ÁLVARO FAGUNDES
FOLHA DE S.PAULO
Os correntistas espanhóis fizeram no mês passado a maior retirada de dinheiro dos bancos em mais de dois anos, em mais um alarme sobre a situação das instituições financeiras europeias.
Em um cenário que une ainda a queda aguda das ações dos bancos em Bolsa e o rebaixamento das suas notas pelas agências de avaliação de risco, o grande temor é que a Europa possa ver algo parecido com a quebra do Lehman Brothers, em 2008.
Naquele período, diversos bancos tiveram que ser socorridos pelo dinheiro público para impedir a quebra – o que explica parte dos problemas hoje nas contas dos governos.
Agora, o temor é que haja uma corrida para retiradas dos bancos, e a dúvida é se os governos vão ter capacidade para ajudar as instituições e acalmar a situação.
O cenário é muito volátil neste momento, diz Nicolas Véron, analista do instituto Bruegel, de Bruxelas. Muito depende da eleição grega do mês que vem, explica.
A maioria das pesquisas aponta o Nova Democracia, partido pró-Europa, à frente, mas levantamento divulgado ontem mostrou a liderança do Syriza, que é contra as medidas de austeridade impostas no resgate do país.
Uma saída da Grécia da zona do euro vai ter efeitos sobre toda a região, e a Itália e a Espanha (terceira e quarta maiores economias do bloco) estão entre as mais expostas.
“Se houver uma corrida aos bancos na Grécia, então as chances de isso ocorrer em outros lugares cresce muito, especialmente na Espanha, onde os bancos estão mais expostos devido ao colapso da bolha imobiliária”, afirma Stephen Davies, diretor do Instituto de Assuntos Econômicos, de Londres.
Segundo dados divulgados ontem, os espanhóis tiraram 32 bilhões de euros das suas contas em abril, dado que chama mais a atenção porque a crise do Bankia (que foi nacionalizado) só foi ocorrer em maio – a instituição financeira sofreu nas últimas semanas com rumores de grandes retiradas pelos correntistas.
Para Davies, porém, países como Alemanha, França, Bélgica e Holanda não deverão ter uma saída abrupta de depósitos, a não ser que ocorra um “enorme colapso desordenado do euro”.
O Bankia e a sua nacionalização são o exemplo usado por Véron para afirmar que os governos ainda têm capacidade de ajudar o setor.
Davies, porém, é menos otimista. Para o especialista, a região pode, sim, viver um “novo Lehman Brothers”, e isso vai depender das ações dos governos e das expectativas dos mercados.
“Se a expectativa for baixa, então mesmo a falta de ação não terá muito efeito, porque os mercados já estarão contando com isso”, diz.
“Porém eu tenho que dizer que investidores parecem ter uma confiança infantil nos políticos. Então, não acho que o risco esteja bem avaliado neste momento.”
Além de agravar a recessão no continente, a crise nos bancos europeus certamente terá efeitos globais. As instituições da zona do euro emprestam ? 6 trilhões ao resto do mundo, ou o dobro do valor financiado pelas dos EUA, diz o “Wall Street Journal”.
Mais: a Europa foi responsável por 38% das importações globais em 2011.