Agência Estado: bancos dão prêmio em fundo de taxa alta

Brasileiro adora sorteios, mesmo que o custo para deles participar seja alto. No mundo dos investimentos, a máxima é adaptada para os produtos financeiros, como no caso dos fundos que embutem a distribuição de prêmios – alternativa de aplicação usualmente descartada pelos consultores financeiros.

“Uma coisa é participar de um jogo de azar, outra coisa é buscar uma modalidade de investimento que proteja o poder de compra do dinheiro”, afirma o economista Marcos Silvestre, coordenador do Centro de Estudos de Finanças Pessoais e Empreendedorismo (Cefipe).

A mais nova investida foi do Banco do Brasil, que adaptou um dos seus fundos conservadores mais populares – o BB Renda Fixa LP 100 – para ser uma “carteira premiada”. Uma promoção, que vai durar um ano, distribuirá 30 prêmios mensais de R$ 1,5 mil, um prêmio mensal de R$ 25 mil e um prêmio trimestral de R$ 100 mil para quem mantiver o saldo médio mensal acima de R$ 250.

“É um produto de varejo, acessível ao pequeno investidor porque tem aplicação inicial de R$ 100, com rentabilidade e liquidez diárias e com o apelo da premiação”, explica o diretor executivo da BB DTVM, Carlos Massaru Takahashi.

O fundo premiado do Banco do Brasil teve a taxa de administração reduzida de 5,5% ao ano para 4% anuais há alguns meses, mas ainda é o fundo conservador de varejo com o custo mais alto da instituição. Esta característica, aliás, é comum aos fundos que embutem sorteios.

Afinal, parte dos valores arrecadados pelos bancos com a taxa de administração é transformada nos prêmios. Em conseqüência, a rentabilidade destes fundos é muitas vezes bem inferior à da boa e velha poupança.

Enquanto a taxa do Certificado de Depósito Interbancário (CDI, principal referência de rentabilidade para os investimentos de renda fixa) acumulava retorno de 7,45% no ano (até dia 23) e a poupança, de 5,15%, o fundo BB Renda Fixa LP 100 rendia 3,93% no mesmo período, de acordo com as informações compiladas pelo site financeiro Fortuna (www.fortuna.com.br).

Rifa cara

No Hiperfundo, do Bradesco, a taxa de administração é de 4,5% ao ano e a rentabilidade acumulada em 2009 está em 4,49%. “É um produto voltado à classe popular, mas para nossa surpresa a procura é grande também pelos clientes de alta renda”, explica o diretor de investimentos do Bradesco, Marcos Villanova. “Temos este fundo na rede como um complemento para o investidor.”

Neste ano, o Hiperfundo está sorteando sete carros e uma casa por semana, além de outros prêmios menores e de prêmios especiais no fim do ano. Desde que foi criado, em agosto de 2003, mais de 2,5 mil carros já foram sorteados.

Com um patrimônio de R$ 4,3 bilhões, o Hiperfundo tem atualmente 295 mil cotistas. No Banco do Brasil, a promoção também fez efeito no tamanho do fundo. Sem nenhuma ação de marketing iniciada até agora, apenas com a exibição da promoção no site da instituição, o BB Renda Fixa LP 100 viu seu número de cotistas aumentar 28% em 23 dias, para 8,3 mil, e o patrimônio saltar 26%, para R$ 35,6 milhões.

No Itaú, uma investida parecida surtiu efeito no começo. Os fundos Itaú Prêmio Renda Fixa e Itaú Prêmio DI – que cobram taxa de administração de 4% ao ano – foram alvo de uma promoção semelhante à do Banco do Brasil no ano passado.

Entre março de 2008 e janeiro deste ano, quem tivesse saldo médio líquido superior a R$ 1 mil ganhava cupons para participar do sorteio de dez casas, um prêmio quinzenal de R$ 24 mil, quatro de R$ 2 mil e 150 pen-drives. No terceiro mês da promoção, os dois fundos juntos tiveram depósitos líquidos de R$ 1,5 bilhão, mas logo voltaram a registrar resgates. Tanto é que o saldo final do período da promoção foi uma captação de R$ 105,5 milhões no Itaú Prêmio Renda Fixa e um total de resgates de R$ 866,3 mil no Itaú Prêmio DI. Neste ano, os fundos têm rentabilidade acumulada, respectivamente, de 5,14% e 4,70%.

“Quem está pensando em ter uma boa alternativa de rentabilidade e liquidez sempre encontrará uma opção melhor que os fundos premiados”, diz o economista Silvestre. “O retorno destes fundos deve empatar com a inflação e a probabilidade de ganhar os prêmios é baixa. Em resumo, o investidor compra uma rifa cara.”

A analista de sistemas Fernanda Yamata, de 25 anos, logo percebeu que a taxa de administração de um fundo com sorteios em que resolveu investir era alta demais. “Eu não entendia muito de investimentos e a pessoa que me atendeu fez a maior propaganda do fundo. Além disso, o valor baixo da aplicação também me chamou a atenção e influenciou na minha decisão”, conta. “Vi que a carteira consistia basicamente de títulos do governo, e na época eu já investia em títulos por conta própria, pagando 0,6% ao ano. Então porque ficar no fundo pagando 4% ao ano de taxa de administração?”

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