YGOR SALLES
da Folha Online
O presidente do Banco do Brasil, Antônio Francisco de Lima Neto, disse nesta quinta-feira que o banco pretende fechar 2009 com carteira de crédito imobiliário de R$ 1 bilhão, ante R$ 100 milhões registrados em 2008 (a linha começou a ser operada no final do terceiro trimestre).
Segundo o presidente, o plano é focar a liberação de crédito para a baixa renda, devido ao grande número de clientes que possui dentro das faixas de renda mais baixas.
“Dos 30 milhões de clientes [do BB], 10 milhões têm renda de até 2 salários mínimos e 18 milhões com até 3 salários mínimos”, disse Lima Neto em entrevista coletiva sobre o resultado do banco em 2008. “O banco estar presente em crédito imobiliário para baixa renda, dado esses números, é normal”, acrescentou.
Dessa forma, Lima Neto negou que o foco do crédito imobiliário na baixa renda seja uma exigência do governo federal. “Não violamos a diretriz estratégica do banco por causa disso”, disse. Segundo reportagem da Folha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria orientado o BB a atuar no segmento para auxiliar a Caixa Econômica Federal.
Ele afirmou, no entanto, que o BB vai esperar a divulgação do pacote de habitação pelo governo federal, depois do Carnaval, para estruturar melhor os créditos imobiliários para esse público.
Inicialmente, o BB tinha uma participação irrisória no setor imobiliário, que se limitava a um acordo com a Poupex (Associação de Poupança e Empréstimo), por meio do qual fazia empréstimos a clientes no Distrito Federal e para os seus próprios funcionários.
Em dezembro de 2007, deu início às contratações com a utilização de recursos próprios por meio do SFI (Sistema de Financiamento Imobiliário). A partir de junho de 2008, autorizado pelo BC (Banco Central), o BB passou a operar na modalidade de financiamento imobiliário com a utilização de recursos do SFH (Sistema Financeiro da Habitação), para clientes e não-clientes, a partir de recursos captados pela poupança. Só no ano passado, os financiamentos com esses recursos somaram R$ 30 bilhões.
O vice-presidente de relações com investidores do Banco do Brasil, Aldo Mendes, admitiu que, quando o banco lançou a linha de crédito imobiliário, o foco era média e alta renda porque, na ocasião, o banco não tinha a autorização para utilizar recursos da poupança para fazer financiamentos.
“Isso impedia completamente financiar a baixa renda”, disse Mendes. “Com a autorização, podemos realinhar o foco”.
Segundo Lima Neto, era praticamente uma obrigação do banco trabalhar com essa linha de crédito devido ao aumento do emprego e da renda no país. “A partir disso, o cliente também quer comprar uma casa, e se o banco não oferece crédito para isso, ele vai atrás de outro”, explica. “O crédito imobiliário é fundamental para a fidelização do cliente.”
Crédito
Em linhas gerais, o BB espera que a carteira de crédito cresça cerca de 17% em 2009, contra expansão 39,9% em 2008. Na divisão por público, o crescimento deve ficar entre 20% e 25% para pessoa física, e de 15% a 20% para pessoa jurídica, e de 10% para o agronegócio.
Lima Neto também disse esperar que o banco consiga manter o ritmo de crescimento na participação de mercado do BB no total do crédito disponível no país. Em 2008, a participação ficou em 17,1%, contra 16% em 2007.
Inadimplência
Apesar de o Banco do Brasil ter mantido o nível de inadimplência estável ao longo de 2008 – em 2,7 ao final de 2007 e 2,4 ao final de 2008 -, a instituição realizou um aporte de R$ 1,594 bilhão para provisão de créditos duvidosos.
Segundo Lima Neto, o banco aproveitou a receita extraordinária de R$ 5,326 bilhões, com reconhecimento de ganhos atuariais do fundo de pensão Previ, para entre outras medidas, fazer a provisão de créditos duvidosos. “Achamos por bem utilizar desse evento fazer esse colchão para enfrentar eventuais problemas não previstos”, disse o presidente do BB.
Ele disse, no entanto, não acreditar que a taxa de inadimplência terá um aumento brusco. “Temos uma outra perspectiva no Brasil para a renda. Hoje, o mercado interno tem condição de suportar a crise. Por isso, não espero forte crescimento da inadimplência”.
Lima Neto explicou que mudou o perfil da inadimplência. “Antes, o sujeito que ficava inadimplente perdia o crédito para sempre, o que não ocorre mais. Isso ao longo do tempo, minimiza o impacto da inadimplência”.