Bombeiros de dois estados vão reforçar operações de busca em Mariana

Homens do Corpo de Bombeiros do Espírito Santo e de Santa Catarina vão reforçar as operações de busca e resgate no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG). O local foi atingido pelo rompimento de duas barragens de resíduos da mineradora Samarco na última quinta-feira (5).

A equipe do Espírito Santo deslocada para o local é composta por três militares e três cães, enquanto a de Santa Catarina é formada por dois militares e dois cães. Um cão do Batalhão de Emergências Ambientais e Resposta a Desastres de Belo Horizonte (MG) já estava atuando no distrito desde o início das operações.

De acordo com o último boletim do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, 24 pessoas continuam desaparecidas desde o dia da tragédia, sendo 11 funcionários que prestavam serviço para a empresa e 13 moradores da região. Até o momento, três mortes foram confirmadas.

Sobreviventes falam do futuro e querem reerguer comunidade

Praticamente todos os moradores do distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), que sobreviveram ao rompimento de duas barragens na semana passada estão hospedados em hotéis e pousadas do município. A maior parte deles pode ser vista do lado de fora dos estabelecimentos, sentada nas calçadas, conversando na rua e tentando manter os costumes.

No centro movimentado de Mariana, quando conversam com a imprensa, eles deixam claro que pouco sabem sobre o futuro, já que a maioria perdeu tudo – casa, carro, móveis, documentos, fotos, memórias. Mas há uma unanimidade na fala de todos os que foram ouvidos pela equipe de reportagem da Agência Brasil: querem reerguer a comunidade num cantinho só deles, como um dia foi o distrito carinhosamente chamado de Bento.

"A saudade é demais. É o que mais incomoda a gente. Não ter pra onde voltar é muito ruim", desabafou a dona de casa Edna Aparecida Euzébio, 34 anos. Ela, o marido e três filhas moravam numa casa de três quartos no povoado, que foi arrasado pela lama e pelo barro. A família costumava ir até Mariana apenas para pagar contas e cumprir um compromisso ou outro, nada mais.

"Lá era tranquilo demais. A gente dormia com as portas abertas, papeava na porta de casa, jogava truco até mais tarde. Não foi só a casa que perdemos. Perdemos toda uma vida, a nossa história, os nossos costumes. E agora queremos um lar, não um quarto de hotel."

Sem conseguir evitar de ouvir a conversa, o encarregado José Luiz da Silva, de 44 anos, concorda com tudo o que a dona de casa diz. Depois da tragédia, ele sequer tentou buscar o que poderia ter sobrado de suas coisas em Bento Rodrigues, porque viu pela televisão que só a estrutura da casa permaneceu de pé.

"Não tenho vontade de voltar lá não, mas tenho uma saudade danada de casa. É uma mistura de emoções muito fortes. Do tipo quero voltar, mas não quero", disse, numa tentativa de explicar o que sente. José destacou ainda o medo, compartilhado por muitos da comunidade, em relação à barragem de Germano, da mesma mineradora, que permanece cheia.

"Há mais coisa lá em cima. E se essa barragem também se romper? Não quero voltar pra lá. Quero uma vida nova, num lugar diferente, mas fora do centro urbano. Já viajei muito, já fiquei em muito hotel, mas meu lugar não é aqui nessa pousada. É lá. Era lá. Agora não sei mais."

O servente Paulo Madalena Fernandes, 56 anos, morava sozinho em uma casa de quatro quartos em Bento Rodrigues. A casa era da mãe dele, repleta de lembranças e memórias que não vão ser mais recuperadas. Quando as duas barragens de romperam, Paulo estava em casa. Correu como nunca. Passou a noite na mata até que foi resgatado e levado para uma pousada da cidade.

"Dentro de hotel, não aguento ficar. Venho sentar aqui fora, papear. Perdemos muita memória e muita lembrança e isso ninguém consegue dar de volta. É por isso que queremos uma nova vila, longe da cidade, como era antes. Só assim pra conseguir recomeçar a vida."

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