Claudia Safatle
Valor Econômico | De Brasília
Em reunião ontem com os presidentes de cinco dos maiores bancos do país, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, quis tomar o pulso do mercado de crédito após o afrouxamento das medidas macroprudenciais e prospectar novas possibilidades de ação nessa área. Dos dirigentes dos bancos, o ministro ouviu algumas sugestões, sendo que a principal foi de que o governo ouse mais na redução de requerimentos de capital das instituições financeiras para fazer frente a operações de crédito.
“Estamos além do que determina Basileia 3”, lembrou um dos presentes ao encontro de ontem. “O Banco Central deu só uma folguinha”, comentou outro participante, referindo-se às medidas divulgadas no dia 25 de julho, quando o BC criou incentivos para o uso de R$ 30 bilhões em depósitos compulsório dos bancos esterilizados no BC. Diminuiu, também, o requerimento de capital dos bancos para financiamentos de veículos e para crédito consignado com prazo superior a cinco anos. Isso pode lastrear R$ 15 bilhões em novos financiamentos.
Dos banqueiros, Mantega ouviu, também, uma avaliação realista da conjuntura. As medidas anunciadas pelo BC terão algum efeito, sim, mas modesto. Não há espaço para um salto do crédito como houve no passado recente, não haverá aumentos substanciais nos financiamentos a veículos nem se repetirá um “boom” de crédito consignado. Até porque não há mais condições de um forte aumento da demanda por esses créditos de “nicho”, a não ser que haja, no futuro, um novo ciclo de substancial aumento da renda.
A compreensível preocupação do ministro com a redução da expansão do crédito para consumo e os seus efeitos sobre a atividade econômica, portanto, não deverá ter respostas rápidas.
As operações de compra de carteiras entre os bancos, uma espécie de mercado secundário de crédito, estão paralisadas. As instituições de menor porte e os bancos de montadoras não estão gerando carteiras relevantes para serem compradas pelos grandes bancos. Isso irrigava a liquidez do sistema, gerava novos créditos e foi uma das razões para o estoque de crédito na economia praticamente duplicar em relação ao PIB. O estímulo ao uso do compulsório pode dar algum fôlego a esse mercado, mas nada que alavanque de forma significativa o crédito como elemento de impulso à atividade.
Segundo avaliação de um dirigente de banco presente na reunião de ontem, “a liquidez começou a chegar nos pequenos e médios bancos” com o uso do compulsório.
Os financiamentos a compra de automóveis podem crescer, mas nada semelhante ao salto que houve nos últimos dez anos. No consignado, houve um rearranjo entre os principais participantes do mercado O último banco de menor porte que ainda se centrava na geração de crédito consignado, o BMG, fez um acordo com o Itaú Unibanco.
Também não há pressão de demanda por novas operações de financiamentos ao consumo, até porque, comentou um dos presentes, “a massa salarial cresce a taxas decrescentes”.
O fato é que entre o esgotamento do crescimento do consumo e o início do aumento dos investimentos, “ficou um ‘delay'”, observou um banqueiro. Isso justifica a preocupação de Mantega. Essa mesma fonte completou: “Para conseguir obter crescimento de forma rápida, só com a expansão do consumo, que é uma injeção na veia”.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Caffarelli, informou que na reunião dos banqueiros com Mantega cada presidente de instituição financeira fez um relato sobre os investimentos feitos, assim como a situação do crédito e do consumo. A operação de empréstimo adicional de R$ 6,5 bilhões para as empresas distribuidoras de energia elétrica será fechada hoje.
Ontem Mantega se reuniu ontem com os presidentes de Banco do Brasil (Aldemir Bendine), Bradesco (Luiz Carlos Trabuco), Itaú (Roberto Setúbal), Santander Brasil (Jesús Zabalza) e BTG Pactual (André Esteves). (Colaborou Edna Simão)