades supervisoras para se capitalizarem mais rapidamente.

Para a Fitch, há três meios de fazer isso: retenção dos ganhos por pelo menos três anos, emitir novas ações ou reduzir os ativos ponderados pelo risco. A estratégia deve ser mista. Mas se as instituições decidirem apenas pela última medida, isso significaria corte de ativos de US$ 5,6 trilhões.

O aumento potencial de capital deve implicar numa redução de mais de 20% no retorno sobre o patrimônio líquido (ROE), de 11% dos últimos anos para entre 8% e 9% pelas novas regras.

Na avaliação da agência de risco, Basiléia 3 cria uma barganha para instituições financeiras, entre declínio no ROE, o que reduz sua capacidade para atrair capital, versus maior capitalização e menos riscos, o que beneficia investidores.

Para bancos que querem continuar a ter ROE entre 12% e 15%, a Fitch estima que Basiléia 3 cria incentivos para reduzir despesas ainda mais e aumentar o custo de créditos onde possível.

O relatório da agência de risco é mais pessimista do que outras avaliações até agora feitas. O Banco Internacional de Compensações (BIS), o banco dos bancos centrais, recentemente calcou que 103 grandes bancos internacionais precisariam de ? 486 bilhões adicionais, ou 1,4 vezes seus ganhos.

O sentimento comum no mercado é de que os bancos dos Estados Unidos serão mais atingidos, por causa de mais exigência de capital para atividades de risco. Bancos europeus sofrem mais pressão com a nova definição do que conta como capital, algo que alguns países insistem em tentar alterar.

O Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês) selecionou no ano passado 29 bancos como grandes demais globalmente para quebrar (G-SIFIs, no jargão bancário) e impôs exigência de capital adicional para absorver perda potencial.

Em junho, a cúpula de líderes do G-20, reunindo as maiores economias desenvolvidas e emergentes, examinará no México as primeiras propostas para enquadrar os bancos sistemicamente importantes em nível nacional, o que inclui o Brasil.

O plano agora é a entidade apresentar em abril os primeiros resultados de modalidades para definir quais são os bancos domésticos grandes demais (D-SIBs).

A ideia dominante é de o FSB estabelecer os princípios sobre o que é uma grande instituição financeira doméstica do ponto de vista sistêmico, deixando para as autoridades nacionais os detalhes para reduzir os riscos de quebra dessas instituições sobre a economia nacional.

No caso dos 29 bancos globais grandes demais para quebrar, o FSB definiu que eles terão que aumentar o seu capital em uma proporção de 1% a 2,5% de seus ativos ponderados pelo risco. Isso é complementar ao nível de capital próprio de 10,5% fixado para todos os bancos a partir de 2019.

Para os bancos domésticos, o percentual será menor do que a faixa entre 1 e 2,5%. Mas as autoridades nacionais poderão impor exigência muito maior, dependendo do tamanho do banco para a economia local.

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