Valor: Banco do Brasil prepara expansão na Argentina

Valor Econômico
Sérgio Leo, de Brasília

Satisfeito com os bons resultados do Banco do Brasil mesmo após a redução das taxas de risco cobradas nos empréstimos, o Ministério da Fazenda agora prepara uma outra tarefa para o banco que, acreditam os técnicos, poderá juntar prioridades políticas do governo com bons negócios para a instituição. O governo pretende estimular a expansão de bancos e seguradoras brasileiras na América do Sul, especialmente na Argentina, e já discute com a direção do Banco do Brasil um forte aumento da presença do banco no país vizinho. Os dirigentes do banco já preparam estudos para a expansão.

O alvo do governo são as contas de pessoas físicas para brasileiros no exterior e as empresas brasileiras que tem expandido a atuação para o exterior. Nos últimos doze meses, só como reflexo da crise, os ativos do Banco do Brasil nos Estados Unidos saltaram de R$ 400 milhões para R$ 4 bilhões, com a migração de contas de outros bancos para a instituição brasileira, considerada mais sólida e confiável. O Ministério da Fazenda já fez contatos com as autoridades americanas para mudar o status do banco, hoje impedido de operar como banco comercial, para uma “finantial holding company”.

O êxito das operações em Nova York serve de estímulo para incentivar a expansão na América do Sul, acreditam os especialistas no Ministério da Fazenda.

Não se planeja um salto tão grande quanto houve nos Estados Unidos, para os ativos do Banco do Brasil na Argentina e em outros países sul-americanos, como Chile, Colômbia ou Peru. Mas o termo usado para definir a futura atuação do BB na Argentina é “mudança de patamar”, uma provisão de fontes de financiamento e aumento de funcionários que certamente permitirá à instituição mais que triplicar de tamanho no país vizinho. O banco tem, na Argentina, ativos em torno de R$ 350 milhões e há demanda para sua expansão, por parte de empresas privadas brasileiras que se instalaram lá.

O governo acredita que há espaço para aquisição de bancos privados na América Latina, aproveitando o interesse de instituições estrangeiras que vêm se retirando da região. Na avaliação do governo, o banco deve ser apenas um pioneiro no percurso que a equipe do ministro da Fazenda, Guido Mantega, gostaria de ver seguido também por bancos privados.

Nos EUA, uma das intenções do Banco do Brasil é atrair os depósitos da comunidade brasileira no país, onde, num universo de quase 1,3 milhão de brasileiros, menos de 10 mil mantêm depósitos no banco. Na Argentina, a existência de cerca de 200 empresas brasileiras, em distintos ramos de atividades, com investimentos em torno de US$ 8 bilhões, incentiva planos de fornecer a essas firmas serviços bancários, como crédito e a administração de folhas de pagamento.

Já houve conversas entre autoridades brasileiras e argentinas sobre os planos do governo para o BB e, pelos relatos levados a Brasília, o governo Cristina Kirchner foi receptivo às propostas de expansão do Banco do Brasil e outros bancos brasileiros no país. Há pontos nas negociações ainda a serem resolvidos, como a exigência normativa argentina de que o processamento de dados das operações dos bancos seja realizado em território argentino por instalações locais.

Além do aumento dos investimentos no exterior e da facilidade para apoio a exportações, o governo vê na inciativa uma forma de ampliar a esfera de influência do real como moeda nas transações regionais. O risco dessas operações, segundo seus defensores, é minimizado pelo fato de que a maioria dos bancos, ao operar em grande medida com empresas de sede no Brasil, trabalhará com clientes de cadastro e histórico conhecidos.

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