FOLHA DE SÃO PAULO
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado espera que o Copom (Comitê de Política Monetária) anuncie hoje mais uma redução da taxa básica Selic. A confirmação dessa expectativa manterá o Brasil afastado do pico da lista dos países com os maiores juros reais do planeta – liderança perdida em abril. Mas a taxa ainda estará entre as cinco maiores do mundo.
Se a taxa Selic cair de 9,25% para 8,75%, como projeta a maioria dos analistas, o juro real brasileiro irá ficar em 4,4%. Na liderança do ranking mundial está a China, com taxa real de 7,1%, seguida por Hungria (com 5,6%), Tailândia (5,5%) e Argentina (4,9%). Uma redução mais branda na Selic (de 0,25 ponto) ou mais expressiva (de 1 ponto percentual) manterá o Brasil na mesma posição no ranking. Hoje o país já é o 5º colocado.
Para calcular os juros reais, é considerada a taxa básica da economia, descontando-se a inflação projetada para os 12 meses seguintes.
Os juros reais servem de referência para o setor privado fazer seu planejamento – taxas elevadas desestimulam investimentos futuros. Um outro reflexo do nível de juros está ligado ao capital estrangeiro, que costuma procurar os locais onde consiga equilibrar taxas mais altas com riscos menores.
“O Brasil, apesar de não estar mais no topo, ainda ocupa uma posição favorável. Quem está na frente do país no ranking, como China e Argentina, não oferece a mesma segurança e mobilidade ao capital estrangeiro”, avalia Jason Freitas Vieira, economista-chefe da UpTrend Consultoria Econômica, que elaborou o ranking.
Os 40 países que figuram no ranking registram uma taxa média de 1% ao ano, bem abaixo do nível brasileiro.
Em comparação com outras economias de peso na América Latina, o Brasil mantém uma grande distância -com exceção da Argentina. Tanto o México quanto o Chile apresentam taxas reais negativas, de -1,2% e -1,4%, respectivamente. O que faz isso ocorrer é o fato de os países projetarem inflações maiores que suas taxas básicas de juros.
Se forem considerados os Brics -grupo de emergentes formado por Brasil, China, Índia e Rússia-, os juros do país também se destacam. Fora a líder China, Rússia e Índia trabalham com taxa real negativa. Na Rússia, o juro real é de -0,8%, e na Índia, de -5%.
Isso significa que para o investidor estrangeiro ainda é difícil encontrar um país economicamente parecido com o Brasil e com juros reais nos níveis adotados por aqui.
“Em relação ao resto do mundo, o Brasil ainda tem juros reais muito elevados”, afirma Francisco Pessoa, economista da consultoria LCA.
Piso
O Copom -formado pelos diretores e pelo presidente do Banco Central- define hoje como fica a taxa básica Selic.
Se a Selic for reduzida de 9,25% para 8,75%, como espera a maioria do mercado, a taxa estará provavelmente em seu piso. Segundo a última pesquisa Focus, realizada pelo BC com cem instituições financeiras, a Selic deve estar em 8,75% no fim de 2009. Desde janeiro, a taxa básica já foi cortada em 4,5 pontos percentuais -iniciou o ano a 13,75%.
“Espero por uma redução de 0,5 ponto na Selic amanhã [hoje]. E penso que esse poderá ser o último corte do ano. Após tantas reduções, o BC deve querer esperar para ver os efeitos na economia”, afirma Pessoa.