De olho nas vendas de fim de ano, o comerciante Antônio José de Souza, 52, pensava em como incrementar a linha de produtos oferecida por seu bazar quando recebeu a visita de um agente de microcrédito na loja.
Fechou um empréstimo de R$ 5.500 sem ter que sair da loja. Três dias depois, o dinheiro estava em sua conta.
“Foi tudo fácil e rápido. Estou pensando em pegar mais um empréstimo”, afirma o comerciante. Ele utilizou os recursos para obter equipamentos e acessórios para telefones celulares que são vendidos em sua loja.
Ele é um dos empreendedores do Complexo do Alemão que desde setembro têm acesso a microcrédito facilitado por bancos públicos.
Souza fechou acordo com a Caixa Econômica Federal, que já liberou 97 empréstimos desse tipo no Alemão.
O conjunto de favelas da zona norte do Rio apresenta o melhor resultado entre as 21 comunidades do Brasil contempladas pelo programa de microcrédito do banco.
As favelas do Rio representam 22% do total da população do Estado, segundo dados do Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Formam um mercado praticamente inexplorado pelos bancos, que começaram a oferecer serviços nessas comunidades a partir da entrada das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), em 2008.
A estratégia da Caixa na favelas pacificadas é ir ao encontro desses clientes.
Para isso, jovens com idades de 18 a 22 anos circulam diariamente captando empreendedores, formalizados ou não. O dinheiro pode ser investido em melhorias ou na compra de equipamentos.
“São todos moradores da comunidade. Conhecem os empreendedores e mapeiam suas necessidades”, afirma Bruno Fraga, supervisor do programa de microcrédito da Caixa no Alemão.
Outro crédito concedido pela Caixa foi para o comerciante Francisco Eraldo da Silva, 39. Ele pegou R$ 3.500 para a compra de um forno, de material e de um letreiro para sua pizzaria.
O Banco do Brasil adota estratégia menos agressiva: os agentes não vão de porta em porta, atrás dos clientes.
O BB conta com três agências em favelas do Rio, todas abertas em 2011 -Alemão, Cidade de Deus e Rocinha.
Em 90 dias de operação, foram liberados 330 empréstimos, que somam R$ 1,030 milhão, segundo o superintendente do banco no Rio, Tarcisio Hubner.
As condições da Caixa e do BB são semelhantes. O crédito tem teto de R$ 15 mil, para empresas com faturamento de até R$ 120 mil anuais.
O empréstimo pode ser quitado em até 24 meses, mediante juros de 0,64% ao mês. Em média, os empréstimos variam de R$ 2.000 a R$ 4.500.
Bancos estimam explosão da modalidade
As perspectivas de expansão de microcrédito nas favelas são bastante favoráveis. O Banco do Brasil, por exemplo, estima um crescimento de 300% nesse tipo de operação em 2012. “Temos muitas operações em análise, prestes a serem aprovadas”, diz o superintendente do banco no Rio, Tarcisio Hubner.
Os bancos planejam abrir agências e fazer trabalhos semelhantes nas demais comunidades que contam com UPPs. Atualmente, 18 estão ocupadas pela polícia.
A Caixa já tem 40 mil pontos comerciais identificados e contatados em todo o Brasil. O chamado microcrédito produtivo orientado será o principal produto, na linha de pequenos empréstimos, nos próximos anos.
Atualmente, representa 20% do total de crédito de pequeno porte. Os 80% restantes são para o microcrédito para consumo, que engloba cheque especial e empréstimos para pessoa física. A meta do banco é que essa relação se inverta, já em 2013.
A Caixa privilegia beneficiários do Bolsa Família na escolha dos jovens que atuam nas comunidades oferecendo microcrédito.
No Alemão, são 20 jovens de 18 a 22 anos, cujo salário é de R$ 810 mensais. Eles fecham contrato de dois anos. É obrigatório estar cursando ou ter o 2º grau completo.
“Era beneficiária do Bolsa Família, e a Caixa me ligou oferecendo essa oportunidade. Está sendo ótimo, e quero continuar nessa área”, afirma Michelle Barros da Costa, 21, uma das agentes.