(São Paulo) Quando analisamos as razões para lucros indecentes registrados pelos bancos brasileiros – mais de R$ 28 bilhões em 2005, com previsão de crescimento significativo para 2006 – os cartões de débito e de crédito devem ser colocados em posição de destaque. As instituições financeiras cobram dos comerciantes aluguéis exorbitantes pelo uso das “maquininhas” e porcentagens não menos escandalosas sobre o faturamento mensal apurado por meio do “dinheiro de plástico”. E quem paga esta conta é sempre o consumidor.
“Não tem jeito, eu tenho que repassar esses custos para meus produtos, ou seja, quem acaba tendo que pagar mais caro são os meus clientes. Se eu não fizer isso meu negocio fica inviável”, diz José Manoel Antunes Alves, dono de um estabelecimento comercial no largo do Café, no Centro de São Paulo. Sobra revolta no comerciante quando ele fala sobre os valores que é obrigado a repassar todos os meses para os banqueiros.
O aluguel das maquininhas custa entre R$ 30 e R$ 75 por mês e a porcentagem cobrada sobre o faturamento varia de 2,5% a 5%, dependendo do contrato e do valor de cada compra. “Se meu faturamento bruto é de R$ 30.000, pelo menos R$ 1.000 ficam com o banco automaticamente. É um roubo, não é à toa que os bancos lucram o que lucram. Mas o pior é que ninguém faz nada, as pessoas não se organizam para lutar contra esse crime contra toda a sociedade”, diz.
A comerciante Vânia Vaz, dona de uma loja de roupas nas galerias internas da estação São Bento do Metrô, lembra que os clientes pedem descontos quando fazem compras com cartões de débito por imaginarem que estão pagando à vista. Mas eles não se dão conta de que ela perde pelo menos 3% da venda devido ao desconto realizado pelos bancos. “É uma roubalheira o que eles levam da gente. Se você faz uma compra de R$ 20, o dinheiro sai da sua conta na hora, mas eu só vou receber amanhã depois do expediente bancário, com 3,5% já descontados”. Ela lembra que muitos comerciantes não aceitam compras em valores baixos no débito por esta razão. “E ainda temos que pagar o pulso da ligação em cada operação”, lembra Vânia.
No dia 22 de novembro, o Ministério Público Federal determinou que os bancos parem de cobrar pela emissão de cheques de baixo valor, uma forma de forçar os clientes a utilizarem outras formas de pagamento mais lucrativas, como os cartões. Os bancos reagiram contra a decisão.
Para o presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino, esse é mais um exemplo dos abusos das instituições financeiras com o conjunto da sociedade brasileira. “É aquela velha história: só eles querem ganhar, sempre, tirando dinheiro de todos, dos comerciantes, dos consumidores e dos bancários, quando forçam a categoria a greves desgastantes para garantir um aumento digno. A luta contra os abusos dos banqueiros é uma luta de toda a sociedade brasileira”, afirmou.
Fonte: SEEB SP