Banco do Brasil prepara plano para conter prejuízo de ações trabalhistas

No momento em que busca se adequar aos cortes dos juros e acaba de desembolsar R$ 1 bilhão para capitalizar o Banco Votorantim, o Banco do Brasil enfrenta um outro problema que ameaça a sua rentabilidade. De acordo com fontes da instituição ouvidas pelo jornal O Globo, o principal desafio do BB atualmente está na Justiça do Trabalho. Preocupado com o custo de uma avalanche de ações trabalhistas, o banco tem freado gastos e investimentos e prepara um pacote de medidas para evitar que processos se acumulem e criem um rombo na instituição.

Na última mesa de negociação realizada em 10 de julho com a Contraf-CUT, federações e sindicatos, o BB surpreendeu a representação dos trabalhadores ao afirmar que não discutirá a jornada de 6 horas para todos os comissionados sem redução de salários.

“O BB faz de conta que jornada de bancário não é lei que deve ser cumprida. O banco segue considerando que seus normativos internos são maiores que a CLT e a Constituição Federal. A Contraf-CUT e suas entidades filiadas esperam que a direção do banco mude de ideia rapidamente e negocie a jornada legal com a representação dos trabalhadores nesta Campanha Nacional 2012”, afirma William Mendes, coordenador da Comissão de Empresa dos Funcionários do BB e secretário de formação da Contraf-CUT.

A preocupação cresceu com a previsão da cúpula do banco de que os resultados financeiros vão piorar a partir do último trimestre, porque os correntistas estão quitando os empréstimos mais caros e só os mais baratos continuarão na carteira.

O foco da aflição da direção do BB é a ação dos bancários que trabalham em cargos administrativos nas sedes da instituição. Eles são sindicalizados, como os funcionários que ficam nas agências bancárias. Só que, ao contrário dos que atendem ao público, quem trabalha na direção-geral não tem carga horária de seis horas. A ação é conhecida como 7 e 8 horas. E os funcionários que ganharam na Justiça conseguiram o reconhecimento dessa parte da jornada como horas extras.

Por causa dessa contenda judicial, o BB está segurando investimentos para fazer caixa. Os gastos que podem ser adiados estão sendo, porque o pessoal sabe que isso vai estourar neste ano – disse uma fonte ligada à instituição sob condição de anonimato.

Antigamente, apenas funcionários que se aposentavam entravam com o pedido de horas extras. No entanto, desde o início deste ano, vários bancários da ativa começaram a recorrer à Justiça para receber as duas horas diárias a mais. Isso fez aumentar a preocupação com o tamanho da fatura e também a previsão dessa despesa na contabilidade da instituição.

De acordo com fontes, a apreensão maior do BB é em relação às ações trabalhistas na Justiça de Brasília. A adesão ao grupo de funcionários que entram na disputa tem aumentado nos últimos meses. E na capital federal os juízes têm determinado que os bancários recebam a diferença de horas relativa ao trabalho dos últimos dez anos e não dos cinco anos anteriores, como é de costume.

Por causa desse aumento exponencial dos processos, o BB está prestes a concluir um plano com reforço em algumas áreas, realocação de pessoal e uma divisão de trabalho que faça com que os bancários da área administrativa trabalhem no máximo seis horas.

Indagado sobre o assunto, o Banco do Brasil respondeu, por meio da assessoria de imprensa, que “a sétima e oitava horas são discutidas no âmbito de todo o sistema financeiro. O BB faz provisões conforme metodologias adequadas às diversas demandas judiciais e, no caso específico, o Judiciário tem se pronunciado favoravelmente ao banco, em alguns estados. O Banco do Brasil avalia internamente medidas sobre a sétima e oitava horas que possibilitem a condução do tema de acordo com a necessidade da empresa e dos funcionários.”

Com a escalada dos processos na Justiça, o Banco do Brasil aparece em segundo lugar no ranking de empresas com maior número de ações trabalhistas. A lista do Tribunal Superior do Trabalho (TST) com cem empresas já condenadas pela Justiça a pagar indenização por violar direitos dos empregados foi divulgada há duas semanas. O BB ficou em segundo lugar, com 2.472 processos.

A relação foi elaborada a partir do Banco Nacional de Devedores Trabalhistas, criado por lei ano passado, e será divulgada pelo TST anualmente como desestímulo aos devedores.

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