Redes sindicais defendem romper barreiras nos bancos internacionais

O tema “romper barreiras”, que empolgou o 3º Congresso Mundial da UNI Sindicato Global, ocorrido recentemente em Nagasaki, também deu o tom nesta terça-feira (14) no primeiro dia da 6ª Reunião Conjunta das Redes Sindicais de Bancos Internacionais, que começou em Buenos Aires, com a participação de dirigentes sindicais do Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Peru, Colômbia, Estados Unidos, Trinidad y Tobago, Guatemala, Costa Rica e Espanha. O encontro, que reúne bancários do Santander, BBVA, HSBC, Itaú, Banco do Brasil e bancos públicos, termina nesta quarta-feira (15) com a aprovação das resoluções.

Do Brasil, participam diretores da Contraf-CUT e de várias federações e sindicatos de bancários, como São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador, Mato Grosso e Campinas. Também estão presentes dirigentes da Contec. A reunião é coordenada pela UNI Américas e Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul, com o apoio da Associação dos Bancários da Argentina (La Bancária-CGT).

Mesa de abertura

O presidente da Contraf-CUT e da UNI Américas Finanças, Carlos Cordeiro, saudou os participantes e destacou a necessidade de continuar o tema “romper barreiras” do Congresso da UNI e apontou o cenário de crescimento econômico na América Latina. “Mas não basta crescimento, nós precisamos de desenvolvimento com crédito e distribuição de renda”, defendeu.

O diretor de La Bancária, Sérgio Palazzo, salientou a importância de sediar a reunião em Buenos Aires. Ele focou a situação dos bancários na Argentina e as precárias condições de trabalho, salientando os problemas da terceirização, sobretudo os serviços de call center, citando a existência de um banco com 400 empregados e que atua somente no telemarketing. Também chamou a atenção para os bancos internacionais e que “as crises não se resolvem com as receitas do FMI”.

O diretor de Relações Internacionais da Contraf-CUT, Ricardo Jacques, defendeu “acordos globais como instrumentos que permitem melhorar a organização dos trabalhadores para garantir direitos e avançar nas lutas”. O diretor da UNI Américas Finanças, Márcio Monzane, registrou a importância das redes sindicais para a troca de experiências e a construção de propostas para globalizar as lutas dos bancários.

Romper barreiras

O presidente da Contraf-CUT fez um balanço do Congresso da UNI. Ele destacou o respeito e o carinho do povo japonês. “Nagasaki parou para nos receber”. Para ele, “foi marcante o depoimento de uma japonesa que perdeu os seus nove irmãos na guerra, o que fortaleceu o nosso compromisso de luta contra todas as guerras, como a guerra da violência, a guerra do desemprego e guerra da exclusão e da injustiça social”.

Carlos Cordeiro ressaltou o tema “romper barreiras” e enfatizou a importância da sindicalização e da comunicação. Ele reforçou também a necessidade do crédito para o desenvolvimento. “Queremos romper barreiras à luz da nossa realidade na América Latina”. O Brasil, segundo o presidente da Contraf-CUT, “é o 9º país em crescimento, mas é o 10º pior em distribuição de renda; por isso, nós precisamos de desenvolvimento para romper barreiras”.

Ele também defendeu uma campanha contra práticas antissindicais, denunciando o uso do interdito proibitório no Brasil para tentar impedir o exercício do direito de greve e a demissão de trabalhadores do Santander nos EUA que querem fundar um sindicato de bancários.

“Romper barreiras é também combater as metas abusivas, como mostra a campanha ‘Menos metas, mais saúde’ que está sendo feita em São Paulo e em Montevideo”, disse Carlos Cordeiro, que ainda citou a aprovação da proposta de cota de 40% de gênero nas instâncias de decisão da UNI.

O presidente da UNI Américas, o chileno Raul Requeña, disse que “romper barreiras é mais que um slogan, mas uma convocação para uma ação mais contundente”. Ele resgatou os congressos da UNI em Berlim, Chicago e Nagasaki. “Cada uma das cidades possui significados importantes para os trabalhadores e a humanidade”, explicou. Ele já projetou o próximo congresso, que será realizado na Cidade do Cabo, na África, em 2014.

Requeña também destacou a resolução pela paz entre Israel e Palestina e apontou que “o principal problema hoje deixou de ser emprego, seja a criação de postos, seja a formalização, e passou a ser a segurança”. Enfatizou ainda que está havendo crescimento, mas é preciso buscar o desenvolvimento.

“Romper barreiras exige criatividade, nova forma de organização, utilização das modernas ferramentas de comunicação e mídia”, orientou o presidente da UNI Américas.

Ele ainda defendeu o fortalecimento do sindicalismo dos bancários no México, reforçou a luta por acordos marco globais com os bancos internacionais e salientou o papel do Brasil na economia e na política da América. E concluiu defendendo a consolidação da democracia, a importância de discutir as mudanças climáticas e o valor do diálogo social e da liberdade sindical.

A diretora da UNI Américas, a argentina Adriana Rosenback, também frisou a necessidade de “romper barreiras” que, para ela, “significa organizar os trabalhadores e sindicalizar”. A dirigente ressaltou a criação de um novo departamento: UNI Score. Lançado com base na UNI Grow, ele prevê campanhas estratégicas, sindicalização, investigação e educação. “O objetivo é obter o reconhecimento sindical para os trabalhadores”, explicou Adriana.

Estudo sobre sistema financeiro nas Américas

“Nós queremos dar a nossa contribuição e elaboramos uma proposta que prevê um estudo sobre o sistema financeiro e o impacto para a sociedade, buscando um processo de diálogo e negociação com os bancos”, explicou Carlos Cordeiro.

Ele citou a pesquisa do emprego bancário, feita pela Contraf-CUT e Dieese, no Brasil. Apesar da geração de quase 20 mil empregos em 2010, existe uma alta rotatividade, o que acaba provocando demissões e a redução dos salários. Chamou a atenção para as discriminações em relação à remuneração e ascensão profissional das mulheres. “Em alguns bancos, há mais mortes do que aposentadorias”, denunciou.

Dados do Ipea mostram que, na concessão do crédito, o HSBC e o Santander cobram na América Latina juros 10 vezes mais do que em Londres e Madrid. Carlos Cordeiro mostrou o crescimento da receita de tarifas, que em alguns bancos no Brasil pagam quase duas folhas de pagamento dos funcionários.

O secretário de finanças da Contraf-CUT, Roberto Von Der Osten (Betão) apresentou a proposta, que consiste num projeto para fortalecer a negociação coletiva e a proteção social. Segundo ele, “a intenção é subsidiar os sindicatos para a negociação dos direitos, promover a integração ente os sindicatos mediante intercâmbio de dirigentes sindicais para o trabalho, fazer estudos sobre os acordos e as convenções coletivas, realizar estudos das legislações dos países, efetuar trabalho de campo para conhecer os direitos sindicais e a proteção aos sindicatos, e construir uma estratégia de negociação”.

O estudo, conforme Betão, prevê quatro etapas:

1. Coleta de dados – levantar informações, fazer parcerias com universidades e promover intercâmbios entre os dirigentes sindicais;

2. Oficina de trabalho – apresentar os dados levantados e discutir um anteprojeto;

3. Seminário internacional – mostrar os resultados da oficina e debater estratégias;

4. Publicação – produzir um material didático para divulgar os resultados.

Reuniões e negociações com os bancos

Na tarde desta terça-feira, os dirigentes sindicais se reuniram por bancos, discutindo as questões específicas e construindo propostas para o próximo período, que serão apresentadas nesta quarta-feira para todos os participantes.

Também nesta quarta-feira estão previstas reuniões com representantes das direções do HSBC, Itaú, BBVA e Banco do Brasil. O Santander não marcou reunião, mas o gerente de recursos humanos de Buenos Aires agendou uma visita de cortesia.

A 6ª Reunião Conjunta será encerrada com a aprovação das resoluções dos grupos. “Esperamos definir propostas para fortalecer a luta pela globalzação dos direitos nas Américas, rompendo barreiras e ajudando a construir uma vida melhor para os trabalhadores e a sociedade”, concluiu o secretário de imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr.

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