(São Paulo) O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa básica de juros Selic em 0,25 ponto percentual, de 11,5% para 11,25% ao ano. Na nota à imprensa em que justifica a decisão, o Copom diz que “avaliou a conjuntura macroeconômica e considerou que o balanço de riscos para a trajetória prospectiva da inflação ainda justificaria estímulo monetário adicional”. A redução não tirou do país a vice-liderança mundial em juros reais. O Brasil tem hoje 7,3% ao ano, atrás apenas dos 9,4% da campeã Turquia, segundo dados da UpTrend Consultoria Econômica.
“A queda nos juros está lenta, mas é importante. Agora é preciso que os bancos também diminuam o spread bancário. Sem isso, o tomador de crédito na ponta não se beneficia. Várias medidas foram tomadas para criar condições para a diminuição dos juros dos bancos, como a aprovação da Lei de Falências e a redução do compulsório, além da queda da inadimplência, mas os bancos mantêm as taxas nas alturas”, afirma Vagner Freitas, presidente da Contraf-CUT.
A meta central de inflação deste ano é de 4,5 por cento, com margem de variação de 2 pontos percentuais, para cima ou para baixo. O IPCA, que baliza a meta, acumulou em 12 meses até agosto uma alta de 4,18 por cento, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira. No mercado, analistas apostam que o IPCA deve fechar o ano com alta de 3,92 por cento, de acordo com a mais recente pesquisa feita pelo BC, divulgada na segunda.
A CUT, em nota divulgada hoje, considerou que “o regime de metas da inflação, conservador como é, interfere automaticamente no ritmo de queda da taxa básica de juros”, criticando que um “aquecimento sazonal nos preços de alimentos” basta para que o BC tome “decisões tímidas – e automáticas” com essa redução. “A CUT, por sua vez”, salienta a nota, “acredita que momentos como esse diferenciam os ousados dos simplórios. Se o mercado interno aquecido, baseado inclusive na melhora da renda dos trabalhadores, é um pilar a defender a estabilidade de nossa economia, temos outro motivo para insistir na redução mais acelerada da taxa básica de juros e sinalizar que o país quer investimentos produtivos”.
Os grandes jornais divulgaram, durante a semana, previsões do mercado de redução no ritmo de queda, apontando inclusive para uma parada na próxima reunião do Copom, que ocorrerá nos dias 16 e 17 de outubro. No entanto, a unanimidade da decisão tem sido interpretada como um sinal de que o BC diminuirá novamente a Selic em 0,25% em outubro.
Apesar das críticas do setor produtivo e dos trabalhadores, o presidente Lula defendeu, em entrevista a emissoras de rádio hoje, a diminuição do ritmo de queda da Selic. “O BC vai continuar acompanhando o cumprimento da meta, acompanhando par e passo, junto com o ministro da Fazenda, a economia, para que a gente não permita que aconteça agora o que já aconteceu em outros momentos: parecia que tudo estava certo, daqui a pouco desarranja tudo”, afirmou o presidente. “A inflação quando atinge dois dígitos, ninguém segura mais. E nós não iremos permitir que a inflação saia da meta”, acrescentou.
Consumidor
Estimativa da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) prevê que as taxas de juros ao consumidor novamente serão pouco afetadas pela queda da Selic. Segundo a entidade, a taxa média cobrada de consumidores pessoas físicas, que atualmente é de 132,39% ao ano, cairia para 131,87%, enquanto o juro cobrado das empresas diminuiria de 62,15% para 61,77%, de acordo com projeção da Anefac.
A entidade também projeta como ficarão os juros com o corte na Selic por modalidade de crédito. Os juros cobrados pelo comércio, por exemplo, que hoje estão em 100,99% ao ano, cairiam para 100,54% ao ano. Os do cartão de crédito, de 223,21% para 222,51%. A Anefac ressalta, em análise divulgada ontem, que de dois anos para cá o BC reduziu a Selic em 41,77%, e a taxa média cobrada dos consumidores teve queda de 6,19% no período. O Bradesco e o banco Real anunciaram, logo após a decisão do BC, que vão cortar as taxas de juros em empréstimos.
Fonte: Contraf, com Agência Brasil e Folha On-line