O assessor de movimentos sociais e escritor Frei Betto relatou à Rádio Brasil Atual nesta segunda-feira (2) o encontro que teve com Fidel Castro na residência do ex-presidente cubano, na semana passada. “Achei que estava muito bem de saúde, inteiramente lúcido, apesar de mais magro e com a voz mais frágil do que o normal.”
Frei Betto foi convidado pelo Ministério da Educação de Cuba para participar como palestrante do Congresso Mundial de Pedagogia, realizado em Havana. Proferiu outras duas palestras a convite da Embaixada Brasileira, uma delas em comemoração à recém-criada Cátedra Brasil, no Instituto Superior de Artes.
Este ano, comemoram-se os 30 anos da publicação de uma das obras mais importantes de Frei Betto, Fidel e a Religião, esgotado no Brasil, que colaborou para a abertura religiosa na ilha, culminando com a visita dos papas João Paulo II e Bento XVI.
No encontro, Fidel expressou otimismo em relação ao processo de reaproximação com os Estados Unidos. Para o escritor, é o reconhecimento do fracasso da estratégia norte-americana e do bloqueio “criminoso, que viola todas as leis e tratados internacionais”.
“Considero que é uma derrota tão grave para os Estados Unidos, do ponto de vista virtual, quanto a derrota real imposta pelos vietnamitas, quando venceram a guerra do Vietnã”, ressalta Frei Betto.
O assessor de movimentos sociais conta que, para Fidel, os Estados Unidos ainda são considerados inimigos, mas que “o caminho da paz pressupõe o diálogo”. O cubano afirmou ser insuficiente o reatamento formal das relações diplomáticas e quer o fim do bloqueio, a devolução do território de Guantánamo e que as companhias aéreas possam operar voos regulares entre Cuba e os EUA, o que deve desencadear um ‘boom’ do turismo, na Ilha.
Com o reatamento, Frei Betto prevê um choque, com impactos importantes, da cultura consumista dos EUA com o modelo de vida austero cubano, “muito digna, porque não há miséria, mas também não há luxo”.
Em “uma conversa fraterna sobre a conjuntura mundial”, manifestou entusiasmo sobre a reação às políticas de austeridade, de molde neoliberal, que culminou com a vitória do partido de esquerda Syriza, na Grécia, e, ainda neste ano, deve levar o coirmão Podemos ao poder, na Espanha.
Fidel mostrou preocupação com a degradação ambiental e a ameaça de recrudescimento da Guerra Fria, no conflito que envolve Rússia e Ucrânia, apoiada pelos Estados Unidos e aliados.