Folha de São Paulo
RENATA AGOSTINI
A taxa média de juros ao consumidor subiu pelo segundo mês consecutivo em julho. No crédito livre, que exclui os financiamentos direcionados pelo governo, os juros chegaram a 27,5% ao ano, alta de 0,9 ponto percentual ante o mês anterior, informou ontem o Banco Central.
Segundo os dados do BC, os empréstimos ficaram mais custosos especialmente para as famílias em julho. Nesse segmento, a alta foi de 1,4 ponto percentual, atingindo 36,2% ao ano. Para as empresas, a taxa subiu menos (0,6 ponto) e chegou a 20%.
As altas acompanham o movimento de aumento da taxa básica (Selic), promovido pelo BC. Nesta semana, houve o quarto aumento seguido, desde abril, na Selic: subiu 0,50 ponto percentual e foi para 9% ao ano. O objetivo da medida é tentar controlar a inflação, já que o crédito mais caro desestimula o consumo.
Na categoria de recursos direcionados –que incluem os financiamentos concedidos pelo BNDES, o crédito habitacional e o rural–, a taxa permaneceu praticamente estável, alcançando 7,2% anuais.
Apesar da alta dos juros, a inadimplência média continuou em queda e chegou a 3,3% da carteira total. Trata-se do menor patamar da série histórica do BC, iniciada em março de 2011.
Tal movimento contrasta com a expansão do “spread” bancário, indicador que mede a diferença entre o custo de captação e o valor cobrado do tomador de empréstimo e que constitui a maior parte do lucro das instituições financeiras. Ele subiu 0,5 ponto percentual.
O “spread” reflete não só o custo do dinheiro para o banco mas a sua percepção de risco no empréstimo. Por isso, a taxa de calote é um importante referencial. Quando ela cai, o “spread” tende a acompanhar o movimento.
Era o que vinha acontecendo nos últimos meses.
A mudança é explicada, em parte, pela desaceleração da economia e pelo arrefecimento do mercado de trabalho.
“Temos de lembrar que, em julho, tivemos queda na confiança e isso torna tanto os tomadores como os bancos mais cautelosos”, afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
BANCOS PÚBLICOS
A preocupação com o desempenho da economia brasileira vem batendo mais forte nas instituições privadas, que têm sido mais cautelosas.
Com isso, os bancos públicos voltaram a ampliar a participação no crédito total, chegando a 50,5% do estoque em julho. Um ano antes, a participação era de 45,6%.
Em razão da maior agressividade das instituições públicas, em especial nas linhas do BNDES, o saldo total de crédito no país seguiu em expansão em julho. O aumento foi de 0,6%, levando o estoque para R$ 2,545 trilhões.